29 de setembro de 2008

a propósito de divagações românticas sobre mercados e comércio tradicional.


este é um daqueles posts que deriva num comentário longo que não chegará a ser.

comentou o beko (que seja vem vindo e comente muitas vezes), a propósito da praça de arroios, que 'tenho muito gosto em ouvir as vossas divagações românticas, mas a verdade é que este mercado é uma miséria, não existe qualquer tipo de higiene, o lixo acumula-se, o estacionamento (dos veículos do mercado) é escandaloso, os produtos são caros e a qualidade não é minimamente garantida, etc' e desenvolve para uma série de considerações que gostava de separar.

a primeira é que quem escolhe viver junto de um mercado, deve saber que esse mercado, se tiver vida, a começa a ter pelas 5 da manhã que é quando os profissionais necessitam de começar a fazer as suas compras.uma das coisas que destingue um mercado dum estabelecimento 'normal' é precisamente o seu horário de funcionamento. em qualquer parte do mundo.os mercado ganham vida muito cedo. a maioria deles começam a ganhar vida por volta da meia noite.quem escolhe morar junto dum mercado, ou o faz porque não encontrou outro local, ou é porque gosta desse ambiente fervilhante de sons e vida.

outra questão é a da envolvente do mercado de arroios. as tascas e os alcoólicos. 

meus caros, o alcoólico do mercado de arroios produz incomparavelmente menos barulho que os amantes de shots da rua das janelas verdes ou do bairro alto...a diferença é que bebe vinho em vez de destilados de origem duvidosa e discute o penalty sobre o nuno gomes em vez do último doclisboa (eventualmente)

a terceira questão acessória (sim, até agora apenas estive a falar do acessório) é a impossibilidade de arrumar carros. que eu saiba, em qualquer mercado do mundo é impossivel arrumar um carro. nalguns deles é mesmo estulto levar o carro para as suas proximidades e d'evriam ter um daqueles sinais de trãnsito como o que existe em frente ao edifício das nações unidas: 'you dont even think parking here'

um mercado, se cumprir as suas funções têm alguns características:

é ruidoso, tem imensa gente, emite cheiros, tem imenso trânsito. se tiver isto tudo, temos mercado.

outra questão, mais séria, é a questão dos preços, do sortido e da concorrência dos hipermercados ou dos discounts face ao pequeno retalho independente.

o preço a que se compra um produto depende da capacidade que temos para o negociar.

essa capacidade pode vir em pequena parte na nossa capacidade de persuasão, mas vem na esmagadora maioria dos casos da capacidade de compra da entidade para a qual compramos e das comtrapartidas de distribuição e penetração de mercado que podemos oferecer.

se eu negociar azeitonas com um pequeno produtor ou com o 'maçarico' (o lider nacional na comercialização de azeitonas) e lhe disser que posso comprar 5 baldes de 20 quilos ou 30 paletes com 50 baldes de 20 quilos, podem ter a certeza que o preço a que vou comprar é sensivelmente...metade, ou menos.

se eu comprar peixe ao distrbuidor que me vem trazer a casa (ou vou ao mercado abastecedor a partir da meia noite que é a hora a que abre) ou negoceio esse preço ao contentor com compra à tonelada...o preço de que falamos até parece que estamos a falar de produtos diferentes...

daí que seja imperioso que o pequeno retalhista estivesse organizado para a compra ou o faça junto de entidades que de alguma forma se uniram a montante e lhe podem vender a preços competitivos perante as grandes superfícies.

o pequeno retalhista não vende caro apenas porque está a dormir (alguns estarão, é verdade). vende caro porque compra muito caro.

e, por norma, as margens brutas dos hipermercado são mais elevadas que as dos pequenos comerciantes. 

é normal um hiper fazer uma promoção 'de arromba' e a seguir ir exigir ao seu fornecedor que lhe pague esse 'desvario'... sob a ameaça de deixar de lhe vender esse produto.

o problema é que a indústria, que precisa de fazer números, se entrega neste canto de sereia, mesmo sabendo que cada dia fica mais dependente de meia dúzia de operadores e deixa de ter a almofada do retalho independente para poder vender... quando estiver impedido de o fazer numa cadeia por represália.

também acho que algumas vezes divagamos demasiado romanticamente (e estou a falar de mim e dos temas que escolho para falar), mas o problema da sobrevivência dos mercados está longe de ser assim tão simples.

resumindo (isto faz lembrar quando os meus filhos me dizem para usar a versão curta quando quero falar de alguma coisa..), os mercado cheiram todos aos produtos que lá se vendem: se vendem peixe, cheiram a peixe.

a questão é que quando visitamos uma qualquer outra cidade que não a nossa, o nosso distanciamos não nos deixa sentir as coisas do mesmo modo e apenas olhamos para os mercados pelo ar colorido da coisa. 

aqueles mercados de barcelona, por terem muito mais movimento, garanto que têm muito mais cheiro.

quanto a cheiro de peixe em ambiente civilizado, o 'fulton fish market' na baixa de manhattan cheirava 'deliciosamente' a peixe de tal forma que oferecia o seu cheiro na roupa de cada um que o visitava. até 2005 lá esteve como o que os americanos consideravam o maior mercado de peixe fresco do mundo. na sua nova localização no bronx o cheiro será certamente.. a peixe

3 comentários:

J. disse...

;)

quem fala assim não é gago!

gin-tonic disse...

"Forte e colocado", para entrar em giria futebolistica. Qulquer palavra minha sobre o assunto, e bem me apetece estaria a mais por repetitiva, estragaria tudo.

T disse...

De acordo. E garanto que Barcelona até cheira bastante mal nalgumas zonas. É ir ào bairro ribeirinho onde vendem coisas do mar. E nos mercados. Mas who cares?