20 de outubro de 2009

NA ROTA DE VELHOS ANÚNCIOS

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Este é o anúncio de um produto que já não existe..
Aproximavam-se os exames e começava-se a tomar Fósforo Ferrero. Ter andado a jogar à bola e, em escassos meses, pretender meter na tola o trabalho que deveria ter sido feito durante o ano lectivo.
Também tomou “Fósforo Ferrero”,
Em alguma noite de um tempo a aproximar-se de Junho, admitiu que estava ali a tábua de salvação. Não estava. Não chegou a doutor nem engenheiro mas disso não pode, obviamente, culpar o Fósforo Ferrero.
O “Fósforo Ferrero” chegou nos anos 60/70 a patrocinar prémios do “Juvenil” do “Diário de Lisboa”, suplemento coordenado por Mário Castrim.
Muitos jovens ali colocaram os seus primeiros poemas, os seus primeiros textos, os seus primeiros desenhos e fotografias. Muitos ficaram-se pelo anonimato, mas muitos outros, nisto e naquilo, tornaram-se gente conhecida. Alguns por maus motivos…
Uma listagem, não exaustiva, permite saber que pelo “Diário de Lisboa-Juvenil passaram:
Alice Vassalo Pereira, Eduardo Prado Coelho, José Pacheco Pereira, José Manuel Durão Barroso, Jorge Silva Melo, Hélia Correia, José Agostinho Baptista, José António Saraiva, José de Matos Cruz, Joaquim Pessoa, Miguel Serras Pereira, Luís Miranda Rocha, Hélder Pinho, José António Freire Antunes, Paulo Varela Gomes, Mário Contumélias, Vítor Oliveira Jorge, Maria Leonor Xavier, Nuno Júdice, Nelson de Matos, Diana Andringa, João Bonifácio-Serra, Luís Almeida Martins, José Jorge Letria, Cáceres Monteiro, Luís Filipe de Castro Mendes, outros mais. Muitos…
Hoje há blogues onde se podem exercitar a prosa, as ideias.
Naquele tempo cinzento, o “Juvenil” foi, para uma boa parte daquela geração, o porta-aviões, o trampolim, a tarimba para outras aventuras, outros gostos, outros cenários.
Mais tarde juntou-se o “República Juvenil e, já depois do 25 de Abril, o “DN Jovem”

13 comentários:

César Ramos disse...

Há pouco,... o meu caríssimo gin-tonic fez-me pensar que eu estava a ler algo escrito pelo meu antigo camarada Luís Cília!... essa do fósforo ferrero, até me pareceu código em 'cripto'!...
Um abraço, por me fazer lembrar dele!

ié-ié disse...

José Jorge Letria...

LT

carlos disse...

o juvenil do diário de lisboa foi onde comecei a ler alguns dos que depois comecei a ler em formato livro, outros que foram meus camaradas e deixarem de o ser.
foi a grande obra de mário castrim (que foi sempre o seu grande suporte, mesmo não tendo o seu unico criador).
assisti ao seu começo, que coincidiu aproximadamente com a minha entrada no mercado de trabalho. uma certa condescendência no começo, uma 'imprescindibilização' logo pouco depois.

com o juvenil do república poucos contactos tive, para além de o ler.

mas voltei a ter com o dn jovem, através do grande amigo amigo que foi seu responsável muitos anos e que os novos ventos empresariais jornalísticos fizeram com que achasse ser melhor reformar-se antes de tempo para manter a cabeça limpa.
o juvenil merecia uma tese de doutoramento...

César Ramos disse...

Mas é que merecia mesmo!
Tenho lido teses de doutoramento quase inventadas, e este caso prestigiria muito quem lhe dedicasse atenção.

gin-tonic disse...

