terá morrido uma certa forma de ser esquerda?
o meu percurso político nunca se cruzou com o de francisco martins rodrigues.
no entanto, sempre (sempre, isto é, desde 69/70) acompanhei o seu percurso teórico, já que o seu percurso organizativo depois do pcp neccesitava uma quase árvore genealógica das organizações 'soi-disant' marxistas-leninistas:
a fap que dá cmlp, que dá carp-ml, que dá orpc-ml, que dá udp e pcp (r) e acaba para ele no 'luta operária'.
no entanto, alguns dos seus textos, que me chegavam em impressões de stencil (e que recentemente ainda descobri na arrecadação onde tenho o que resta da minha biblioteca), sobre a luta de classes em portugal ou a via pacífica e a luta armada, eram dos documentos mais lidos pela minha geração (aquela pequena parte que se interessava por essas coisas) e muito discutidos por um grupo que eu integrei por essa altura na biblioteca 'operária' do caramão da ajuda e onde pontificava um dos futuros fundadores do mrpp (o tal quarto elemento que nunca é mencionado), que era comensal do tal restaurante da rua da rosa onde eu trabalhava nessa altura (até 1970).
mas mesmo colateralmente, sempre me interessei pelo percurso 'único' do xico rodrigues.
do estigma da fraqueza nos interrogatórios que procurava compensar com uma 'fidelização' obstinada aos princípios teóricos, mesmo que para mim fossem 'neo-revisionistas', como se chamava ao tempo...
estou a imaginar o imenso que se vai escrever sobre ele e sobre os episódios das suas lutas com o cunhal, a morte do pide, as amizades com o joão pulido valente (a quem deixou de falar porque este foi visitar um amigo capitalista que estava no hospital) e o rui d'espiney (a quem nunca deixou de falar mesmo sabendo que tinha imensas amigas capitalistas) ou o ostracismo a que se votou.
a morte do xico rodrigues é uma espécie de fim de ciclo.
mas um ciclo que já tinha morrido há muito tempo, e ainda ninguém lhe tinha dito.
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