21 de fevereiro de 2009
Portuguese ghost stories: evocando Ruben A.
Ruben A. (Lisboa, 1920- Londres, 1975)
Encontra-se no romance um elo indelével com o queirosiano A Ilustre Casa de Ramires logo patente na implicação simbólica do elemento torre em ambos os registos.
Em A Torre da Barbela, a acção decorre num cenário intemporal, sendo o leitor transportado para o seio de uma movimentação de personagens-fantasma. O apelo da obra consiste no facto de a sua trama conduzir a uma confusão de épocas e lugares pelo constante entrecruzar da esfera do possível com a irrealidade povoada de espíritos fantasmagóricos.
A poente, recortava-se a paisagem permitindo entrever Viana do Castelo que subia às arrecuas pelo monte de Santa Luzia. Ao pôr do Sol, vingavam-se os fantasmas num rodopiar suspenso sobre a barra; pareciam velhas caravelas a fazer capa para orientes de especiarias. O mágico corporizava-se aos olhos dos que demoravam meia hora. Do nascente, podiam vir, em forma e cor, todas as surpresas.
- Vejam bem! Lá em baixo não há nada igual.
E aquela visão do nascente era prenúncio de noites de bruxas. O Lima, nem sabia de onde vinha; as plantas e os arbustos só a cabeça estendiam. O resto eram saudades da Índia à deriva num mar vegetal. “Olhem todos, além o solar dos Beringelas…tão diferente da Torre! Outras épocas, meus senhores. Não há pressas, mas quando se despacharem”.
Sobranceira, a Serra de Arga deitava agulhas fortes contra o céu e descia em lombadas aptas a uma discussão mais calma com outras montanhas. Nada de grandezas álpicas ou congéneres. Arga, lobos, montanha, romaria e São Lourenço a queixar-se do reumático. Inverno duro o da pátria do Norte.
Capa: 3ª edição (1966) – a primeira edição data de 1964
Editora: Parceria A.M.Pereira Lda.
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