Feira do Livro.
Feira do Livro.
Conheceu-a no Rossio em redor das taças de água, na Avenida da Liberdade, na Praça do Comércio/Rua Augusta, (um perfeito desastre!) no Parque Eduardo VII, onde ainda se mantém.
Anos houve em que ia lá todos os dias: para recolher catálogos, por causa dos “Livros do Dia”, quando estes ainda valiam a pena. Tem da feira o fascínio de andar à procura de livros e encontrar outros que o deixaram fascinado.
Voltou a andar por lá mas nada o surpreendeu, ou por outra surpreendeu-o – again, and again – a dificuldade que vai tendo em percorrer os stands e saber que em casa amontoam-se livros que ainda não os leu, apenas folheou no acto de os comprar.
Uma coisa tem como certa: nunca há-de entender os critérios – se é que os há! – dos editores do país. É, no mínimo, mirabolante que num país de analfabetos, os que não sabem mesmo ler e escrever, e outros, que aprenderam a ler e não lêem, esses sim os verdadeiros analfabetos, se publicam tantos livros? Repara nisso nas livrarias mas na feira o fenómeno ressalta mais.
A quem se destina toda esta livralhada? Duvida que se publiquem tendo em vista que alguém os vá ler, não se lhe afigura possível. Mas então por que se publicam?
Mistério.
Luís Sepúlveda numa recente entrevista: “ A vida em sociedade torna-se estranha quando nos aproximamos dos 60 anos; eu falo de livros que os outros não leram e os outros falam de livros que eu não tenho nenhuma vontade de ler.”
Mas é um prazer ir à Feira do Livro. Livros à parte, há a barraquinha dos churros, o rio lá ao fundo, o prazer dos jacarandás, ainda não completamente floridos daquele roxo único.
Permitam-lhe ainda um pormenor de foro pessoal - sempre levou os filhos à Feira do Livro porque, entende, que o gosto pela leitura não se apanha como se apanha uma constipação ocasional.
A primeira Feira do Livro da filha ocorreu aos seis anos. O rapaz tinha então dez anos. Percorrido o espaço infantil deu-lhe para fazer uma daquelas perguntas idiotas que os adultos insistem em fazer às crianças, e indagou qual tinha sido a barraquinha de que ela mais gostara. Resposta na ponta da língua: “ a dos gelados Olá!”
O rapaz tem hoje 36 anos, a rapariga 31 anos. No momento em que encerra a prosa, imaginem uma lágrima furtiva.