26 de junho de 2010

A Tele Escola

Image and video hosting by TinyPic

O programa de dia 22 de Junho de 1968.

19 comentários:

Miguel Gil disse...

Onde está quem diz que o ensino em Portugal está cada vez pior? Onde estão os que afirmam "No meu tempo aprendiamos muito mais"! "Os professores antigamente ensinavam, agora é o que se vê"!
Grandes disparates!
A tele-escola é um bom exemplo do que tinha que haver e do que agora não há necessidade de haver.
Portugal está melhor!

José Quintela Soares disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Quintela Soares disse...

Caro Miguel Gil

Está a falar a sério...ou apenas a ironizar?

Tranquilize-me!

Miguel Gil disse...

As duas coisas.
Refere-se a Portugal está melhor ou quanto a termos ultrapassado a necessidade de haver telescola ou quando aos disparates que se dizem sobre a falta de qualidade do ensino actual?

José Quintela Soares disse...

Caro Miguel Gil

Peço desculpa se não entendi o sentido do seu primeiro escrito, mas julgo, no mínimo, ter percebido melhor este último.
E sobre ele, gostaria de deixar as seguintes "notas":
Não fui, por acaso, aluno da telescola, mas não a vejo como algo pernicioso ou malévolo. Tinha excelentes professores, por exemplo, e era a possibilidade que muitos tiveram de estudar. Evidentemente que haver escola para todos, sem necessidade de recorrer à tv, é bem melhor, mas naquele tempo, era o que havia.

Não considero nenhum disparate dizer que o ensino actual não tem qualidade. Pelo contrário, comungo dessa ideia.
Desde os programas disparatados, à má preparação de muitos professores, à indisciplina reinante nas escolas, à inexistência de reprovações por causa das "estatísticas", à evidente ignorância com que nos deparamos no quotidiano, e amuitos outros factores que não cabem em jeito de comentário.

Pensar diferente é sinal de democracia viva, caro Miguel Gil.

Um abraço.

Miguel Gil disse...

Caro José Quintela Soares.

Democracia:
Pensar diferente e expressá-lo é sinal de democracia quando realmente pensamos por nós próprios. Andam por aí opinadores a pensarem todos o mesmo. De tanto opinarem o mesmo, até parece que o disparate é o correcto. Isso não é democracia. Opinar e (re)publicar o que os outros dizem, pensam e publicam não é bom para a democracia. O que Portugal necessita é que cada um seja criador de opinião e não imitador dos outros. A democracia pratica-se.
A telescola:
Não tenho nada contra a telescola, antes pelo contrário, o ensino à distância pode ser uma óptima solução. Veja o caso da grande qualidade e utilidade do e-learning actual. O que afirmei é que a telescola portuguesa da época escondia a necessidade de investimento em mais e melhores escolas. Atenção que a qualidade da telescola não se deve medir só pelos professores que a produziam, mas também pelos monitores que a aplicavam no ‘terreno’, e estes, ao contrário dos outros, eram desqualificados para dar aulas.
Agora a educação:
Este é um tema que levo muito a peito.
De facto verifico que os criadores de opinião já lhe incutiram ideias-chave, comuns na leitura da maioria dos jornais ou visionamento de telejornais.
Estranho que sobre elas não tenha produzido raciocínio analítico, se não vejamos:

1. "No meu tempo aprendíamos muito mais"!

Veja a estrutura curricular das disciplinas ou tente resolver qualquer exercício dos exames de 11.º ou 12.º ano. Se lá encontrar mais de 50% de conhecimento ou competências das que adquiriu na sua aprendizagem ou se conseguir resolver mais de 50% dos exercícios dos exames, eu dou a mão à palmatória.

2. "Os professores antigamente ensinavam, agora é o que se vê"!

Veja a contradição da afirmação.
Quem ensinou os professores de hoje? Claro que foram os professores de ontem.
Se os professores de ‘ontem’ eram tão bons professores porque é que formaram maus professores (os de hoje)?
Os professores hoje são melhores profissionais do que eram os bons professores ‘antigamente’. Esta é a evolução natural das aprendizagens.
Eu tive alguns bons professores , mas sou melhor do que eles foram (atenção não sou professor).
Posso dizer-lhe que uma professora no 1º dia de aulas, como não foi com a minha cara, deu-me logo as notas do ano: 8; 8; 8 = chumbo. Isto é que eram as boas professoras.

3. … à indisciplina reinante nas escolas…

Posso não ser bom exemplo, mas os alunos de hoje parecem anjinhos comparados comigo e com os meus colegas. Só se foi um anjinho, na altura em que andou na escola, é que pode dizer uma coisa dessas.
Aconselho-o vivamente a visitar uma escola e a ver o ambiente de boa camaradagem reinante.