Daria uma boa tese, Carlos, com toda a certeza. Acredita que um dia venha a ser escrita. Por ora ainda existe muita paixão por um lado, muita despaixão - se é que a palavra existe - por outro.
O avançar da idade leva-nos a falar de coisas que já ninguém fala, de livros que já ninguém lê, de filmes que já ninguém vê, de músicas que já ninguém ouve.
Quando tropeçou no anúncio a ideia era ir um pouco mais além. Tem por aí papelada suficiente, a parte de memória que ainda não foi varrida por um qualquer vendaval. Mas achou excessivo.
Talvez numa noite de Inverno vá até ao sótão, buscar a papelada e tente alinhar alguma prosa.
Coisas assim:
"Fique do "Juvenil esta sabedoria que é não recordar muito - e este gosto romântico pelo excesso que é o melhor de todos os defeitos"
Hélia Correia
"É preciso dizer, ainda, que a equipa do "DL-Juvenil" tinha, nessa época, uma relevância que nos pode agora parecer desproporcionada. Havia poucos jornais, existia a censura e escrever alu significava também um complemento de outras actividades clandestinas contra o regime. Castrim assumia uma posição de liderança cuja importância os anos confirmariam."
Carlos Cáceres Monteiro
O "Juvenil" (...) era uma curva de perna, nesse tempo em que morríamos por uma curva de perna, e as mulheres - perdoai-me - eram curvas de pernas comoventes."
Luis Almeida Martins.
Três de muitos depoimentos escritos por ocasião dos 70 anos de Mário Castrim.
Mário Castrim morreu em Outubto de 2002. Já quese caíu no esquecimento.
São assim as coisas da vida, não é verdade?
Mas há que lhe dar uma voltinha...

carlos disse...

o 'problema' do mário castrim foi o de muita gente que se empenhou publicamente por uma causa partidária (muitas vezes mais do que uma causa ideológica).
o juvenil aconteceu numa época em que, de algum modo, todos estavamos do mesmo lado contra o mesmo outro lado.
a pobreza de informação que existia, fazia com que cada acontecimento fosse amplificado.
existiam em lisboa 2 jornais e meio matinais (notícias, século e jornal de comércio, entendendo que o diário da manhã/época não era, em rigor um jornal que se lesse) e 4 vespertinos (lisboa, popular, república e, mais tarde, capital).
esta era a informação que tínhamos.
os noticiários na rádio eram nulos e na televisão evitáveis.
as pessoas liam e sorviam os jornais porque era o tempo em que 'se vinha no jornal, era verdade' (hoje é mais 'se vem no jornal é porque alguém pagou a notícia')
eu tenho sobre o mário castrim duas posições:
a principal é a do homem do 'juvenil', dos livros infantis e um pouco, o do 'canal da crítica.
a outra, a do militante do pcp absolutamente cego quando desse assunto se tratava.
para quem era do mrpp, isso não era exactamente, logo à partida, uma coisa boa.
grande parte do 'esquecimento' do mário castrim tem a ver, acho eu, com alguma auto-guetização (será que a palavra pode existir?) que levou a que fosse quase odiado por toda a gente que não fosse do pcp.
e teve o problema adicional de ter 'abandonado' a vida publica antes da poeira partidária assentar e as pessoas terem começado e ver mais as obras e menos as opções partidárias.

gin-tonic disse...

Amanhã é sexta-feira e estes comentários dariam uma bela conversa de fim de tarde em Fajão.
Para ele existem dois Mário Castrim: o de antes e o depois de Abril.
Gosta mais do de antes do que depois de Abril.
A sua coluna de crítica de televisão no "Diário de Lisboa" teve um extraordinário impacto e contribuio para o esclarecimento e tomadas de posição de muita gente em relação à ditadura.
A censura conseguiu silenciar durante uns tempos a coluna mas, face ao coro de protestos que se levantou, teve que reconsiderar a proibição
Depois o seu trabalho à frente do "Juvenil" e o seus livros para crianças.
Mário Castrim foi um homem de fé, profundamente religioso mas que, de modo algum. gostava do papel da igreja. Enquanto esteve no sanatório do Outão, a recuperar de grave doença, recebia a visita de um padre que lhe terá passado a mensagem do tal Cristo guerrilheiro.È essa fé que ele, depois do 25 de Abril, transporta para a sua militância no PCP, que o leva a tomadas posição que lhe dão o epiteto de "sectário geral"
Ja após a sua morte foi publicado "livro dos Salmos", um livro de poemas que ressalta da sua colaboração com os Missionários Cambonianos, colaboração que manteve até ao fim da vida.
Era um homem de uma cultura superior, de fina ironia, um humor a roçar o veneno de cobra, um homem de coragem.
Os seus livros para crianças são de um didactismo único e muito poucos o conseguem igualar.
A admiração que tem pelo escritor e pelo homem não o levam a esquecer outros aspectos. Era um homem de coração na boca.
Mas como ele lá atrás diz: isto seria uma bela conversa para um fim de tarde em Fajão. Talvez um dia... Quem sabe?

