13 de março de 2009

“PRIMEIRO DE DOIS “POSTS”, SOBRE BENFICA, PROMETIDOS À J.



Se lhe perguntassem em que dia foi pela primeira vez a Benfica, responderia sem qualquer ponta de hesitação: 14 de Julho de 1953. Pela mão do avô foi assistir à colocação do primeiro tijolo da construção do futuro Estádio da Luz. Tinha 8 anos. Onde hoje está instalado todo aquele pesadelo de cimento que rodeia o Estádio, onde está agora situada a 2ª Circular”, tudo aquilo eram quintas e mais quintas com árvores e rebanhos de ovelhas a pastar.
A construção do Estádio foi uma epopeia, pois uma boa e grossa fatia do dinheiro para as obras, proveio dos sócios e adeptos. Lembra-se do Pavilhão do Benfica na Feira Popular, onde hoje está a Gulbenkian, com um mealheiro gigante para depósito de notas e moedas. Lembra-se de quando o Benfica não jogava em casa ir assistir ao andamento das obras e durante os trabalhos de terraplanagem ver os sócios de enxada na mão em que cada cavadela custava 20$00. Também a realização de almoços a que se seguiam intermináveis leilões. Lembra-se que foi leiloada uma gaiola de periquitos e uma garrafa de Vinho do Porto foi leiloada 11 vezes. Rifas e mais rifas disto, daquilo e daqueloutro e em que o que menos interessava eram os prémios. Tudo servia para angariar fundos. Para a campanha do cimento havia um enorme letreiro:” quem não deu que dê agora, quem já deu que torne a dar.”
Sente que é isto que fez do Benfica um clube popular. Mas do dia da inauguração do Estádio, ele não pode dizer: “Eu estive lá!” Não esteve. Ficou de castigo, qualquer coisa relacionada com a escola, erros nos ditados, indisciplina na aula, não lembra bem. Mais tarde em conversas com o pai deu para perceber que o castigo doeu mais ao pai do que a ele. Não sendo, de modo algum, adepto da pedagogia do castigo, admite que hoje o pouco que sabe, também o deve a alguns desses castigos...


O Benfica é a sua mais velha paixão. Outras perderam-se, a maior parte esquecidas, mas a do Benfica persiste e arderá com ele, porque muito cedo lhe imprimiram o vermelho nas veias: o do clube e não só. “O Benfica foi, na ditadura, uma das poucas alegrias colectivas e o único vermelho tolerado, embora sob a atenuante de “encarnado”, escreveu César Príncipe.
Lembram-se de Xanana Gusmão no pátio da prisão de Cipiunang, com um boné do Benfica na cabeça? Lembram-se do filme “Em Nome do Pai, realizado por Jim Sheridan, pai e filho a reencontrarem-se na cela de uma prisão de alta segurança londrina com um galhardete do Benfica pendurado na parede?
Junta-lhe o azulejo que o Sr. Jofre tem na sua oficina de sapateiro: “Quem não é do Benfica não é bom chefe de família”
Em matéria de futebol não se pode ser razoável, pior ainda quando isso resvala para o Benfica. Como escreveu um velho e querido amigo: “O Benfica não é um clube: é uma etnia da alma. Não é uma ideologia: é uma paixão. É ser tão irracional em nós como a nossa infância”, ou esta citação, lida já não sabe onde, do livro “ Segunda Oportunidade”, de Vítor Elias:
“- Vais para casa? Pergunta-lhe o Borges.
Ainda não – respondo. Sou capaz de beber um copo com uma amigo meu, falar um bocado do Glorioso.
Fazem vocês muito bem. Falar de Nosso Senhor ajuda qualquer pessoa a encontrar orientação.”

O “post” é ilustrado com um selo emitido pelos CTT e referente à conquista da primeira taça dos Campeões Europeus e com os bilhetes mais antigos que possui: um é o da inauguração da Luz, em Junho de 1958, o Benfica empatou a um golo com o Flamengo. O outro é o da festa de homenagem a José Águas, seu ídolo de infância no dia 5 de Setembro de 1963, o Benfica venceu o Porto por 3 a 2.
Vai larga a prosa, mas não quer terminar sem invocar a frase, ouvida àquele velho alentejano, encostado ao balcão dum tasco, em S. Francisco da Serra, a navalhinha petisqueira a cortar uma côdea para entalar um pedacinho de queijo:”é melhor ser do Benfica do que ser rico".
Feliz o bairro que tem um clube como este!


1 comentário:

Julio Amorim disse...

Chega-se à Europa e diz-se: Sou de Aveiro ou Alvalade....What?
Sou de Benfica.....haaaaaa!
Privilégios....