27 de agosto de 2009

UM LIVRO DE QUANDO EM VEZ

Image and video hosting by TinyPic

Viciado que é em livros, não necessita de outros motivos para os comprar. Mas tudo lhe serve: capas, começos, finais, títulos. É o caso deste “Greguerías” uma edição da Assírio & Alvim para a colecção “Gato Maltês”, que encontrou numa dessas feiras de livros manuseados que, ao longo do ano, vão acontecendo pela cidade.
O autor do livro é Ramón Gómez De La Serna (1888-1963), de que nem sequer ouvira falar e greguerías não lhe dizia nada.
Pela leitura do prefácio de Jorge Silva Melo, que também fez a selecção e a tradução dos textos, fica-se a saber que greguerías é uma palavra que não significa nada: nem em Castelhano nem em qualquer outra língua. É um género literário inventado pelo próprio autor. São lançadas pistas de que possam ser aforismos, adágios, refrões, mas não se chega a nenhuma conclusão. Pouco importa.
A leitura do livro deu-lhe um gozo de tal ordem que não resistiu à tentação de trazer até aqui algumas destas greguerías.
Divirtam-se!

Como dava beijos lentos, duravam-lhe mais os amores.

Onde o tempo e a poeira mais se unem é nas bibliotecas.

Sofá-cama: os sonhos ficam em baixo, a conversa em cima.

A gaivota rema ao voar.

O capitalista é um senhor que, quando fala connosco, nos fica com os fósforos.

O gato olha para as visitas como se a conversa lhe desse sono.

É na maneira de esmagar a beata no cinzeiro que se reconhecem as mulheres cruéis.

O arco-íris é a fita que a natureza põe depois de ter lavado a cabeça.

O cinema nasceu quando as nuvens paradas das fotografias se puseram a mexer.

A civilização terá atingido um alto grau quando os gatos estiveram a ler revistas infantis nos portais.

O mar só vê viajar: ele nunca viajou.

Só ao morrer nos lembramos que já estivemos mortos antes de nascer.

O gato só admira o homem quando este mete mais lenha na chaminé.

Os móveis com bicho ganham ouvido e até ouvem o que diz o silêncio.

O ideal do amador de fotografia é possuir a melhor máquina para tirar retratos a miseráveis.

O que há de mais aristocrático na garrafa de champanhe é que não deixa que lhe ponham de novo a rolha.

Os que não querem que se fume no vagão não compreendem que, se a locomotiva não fumasse, o comboio não se movia.

Os bebés com chupeta olham para o fumador de cachimbo como para um companheiro de carrinho.

No primeiro eléctrico da manhã ainda há sonhos do dia anterior

Na noite dos vagões solitários vamos com duas mulheres: a nossa e a que é re-
flectida no vidro.

Nos fios dos telégrafos ficam, quando chove, umas lágrimas que tornam tristes os telegramas.

A vida é dizer-se adeus a um espelho.

As cinzas de cigarro que ficam entre as páginas dos velhos livros são a melhor imagem do que neles ficou da vida de quem os leu.

As gaivotas nasceram dos lenços que dizem adeus.

O gato faz-se de morto para que o deixem dormir a sesta.

O livro é o salva vidas da solidão.

2 comentários:

Anónimo disse...

I wish you health and happiness every day!
Ich wünsche Ihnen Glück und Gesundheit jeden Tag!
Je vous souhaite santé et bonheur chaque jour!

整形
婦產科
張艮輝
法拍屋
瑜珈
服飾
隔熱紙
清潔
雲林

teresa disse...

As frases são fantásticas e descobre-se, sem grande perspicácia que o autor depende da nicotina:)

... e pelo menos a nº 7 revela que quem a registou é excelente observador.