Desculpe a sinceridade mas deve ser mais crítico sobre o que lê e ouve relativamente à qualidade do ensino/educação pública em Portugal, para que não seja só mais um repetidor de frases feitas, usadas simplesmente para formatar a opinião pública no sentido que politicamente se quer.

teresa maremar disse...

Miguel Gil,

não posso deixar de me manifestar face ao que li, porque fui aluna da Telescola e sou professora. Vou procurar ser breve, pois que estou na meta final de um trabalho que exige não me não me abstraia muito.

Telescola, normalmente associa-se à aldeia remota, eu fui aluna da telescola na cidade de Lisboa. Tínhamos acesso, via televisão é verdade, a métodos bem mais criativos que nas outras escolas. Lembro, particularmente, as aulas de Francês, onde l’accent era l’accent, sendo os materiais muito sedutores.
Tive uma monitora, professora primária, a quem devo o meu bom Português.
Bom? Excelente! Não fazendo da modéstia um dos meus defeitos, escrevo muito bem e a essa professora o devo. Se quebro as regras é por opção estética, o que só faz quem bem conhece a língua e gramática.
[os portugueses têm o hábito de se lamentarem no que são incapazes e são pouco capazes no declarar o seu bem fazer - o que, como entende, discordo. Assumo aquilo em sou inábil, bem como não sou de falsas modéstias no que faço bem]

Assim, preenchesse a telescola não importa que lacunas, no que a mim respeita foi um ensino muito positivo. E porque referi acima as aldeias remotas, a telescola chegava a elas. Actualmente, nelas, as escolas fecham.

“No meu tempo aprendíamos muito mais”… ainda que considere este também “o meu tempo”… ahhhh naqueloutro meu distante, aprendíamos muito mais sim!
Vejo a estrutura curricular, pois vejo… e nem me manifesto para me não empolgar. Vejo as provas de exame… pois vejo, e prefiro também não me manifestar, tal é o meu desagrado.

Os professores hoje são melhores profissionais que os de ontem? Não, na sua maioria não são. E os que são estão desmotivados face à burocracia, falta de empenho dos alunos, imposição (para não dizer pressão) para que se facilite e promova o sucesso não importando o saber.
É verdade que as estatísticas pesam sobre nós, professores, e lhe garanto que, por vezes, é necessário enfrentar muita pressão para continuar a ser justo e cumprir um dever sem nos sentirmos comprados. Sei bem do que falo porque o sinto na pele. Esta “mania” de continuar a querer premiar apenas quem merece prémio e não facilitar gratuitamente, paga-se.

No que respeita a indisciplina em sala de aula, considero que a carga horária excessiva, os currículos desinteressantes, a falta de tempo para brincar, jogar, namorar (que é o mesmo que dizer “crescer de jeito saudável”), os tempos lectivos de 90 minutos para alunos de 2º e 3º ciclos, são responsáveis, em parte, por essa indisciplina. Quando se não gastam energias fora da sala, inevitavelmente, estas terão de irromper dentro da mesma.
Todavia, por outro lado, há falta de educação, de respeito, de regras por grande parte dos alunos, ensinamentos que não cabem apenas ao professor, mas que devem começar em casa, em pequeno.
Há, ainda, falta de empenho - e o que é, para nós professores, mais frustrante há falta de curiosidade, de imaginação, de querer saber mais. Há todo um marasmo que, confesso, me enfastia.
[e por favor, não escreva que sou eu quem não sabe motivar, porque, por vezes, só não faço o pino porque não sou professora de Educação Física]

Considera, ainda, haver boa camaradagem entre alunos? Aconselho-o, também, a visitar uma escola num intervalo, assistir ao chuto, pontapé, encontrão e palavreado. Há solidariedade quando se protegem no disparate, mas não quando um colega adoece e passa uma semana ou um mês no hospital. Há ironia para com os que querem trabalhar, e entre estes, há, tão frequentemente, competição exacerbada incentivada pelo sistema e pela má formação. Que isso de ser aluno brilhante não significa ser brilhante de carácter ou altruísmo.

Óbvio que há alunos empenhados, carinhosos, solidários, educados, um número, porém, cada vez mais escasso. Óbvio que há professores empenhados, tão bons ou melhores que os de antes, porém, também estes em número cada vez mais parco.

José Quintela Soares disse...

