2 de julho de 2009

John Lennon: com o selo da verdade?

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Como habitual, a visita à acolhedora livraria Plantier, espaço razoável e relativamente próximo de casa. Uma pessoa sem idade e a quem muito estimo pede-me, com frequência, nos passeios semanais, que façamos a habitual visita: refiro-me à minha mãe, incansável leitora.
Foi assim que há cerca de um mês encontrei, em lugar de destaque e com um “nice price”, a biografia de John Lennon escrita por Cynthia, a sua primeira mulher. Hesitei na compra e, confesso, o preço para lá do razoável, acabou por ser a maior motivação, apesar de tanta leitura obrigatória há meses me esperar, inerte, sobre a secretária sempre desarrumada.
Na adolescência, os Beatles foram descobertos através dos irmãos mais velhos dos amigos e o inegável fascínio acabou por se dever essencialmente a temas cuja letra e melodia ainda hoje memorizo na íntegra, embora mesmo, mesmo, geracionais fossem as regulares audições de bandas anglo-saxónicas cujos exemplares de vinil comprávamos quando havia economias, acabando os LPs povoados de ruídos (a que chamávamos ovos estrelados) em trocas e empréstimos entre amigos da vizinhança e do liceu. Fugindo a listagens exaustivas, ocorreram-me subitamente nomes como Deep Purple, Genesis, Jethro Tull, Yes, The Who… como fazendo parte dessa partilha juvenil.
Regressando aos músicos de Liverpool, ficava boquiaberta quando via documentários televisivos com adolescentes, aos gritos, à saída de aeroportos e à entrada de teatros sempre que se suspeitava a presença, mesmo que fugaz, dos quatro rapazes.
E como os pensamentos também voam (e a que velocidade!), fiquei pela primeira vez a reflectir sobre o facto de, até à data, não ter sido frequente leitora de biografias. Tentei lembrar-me de algumas – e cá por casa elas existem como é o caso de uma de Picasso ou de outra de Frida Kahlo – e apercebi-me de que nem tinha aberto tais exemplares. O que existe de mais semelhante lido até à data consiste em memórias de escritores e filósofos contemporâneos que marcaram, tendo-me ficado por aí mesmo.
Depois da leitura deste retrato de Lennon, fiquei a pensar em como o desenho apresentado pode, à semelhança de um sismo, abalar uma visão pessoal construída ao longo dos tempos.
Retirei as seguintes conclusões, apesar da subjectividade da autora, Cynthia (ex-Lennon) ter deixado escapar muitas mágoas ao longo da perspectiva que apresenta: Lennon poderá não ter sido aquele “rochedo inabalável” tal como eu o havia construído no imaginário juvenil; Yoko e John poderão não ter formado uma dupla mítica ( que, sabe-se lá porquê, eu tinha enquanto jovem equiparado aos pares carismáticos da história ou da ficção literária ); pode ser-se famoso e conseguir-se satisfazer qualquer capricho material e, a par de tudo isso, viver-se com uma insegurança do tamanho do mundo e arredores e, por último, mas talvez o aspecto mais importante, conclui-se que uma biografia escrita por alguém magoado e relegado para segundo plano, acaba sempre por ampliar alguns aspectos menos carismáticos de uma personalidade já imortalizada. Por tudo isto, não sei até que ponto – e não estou a ironizar nem consigo arranjar respostas para tão subjectiva reflexão – encontro vantagens na leitura de um texto biográfico, talvez os leitores reincidentes na modalidade biografia consigam lançar um outro olhar sobre a questão.
Cyntia Lennon, John Lennon, Bizâncio, Lisboa, 2006.
«Com o selo de verdade que não têm grande parte dos livros sobre os Beatles»
Sunday Telegraph

6 comentários:

Anónimo disse...

É. Depende… Do biógrafo. Da qualidade da escrita, da pesquisa, das fontes; da imparcialidade ou não; do enquadramento social, cultural, político…Tantos factores.
Li algumas. Más.
Li outras. Boas. E dessas, escolho Marguerite Duras por Laure Adler e Jenny Marx ou la femme du diable por Françoise Giroud. A partir daí, a Duras e o Marx ficaram diferentes. Quantas surpresas…e desilusão, também;)
Por fim, e mais recentemente, tive o prazer de ler Le Montespan de Jean Teulé. Não pretendendo ser biografia, nem romance histórico, conta o infortúnio de “ le plus célebre cocu du XVIIIe siècle”, o marido de Athénaïs, favorita do rei sol. Levezinho, próximo do género, e porque nem tudo tem de ser sério…
Biografias de vivos. Não leio.
Emma

teresa disse...

Já percebi que a Emma aprecia a modalidade 'biografia'. Esta de Lennon é uma leitura light só escolhida por se tratar de uma personalidade admirada a título pessoal. Nem sequer se encontra com aquilo que - defeito profissional - considero uma 'boa escrita' (não a praticando, sei distingui-la).
Certamente uma verdade feita, ficou a ideia de que o(a) retratado(a) nunca o deverá ser por alguém que lhe seja muito próximo - por bons ou maus motivos, sob risco de maior distorção que existe sempre.
Gostei de ler a autobiografia de Fernando Savater pois, apesar da proximidade, é bastante factual (mais do que opinativa), quase uma escrita jornalística (não de cronista, é claro).

Anónimo disse...

Aceito a sugestão Savater (apesar de vivo... he he he), pois não li ;)Sabe se já há tradução? Para mim, ler castelhano é :(
Actualmente,andamos a saborear "em dueto", uma das jovens cá de casa e eu, o Ética para um Jovem. É a segunda vez. Já o fiz com outra...Mas é sempre um prazer :)
Emma

teresa disse...

Emma, acredito que não exista a tradução: ainda há dias vi que um colega sempre actualizado o divulgava (ainda) em castelhano. O meu comprei-o no país vizinho vai fazer 2 anos.
O Ética é fantástico! (às vezes mais para nós do que propriamente para os jovens). Um dia analisei um excerto na aula e tive o feedback da miudagem: parece que os pais em ficaram entusiasmados e pediram a referência bibliográfica:)

Anónimo disse...

Obrigada, teresa:)
Emma

teresa disse...

De rien, Emma:)
(as desculpas pelo "em" a mais na última frase)