1 de maio de 2009
NOTÍCIA DOS DIAS QUE VOARAM
1 de Maio de 1974
E foi mesmo uma grande festa.
Nunca o povo se manifestara desta maneira. A poesia estava realmente na rua. Expressando momentos de exaltação e esperança. Um dia que todos vivemos com todos, nos abraçámos e beijámos nas ruas, alguns sem sequer se conhecerem.
Os mais velhos lembravam as manifestações que aconteceram, quando a guerra acabou, às portas das embaixadas da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, mas depressa concluíram que, se bem que houvesse muita gente, não fôra assim.
Neste 1º de Maio, escreveu José Carlos de Vasconcelos.
“Mil Cem mil
Era um milhão
Era um povo inteiro
Com a fronte de frente para o futuro
Era o instante mais puro o esplendor da vida
Era uma pátria no coração da primavera”
De tanto que havia para dizer, pouco ou nada se dirá. Por uma vez as palavras são inúteis.
Há filmes, há fotografias, há registos vários, mas aquele dia ultrapassou tudo.
Quem viu, viu, quem não viu, muito dificilmente terá oportunidade de ver coisa igual.
No seu livro “Revolução Necessária”, publicado em Junho de 1975, escreveu José Gomes Ferreira:
“A festa do 1º de Maio de 1974, em que milhares e milhares de pessoas vieram para a luz do mundo forra de carne humana e cores livres de bandeiras, os prédios, o céu, o vento, o pesadelo morto. Momento que já principia a parecer um sonho, talvez apenas possível de descrever com a tinta mágica das lágrimas que todos nós trouxemos para a rua nessa tarde tão generosa e inocente.
Mas oxalá essas lágrimas do povo não tenham um dia de gelar até à dureza de balas viris – mutação a que eu também já assisti em ocasiões terríveis de terramotos implacáveis.”
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