carlos disse...

a coluna do mário castrim era imprescindível e uma das coisas mais lidas do diário de lisboa.
coisa estranhíssima vista hoje: uma coluna de crítica de televisão ser das páginas mais lidas de um jornal generalista.
era uma imensa fonte de conhecimentos, porque o mário castrim era, de facto, um tipo com uma imensa cultura.
algumas vezes mais papista que o papa, até antes de 74. lembro-me da crítica ao ary dos santos pelas participações no festival da canção, que afinal até foram bem úteis...
mas teve, de facto, 'duas vidas'.
não foi apenas ele. de algum modo fomos todos nós que vivememos aqueles tempos. uns mais que outros; outros piores que uns.
não foi das pessoas com quem falei muito no 'lisboa', ele tinha uma espécie de horário reduzido e deslocava-se pouco à tipografia, que era por onde eu passeava mais.
mas o trabalho no canal da crítica e no juvenil chegavam para o tornar uma personagem impar na cultura portuguesa.
de facto, era intratável depois de 74, mas nessa altura eu andava por outras paragens, embora ainda por jornais e tipografias.

quanto ao dn jovem e ao manuel dias que o dirigiu durante tantos anos, também falta a homenagem (não falo da comenda que recebeu há uns anos... mas a homenagem literária....)

carlos disse...

quanto ao fim de tarde em fajão, caro gin, hoje é dia de ir para lá.
e, obviamente, estás convidado para o fim de tarde de amanhã, que hoje sóchego à noite.
prometo bom vinho à escolha e boa comida do juiz...
a conversa será a que for...
será seguramente boa :)

gin-tonic disse...

O fim do "República Juvenil" é uma morte natural. Durou até à semana antes do 25 de Abril. Tudo o resto foi consequência das mudanças verificadas.
Quanto ao "Diário de Lisboa- Juvenil" ainda hoje a história está rodeada de nebulosidades. As diversas versões que tem não lhe permitem uma conclusão. Exigência da censura ou decisão administrativa? Talvez um dia se saiba...
Quanto ao "Dn Jovem" é uma canalhice sem nome. Num tempo em que a Internet não estava ainda vulagrizada, alguns nem sabiam o que era, passar a publicar o suplemento nesse contexto é, simplesmente, miserável.
E os canalhas ainda andam por aí...e não se pode exterminá-los...

sábado à noite disse...

Olá,amigos
de facto ainda por aí muita falta de informação...
Quando tiverem tempo (vontade, disponibilidade, etc.etc) para uma conversa--é só dizer.
Ah, e existe já uma tese sobre o "Juvenil".Chama-se "Suplemento Juvenil do Diário de Lisboa"--Lugar de Ensaio para uma Nova Poesia Portuguesa". É da Maria José Oliveira, actualmente jornalista do "Público"
Um abraço

ALICE VIEIRA

carlos disse...

cara alice vieira,

pela minha parte, pela gratidão com o que signifou o juvenil para mim quando era um puto a trabalhar no restaurante ao lado do 'lisboa', terei a maior das disponibilidades e vontade para conversar sobre o assunto.
quer sobre o juvenil, quer sobre o mário castrim.

mas gostava de fazer um desafio, ou uma proposta, como preferir:
que escreva aqui (pode enviar o texto para o mail da casa) sobre o juvenil e o mário castrim.
será muitíssimo bem vinda.

:)

gin-tonic disse...

Bom dia Alice Vieira.
Desconhecia por completo a tese sobre o "Juvenil" da autoria de Maria José Oliveira, jornalista do Público. Mas nunca viu o livro em qualquer livraia. Não é de admirar muito, sabendo que os escaparates estão reservados aos "livros" de um qualquer génio do pontapé ba bola ou "pivot" de televisão.
Mas vai à procura. Contudo, tanto quanto o título da tese mostra, pensa que ela aborda a faceta da poesia publicada no Juvneil. E melhor que ninguém saberá que a poesia foi uma componente importante, mas o Juveni não se esgota aí. Assim de repente lembra-se da importância que os Encontros na Casa da Imprensa, aos sábados à tarde, tiveram.
Da leitura da tese irá dar conta por aqui porque, como diz o Carlos, o Juvenil mexeu muito com muita gente e não poderá cair no esquecimento.
Um abraço