31 de agosto de 2009

Leaves of grass

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É ousadia escrever sobre árvores e plantas, tornando-se arriscado «meter foice» em tudo quanto nos traz ensinamentos silenciosos, os mais legítimos dos ensinamentos, modesta opinião de quem sempre se sentiu avessa a palavrosas lições.
Ontem o tio A., do alto da sua respeitável idade dizia-me, após oferta de um cesto com uvas e belos figos a escorrer doçuras, chegados da sua lavra alentejana de Montoito: «andei a tratar a terra e, ao sentir calor, reparei que o termómetro marcava 40 graus.»
Tratar a terra sempre foi expressão grata, dado ela o merecer e nos retribuir tão generosamente após os cuidados que lhe votamos.
Antes de viver nesta discreta casa – pontinho de brancura deixando o verde espraiar-se à volta - o matagal invadia tudo. Em família era conhecida por «Quinta dos caracóis» pois sempre que por aqui passávamos – sem imaginar viver, alguns anos mais tarde, em tão bonito pedaço de terra de onde se espreita uma marítima faixa azul à distância e, do outro lado, o verde da serra -, via então só mato seco e, pelo Verão, diversas famílias na «apanha» dos caracóis.
Na época destacavam-se, do meio do mato, dois centenários pinheiros mansos.
Infelizmente, um deles teve de ser retirado, pois encontrava-se em risco de ruir, provocando acidentes. O outro mantém-se majestoso.
Para que não se sentisse votado ao isolamento, foi «recebendo» diversos companheiros – parentes mais ou menos afastados deixando, alguns deles , uma dádiva de pinhões e constituindo a sua sombra um convite a ficar a preguiçar sem preocupações em dias de calor.
Da geração «Itau e Júlio Roberto», estes apontamentos sobre a terra, acabaram por trazer à memória a carta do chefe Seattle:

«Cada pinha brilhante, cada praia de areia, cada névoa
nas florestas escuras, cada insecto transparente, zumbindo,
é sagrado na memória e na experiência de meu povo.»

(título do post retirado da obra homónima de Walt Whitman)

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