Após o brilhante comentário de “divagarde”, a que, modestamente, ainda acrescentaria outras evidências de tal modo flagrantes que só não vê quem não quer mesmo ver…centro-me em Miguel Gil, que não me conhece de lado nenhum, que nunca me viu, que nunca falou comigo, e que se permite, em tom altaneiro e pretensamente pedagógico, dar-me conselhos que dispenso por completo.
Não estou habituado a pouca ou nenhuma educação, mesmo entre os que discordam de mim, porque sei seleccionar amizades.
Retiro obviamente o “abraço” que deixei no meu comentário anterior, bem como o “caro”, por razões nítidas. Não os merece.
E finda aqui a abordagem que fiz a este post.
Definitivamente.

T disse...

Bom Dia
Já li esta troca de comentários, que me desagradou profundamente. O Dias pode ser espaço de troca de ideias, mas não serve para ataques pessoais. Não foi com esse objectivo que criei quase há sete anos este blogue. Outro hábito que temos é o de ser hospitaleiros com quem nos visita.
E é só isto.

teresa disse...

Tendo lido um pouco na diagonal os comentários e encontrando-me no centro da questão (enquanto professora e estudante de Ciências da Educação), não posso deixar de listar algumas notas com todo o respeito pela opinião de cada um (prometo tentar ser imparcial, não deixando que as "paixões" falem mais alto do que a racionalidade):
1)- como sempre e sobre todos os temas que possamos debater (da educação à religião, passando pelo desporto, etc.) reafirmo -com a grande Hannah Arendt- que «a vida não é a preto e branco» - estudei num liceu onde éramos uma elite (há que admiti-lo com honestidade), o que hoje não sucede (e ainda bem), se os problemas disciplinares se adensam, o erro encontra-se nas medidas legislativas existentes e também nas políticas de estabelecimento(por ordem de importância). Como explicar que algumas escolas social e culturalmente heterogéneas constituam excepção? Trata-se de uma questão para a qual ainda não encontrei resposta, pois encontro-me no presente a estudar esses espaços, começando a "mergulhar" nesses bons exemplos;
2)- a realidade do país é bastante diversa, ainda hoje uma colega me deu a ler uma composição sem grandes incorrecções onde surgia uma palavra que, no nosso tempo, saberíamos não utilizar em contexto «teste de Português» e no caso particular, não duvidamos que o aluno não pretendia ofender, mas sociologicamente muito mudou, embora tal constatação não nos deva levar a cruzar os braços;
3)- «bons» e «maus» professores sempre houve e haverá, embora em algumas profissões a ausência de competência possa deixar marcas mais profundas ... Se tivermos boa memória, também encontraremos decerto nos nossos tempos de alunos diversos exemplos «do que se não deve fazer enquanto mestre»;
4)- conheço pessoas que com a 4ª classe se tornaram leitores entusiastas dos clássicos e outras que com maiores habilitações deixaram pura e simplesmente de ler (os conhecidos «analfabetos funcionais»), independentemente das gerações em que se inserem;
5)- sabe-se que avaliar a qualidade de desempenho pelos indicadores (os famigerados 'rankings' das escolas feitos unicamente com base nos exames) à disposição da opinião pública é «poucochinho» - os exames são manipuláveis, havendo anos de facilitismo e outros de desadequação, o fenómeno será muito mais complexo do que isso e quem o afirma não é a própria mas grandes estudiosos internacionais da área com nome e obra publicada;

Para concluir e nem sequer questionando ter sido a telescola criada para suprir a falta de recursos humanos (eu própria comecei a leccionar ainda a terminar a faculdade, pois havia então falta de professores), houve boas e más experiências pois, independentemente da qualidade das aulas televisivas, o sucesso ou insucesso das mesmas coube muito (eu diria que maioritariamente) à qualidade dos monitores nas respectivas salas de aula.
Cabe à escola pública esbater diferenças e ser uma escola de todos e para todos, motivo pelo qual a indisciplina nem sempre tem sido devidamente travada (o suporte legal encarrega-se muito disso) ao contrário do privado, onde se pode expulsar um aluno que respondeu de modo ofensivo... Faz sentido que se tente não adensar a delinquência, expulsando jovens da frequência escolar, o que não faz sentido é a inexistência de vontade «séria» de conferir a muitos estabelecimentos públicos um carácter de segurança onde não haja ameças à integridade física e psíquica, isso tem de ser monitorizado superiormente e não duvido que dê muito trabalho, mas se até o pessoal auxiliar (em nome da crise) se reforma e não é substituído, o que esperar sem desejar ser pessimista? ... É que há escolas onde se tem vindo a perder significativamente os recursos humanos fundamentais à sua segurança (quase todas), seria bom que todos os cidadãos (também e sobretudo os pais dos alunos) o soubessem e tivessem uma palavra a dizer...

T disse...

