28 de abril de 2008

a propósito de balanços e a vantagem das anamnésias

os médicos costumam utilizar um instrumento de trabalho a que chamam anamnésia para que os ajude a lembrar a história clínica dos pacientes e evitar cometer erros de diagnóstico.

para os balanços sobre o 25 de abril convinha que as pessoas também compilassem uma anamnésia antes de entrar em depressão colectiva.

o que se ganhou com o dito?
pouca coisa, visto a esta distância.

e sabem porque visto a esta distância nos parece pouca coisa?
porque já nos esqueceços do que tinhamos e do que não tinhamos.

o que se ganhou então?

para não falar na minudência da liberdade (coisa por si só mais que suficiente, mas que os espíritos ultraliberais de hoje nos dizem que não se come),

ganhámos,
o serviço nacional de saúde (que eu não trocava pelo da maioria dos paises ocidentais); pensões de reforma generalizadas (antes, menos de metade da população portuguesa em idade de a gozar não a tinha); ensino generalizado (a quantidade de alunos que passava da 4ª classe era ínfimo e o número de analfabetos era superior a 20% dos adultos); uma aproximação notável aos índices de desenvolvimento europeus (sim .. estavamos muitíssimo mais longe do que estamos agora); o fim de uma guerra opressora para os povos que legitimamente lutavam pela sua independência,
eu sei que isto da liberdade dos outros não nos aquece, por isso eu coloco a questão em termos nacionais com o fim de um serviço militar obrigatório de 3 anos que cortava a vida a uma imensa maioria dos jovens portugueses que aos 20 anos se viam forçados a fazer um paragem que nunca sabiam se seria para sempre.

eu poderia continuar por aqui mas a presidenta acha sempre que eu faço postes muitos longos e ninguém me lê (eu acho que não leem nem os longos nem os curtos...)

e já agora, mesmo para os que acham que deviamos ter tido uma 'descolonização exemplar' como fizeram os ingleses e os franceses, aconselho-os a fazerem umas visitas turísticas ao zimbabwe, quénia, nigéria, chade, somália, sudão, congo, república centro africana.. e depois calem-se, por favor.

mas, o que eu acho ter sido o maior feito de portugal enquanto país foi, em 30 anos, ter construido pela primeira vez na sua história uma democracia, ter acabado com um império de 500 anos e que nos levou a achar que as matérias primas vinham sempre de um local garantido e eram inacabáveis; ter 'acomodado' no seu seio em cerca de um ano, um acréscimo de população de cerca de um milhão de pessoas (mais de 10% da sua população total); ter conseguido a integração europeia; ter conseguido de um modo pacífico alterar a sua moeda e adaptar-se a um mercado europeu...

isto é, portugal fez em 3 décadas o que outros países fizeram em muitas gerações e algumas guerras devastadoras pelo meio, que ajudam sempre às reconstruções.

eu podia contar algumas histórias hoje impensáveis sobre, por exemplo, o facto de nas eleições antes de 74, serem os partidos que tinham que imprimir (e custear) os boletins de voto (nos círculos onde tivessem mais de 20% dos votos tinham direito ao reembolso do custo da impressão...) e fazer chegar aos poucos eleitores (como já não se devem lembrar, apenas os chefes da família podiam votar), e que a simples entrega de um boletim de voto da oposição era um acto 'subversivo', mas isto já está muito longo e acho que a amnésia é coisa hoje devidamente alimentada pelas pessoas pera desculpar alguma reacção primária.

e já agora, a propósito de onde eu estava no 25 de abril, estava a preparar o '1º de maio vermelho'.

como podem ver isto nem era cup of my tea...

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