19 de setembro de 2010

Livros escolares do passado

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Mais uma vez voltei a este antigo livro escolar. Destinava-se à então designada por 2ª classe do ensino primário e este exemplar é a 6ª edição, publicada em 1958. Pareceu-me curioso o facto de, para além de livro de leitura, integrar páginas de catecismo e, no final, uma parte dedicada à aritmética. Quem se não lembra (isto já na 4ª classe) daqueles terríveis problemas com torneiras a pingar dentro de tanques? Para quê tanto desperdício de água? Ao olhar para a avó na gravura, veio ainda à memória os véus que as senhoras tinham de usar ao entrar na igreja, dado ser considerado inapropriado o andarem de cabeça descoberta. E isto trouxe-me ainda lembranças de um passado, não tão distante assim, em que as meninas não podiam usar calças compridas, moda considerada pouco apropriada (dizia-se) ao sexo feminino.

4 comentários:

Santa Nostalgia disse...

Teresa, é um belo livro.
Quanto aos inapropriados ou pouco apropriados, também é verdade. No fundo todos os tempos tiveram as suas coisas inapropriadas ou pouco apropriadas. Hoje seria completamente inapropriado andar com as golas do tempo da Restauração, ou com as enormes saias rodadas, espartilhos e perucas do séc. XVII.
As coisas evoluiram naturalmente com o decorrer dos tempos, das modas e mentalidades. Umas evoluiram num bom e natural sentido outras nem por isso.
Uma coisa que noutros tempos sempre foi apropriado, foi o sentido do decoro, do respeito e boa educação. Hoje são valores que andam apropriadamente pelas ruas da amargura. Como costumo dizer, são os sinais dos tempos e nem tudo mudou para melhor, o que de resto também é natural.

O que não é muito apropriado em certos sectores é continuar a conotar-se com desdém as coisas que marcaram um tempo próprio como se ele tivesse sido refém ou conivente com um determinado sistema. No fundo é como se fossêmos obrigados a uma postura politicamente correcta de maldizer um grande período da nossa história. Não nos podemos demitir desses tempos porque foram os tempos de muitas pessoas de diferentes idades e gerações, e nós, tanto quanto possível, devemos respeitar o nosso passado e muitas das coisas boas que a ele nos ligam.

Ainda quanto ao livro da segunda classe, é preciso que se diga que muita da matéria ali existente, hoje em dia só se aprende lá pela quarta classe. Mas isso também não é preocupação que interesse à sociedade actual já que importa que se ocupem as crianças ou jovens na escola para lá da maioridade e o interesse do sucesso escolar é continuar a formar burros. Só à luz desta política se compreende que entrem na faculdade alunos com notas negativas. Mas pronto, o desemprego nestas coisas é democrático e está sempre disposto a abrir os seus longos braços aos milhares de licenciados. Pelo menos teremos esse orgulho de ter uma enorme comunidade desempregada mas qualificada.

teresa disse...

Comentário interessante, Santa Nostalgia. É claro que seria inapropriado o vestuário de outras épocas para os dias de hoje. Também concordo com algumas das questões apontadas sobre educação, aliás, pareceu-me interessante há um mês o comentário de uma amiga moçambicana para outra grande amiga prestes a deslocar-se para o referido país como professora, algo como: «vais ficar bem impressionada com a educação das pessoas»... o que mudou entretanto por cá? Seria certamente uma questão que daria origem a uma longa dissertação...
Quanto a entrar na universidade com médias negativas, os professores de Física (mero exemplo) teriam muito a reclamar, já que fiquei a saber que, na actualidade, os alunos entram para o dito curso sem terem aprendido no ensino secundário o princípio de Arquimedes... um pequeno exemplo, embora seja por princípio positiva e acredito que aprendem outras coisas hoje importantes... (matéria para outro tratado cujo tema deveria ser desenvolvido com o respeito e a importância merecidas).
Bolonha também seria incluída no saco, mas também é perniciosa a tese de que temos muito licenciados, dado ainda nos encontrarmos na cauda da Europa... e as considerações foram apresentadas aleatoriamente e sem tomada de partido, não por comodismo, mas por serem assuntos tão sérios que sem o devido aprofundamento se corre o risco de se ser inconsequente.
Gostando de olhar os problemas dos diversos ângulos, concluo que para uma pessoa da área das Humanidades e que estudou grande parte durante o Estado Novo, também se afigura algo inútil ter aprendido tanta coisa sobre óptica e lentes côncavas e convexas...

Santa Nostalgia disse...

..Teresa, concordo no essencial.
Quanto às côncavas e convexas, quem sabe se não dará jeito numa fábrica de lentes, de lupas ou de óculos.
Mas, pegando no assunto, e logo hoje em que acabei de comprar uma calculadora científica para o meu filho que vai para o 8º, numa plena era de informática, tecnologias e Magalhães em idade de berço, quase soa a "encher chouriços" o aprender matéria maçuda e fórmulas complexas quando, afinal tudo está ao alcance de duas ou três teclas e um enter e até por isso se compreende que quase já ninguém saiba a tabuada e ainda use os dedos para fazer contas elementares.
Bem, sei, ...entre aqui a tal história de se perceber as coisas, as fundações, os alicerces, os fundamentos. Todavia, no meu curso de topografia, fartei-me de aplicar fórmulas e equações trigonométricas para determinar coordenadas, e outras coisas igualmente (des)interessantes mas que na prática, no dia-a-dia, qualquer programazeco num qualquer computadorzeco resolve por mim e em breves segundos.
Na minha empresa passam em estágio diversos engenheiros civis e electrotécnicos e dá pena sentir neles o ar de alguém que entre na escola pela primeira vez. Isto para dizer que muitos dos actuais cursos, licenciamentos e doutoramentos não passam de uma bagagem burocrática e corporativista porque no essencial, a verdadeira aprendizagem será na escola da vida, no dia-a-dia, no terreno, do trabalho, nas empresas e os verdadeiros mestres e professores serão os colegas.
Se calhar no futuro o Ensino destas disciplinas passará não por as compreender e assimilar mas por se aprender a trabalhar com as máquinas que calculam e resolvem as matérias. Digo eu, se calhar exageradamente.

teresa disse...

... e se calhar não o diz tão exageradamente, pois a "ginástica mental" nunca fez mal a ninguém, pelo contrário, penso que só trará vantagens (opinião pessoal e, como tal, subjectiva, mas penso que nem tanto...). Carregando na "mesma tecla" (já que refere a calculadora, reportemo-nos a esse léxico), há coisas que não deveriam ter desaparecido embora, por outro lado, não devemos relegar para o esquecimento as toneladas de informação desnecessária a que muitos terão sido sujeitos (incluo-me no rol, embora parte dos estudos já tivessem ocorrido no pós-74). Há que separar o trigo do joio, ou seja, nem tudo terá sido mau (seria uma visão demasiado simplista), o que não significa que tudo terá sido útil e primordial. Sabendo que me repito por aqui, lembro uma professora de origem cabo-verdiana há muito no nosso país que ficava perplexa sempre que, no seu arquipélago de origem, tinha nas orientações programáticas o tema "vindimas", nunca tendo os seus alunos da escola primária visto um cacho de uvas na vida. Importante como cultura geral? Talvez, mas provavelmente não na tenra infância...