Totalmente de acordo Teresa. Devo acrescentar que me foi relatado, por fonte isenta, que tu és das professoras que marca a diferença e sabe cativar os seus alunos.
Excelente:)

carlos disse...

esta questão do ensino é muito recorrente aqui na casa e quase sempre que é abordada dá direito a alguma troca de comentários...

acho que um dos erros na abordagem da escola nos nossos dias é olhá-la em comparação com a escola de outras épocas.
não só a sociedade não é a mesma, como as necessidades que esta tem da escola e do ensino não são as mesmas.
quando eu andei na escola partia-se do princípio que tinha que se ensinar à generalidade daqueles miúdos um determinado conteúdo de informações durante 4 anos, já que esse era o período previsível que eles andariam na escola.
grande parte dessa informação era generalista e destinava-se fundamentalmente a criar condições para a entrada no mercado de trabalho que não tinha grandes exigências.
daí aquelas horas intermináveis e vagamente inúteis a aprender estações de comboio, rios e afluentes, ou as produções do 'estado da índia' mesmo depois deste já se ter escapado do império...
a percentagem de alunos que estavam no que então se chamava o ensino secundário (a partir do que hoje é o 5º ano) era inferior a 3% do total de jovens em idade escolar.
era obviamente uma elite com excepcionais condições para aprender, tal como os professores tinham excepcionais condições para ensinar.
mas mesmo nessa altura, tirando o curso comercial que habilitava a ser empregado de escritório, ou o curso industrial que nas escolas masculinas que dava bons electricistas comparativamente aos que analfabetos, nas escolas femininas tinha coisas estranhas como uma disciplina para fazer... enxovais de casamento. o curso dos liceus dava emprego porque eram tão poucos os que estudavam que, independentemente do que aprendiam, sempre era melhor dos que começavam a trabalhar aos 10 anos e que eram mais de 90% dos miúdos da época.

comparar este panorama com o actual parece-me absurdo e votado ao fracasso.
não podemos comparar o incomparável.
não se somam bananas com laranjas.
podemos misturar, mas fica uma coisa tipo salada...

hoje a escola é pensada para dar aos alunos competências e saberes num período mais dilatado de tempo e as necessidades da sociedade são muito diferentes e alteram-se a um ritmo muito superior.
hoje não se podem fazer planos a uma década porque a sociedade já é outra ao fim de 10 anos. e é isso que não é fácil e é isso que torna impossível.
e nem a comparação de saber se os alunos saem melhor preparados para o mercado de trabalho funciona (por comparação), porque hoje não vivemos num regime fechado e protegido do exterior nem a produção é baseada na mão de obra intensiva...

se com isto tudo não podemos comparar nada?
claro que podemos.
mas comparar o que é possível comparar.

hoje, na escola, é mais difícil para os alunos, para os professores, para os funcionários, para os pais, para os legisladores.
e ainda bem que assim é...

Miguel Gil disse...

T, ainda bem que o Dias que Voam foi criado como espaço onde o debate de ideias impera. Fazem falta espaços, como este, onde o debate de ideias seja franco e aberto.
Gosto muito deste blog e peço desculpa a todos se, mesmo involuntariamente, contribui para que tal não acontecesse. Não foi para tal que as escrevi.

Miguel Gil disse...

Divagarde, gostei da maneira como expôs o seu sentir o ensino em Portugal, apesar de discordar, em parte, das opiniões expressas.
Continuo a afirmar que a qualidade da educação/ensino público em Portugal está melhor ou, inflectindo um pouco o meu discurso, em concordância absoluta com o Carlos sobre o absurdo de comparar realidades distintas, afirmo o ensino público português é bom.

Miguel Gil disse...

Também eu Teresa tento não me deixar levar pelas “paixões”, e sei que só a racionalidade e o bom senso nos podem fazer ver que “a vida não é a preto e branco”. Bem tento acredite, mas confesso que deixo-me muitas vezes levar pela paixão e uma delas é pela qualificação do sistema de educação e ensino público português.

Miguel Gil disse...

Carlos, a sua maneira de ver estas questões fez inflectir o meu discurso. Concordo consigo em absoluto. De facto estamos perante realidades bem diferentes e incomparáveis. Considero a sua análise brilhante e assaz esclarecedora na conclusão.

Miguel Gil disse...

José Quintela Soares, um abraço.

Maria João Gomes disse...

"Adorei" a imagem que tem neste seu post. Pode informar-me qual a sua origem? Possui o original ou obteve a partir de outro site?

Obrigada.

T disse...

Fui eu que digitalizei de revistas da época que tenho em casa. Pode usar o que quiser, basta referir o nome do blogue como fonte da imagem. Tenho muitas deste tipo, pois eram constantes nas revistas de Tv da época.