25 de janeiro de 2008

A liturgia do amor freirático-1

" Odivelas foi então, nesses primeiros cinquenta anos do século XVIII, o baluarte mais firme do pequenino Deus, onde ele arrastou com arruído notório as cadeias amorosas forjadas a seu pedido pelo papá Vulcano.
Outro cenóbio, dos chamados conversativos, davam bródio de caldo amatório à revoada de frades, clérigos, burgueses, estudantes, fidalgos, bandalhos e michos que constituíam o bando freirático, esgarabulhando como nuvens de peões dançarinos nas Portarias e nas Rodas, bamboleando as perucas, sofraldando os hábitos, poetando em oiteiros, falando tiple e entoando falsete, ou derriçando em lenços de olandilha com a mão feita cabide de chapéu, mas nenhum chegou, na liturgia complicada do amor freirático, a emparelhar-se ao Mosteiro de D. Denis, cuja nomeada galante de " Labirinto dos Enganos" (onde não havia Ariadne que emprestasse um fio aos hidrópicos da paixão do Ralo) sobrepujou a de todos.

Os mosteiros da Rosa, de Santana, das Mónicas, do Salvador e do Calvário e ainda os dos arredores, de Vialonga, Castanheira e Chelas, deram que fazer às línguas maledicentes e aos quadrilheiris das corregedorias, mas a sua fama nem sequer enevooou a das bernardas ricas companheiras da Madre Paula e da Pimentinha.(...)
A vida conventual corria solta. Nesse periodo do delirio sensual do quinto João que como rei, numa corte em que todos tinham a sua freira, não podia deixar de ter duas pelo menos, os raptos, as escaladas e as violações da clausura contavam-se pelas semanas que corriam.(...)"

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"Relatos de vários casos notáveis e curiosos sucedidos em Lisboa", 1925,
Gustavo Matos Sequeira

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