21 de agosto de 2007

paredes de coura em jeito de balanço


vamos dividir a coisa assim:
1. deixem lá não era necessário estarem a incomodar-se.
2. mas afinal era isto?
3. tiveram azar no alinhamento, para a próxima a gente vai dar mais atenção
4. ainda se vão fazer gente
5. os grandes concertos

deixem lá não era necessário estarem a incomodar-se.

os primeiros que não havia necessidade nenhuma de se terem incomodado foram os babyshambles.
está bem que a coisa não lhes correu bem. os rapazes acharam que podiam viajar sem passaporte e lá ficou um em casa a apanhar mais cadelas.
como já nem a 4 a coisa é muito decente, a 3 a coisa foi verdadeiramente dispensável.
no mesmo dia, outra dispensável: a dona m.i.a.
eu sei que nisto sou imparcial e que tenho um bocado de urticária com a música de dança e mais ainda com a electrónica. mas as duas coisas juntas e ainda por cima com uma gaja com vestes de boxer tailandês aos saltos e mais a estrela tamil em jeito de visita á terra dos burghers e dos mec'nicos (nome porque os portugueses são conhecidos lá na terra dela) convencida que é a rainha de sabá... a coisa era verdadeiramente dispensável.
os terceiros verdadeiramente dispensáveis só não estão na categoria dos 'afinal era isto?' porque ainda está para nascer uma banda decente que seja aproveitada para um anuncio de telemóveis.
os peter, bjorn & john não foram bem isso porque o john (acho eu) teve que ficar lá na terra a trabalhar que a vida dele não é a música. mandaram outro em substituição. mas não acredito que a coisa tivesse sido melhor se assim não fosse: um punhado de canções pop trauteáveis qb mas que não nos adiantam nada de novo.

mas afinal era isto?

bom, esta secção é quase exclusivamente dedicada ás 'cansei de ser sexy'.
a aura com que se apresentaram em paredes de coura fazia prever o concerto do ano.
pela minha parte, e se comparar com os bonde do polé, ouvistos há bem pouco tempo mais a sul... ficam a muitas léguas de distãncia.
e aquele ar de festa de aniversário das crianças do atl de curitiba... enfim, não havia necessidade.
nesta secção poderiam estar os dinossaur jr.
não porque o concerto tenha sido mau. até podemos dizer que foi um bom concerto. mas o alinhamento a fechar a noite onde já tinhamos tido spoon, gogol bordelo, mão morta e os new york dolls também não ajudava muito à festa.
esperava-se um memorável concerto.. e não foi. foi um desfiar de canções tocadas como as conhecemos. mas é para isso que existem os discos.

tiveram azar no alinhamento, para a próxima a gente vai dar mais atenção.

os primeiros desta lista são seguramente os architecture in helsinki: entalados entre dois dos melhores concertos de paredes de coura, pareciam aqueles pobres jogadores que são contratados para jogar contra os globetrotters... noutro dia, a outra hora, talvez os tivesse escutado.
os segundos são as electrelane.
mesmo não sendo grande admirador dos grupos que fazem das teclas e da electrónica a base da sua música, estas electrelane mostraram ser muito mais que isso (a versão de 'i'm on fire' do bruce, é um cover poderosíssimo !!!). o facto de terem tocando entre a surpresa 'linda martini' e os excelentes 'sunshine underground' retirou-lhes muito do brilho. a escutar muito melhor em próximas oportunidades.

ainda se vão fazer gente
aqui é o que costuma ser a grande arma de paredes de coura e a prova de quão excelentes são os seus organizadores.
conseguem ir buscar bandas que, ou nunca por cá tocaram, ou estão num começo de carreira que rapidamente as torna incontornáveis.
nisso, paredes de coura continua a ser imbatível (e um excelente serviço púbico para os organizadores de eventos mais ricos e que são perguiçosos para irem á procura de bandas prometedoras: basta-lhes ir ao cartaz de paredes de coura dos anos anteriores e fazem um brilharete).
nestes que ainda se vão fazer gente estão os mundo cão.
um concerto poderoso num palco difícil a uma hora tramada.
abrir os festival ás 4 e meia, no palco secundário e mesmo assim galvanizar o público, só com muita qualidade. a música portuguesa presisava de rock com esta garra.
os linda martini, tirando aquele pormenor caricato de dedicar canções à namorada que não podia estar presente (alguém lhes explica que é para isso que existem as sms?), no que não são pioneiros em paredes de coura: vincent gallo passou metade dum concerto a fazer isso à 'sua' teresa (a outra metade passou-a a dizer que estava ansioso para ouvir o nick cave), mostraram, tal como os mundo cão, que se pode ter esperança no futuro do rock de guitarras em portugal. longe vão os tempos dos 'onion basement' na preparatória de massamá...
os sparta foram daqueles que quase entraram no capítulo seguinte, o dos grandes concertos. lá chegarão se continuarem assim. um excelente concerto, uma excelente banda e, como diria o folheto do festival: 'a não perder vista'.
outros que quase iam para a secção seguinte são os sunshine underground. uma grande prestação e um som poderoso. uma energia em palco a não dar descanso a ninguém.
mais uns para aperecerem por aí brevemente noutros festivais covers....

os grandes concertos
aqui estão os que já esperávamos que fossem e que não nos enganaram e ainda uma surpresa (para mim que não estive em sines).
e os grandes concertos de paredes de coura foram: sonic youth, mão morta, gogol bordelo e new york dolls.
só por estes teria valido a pena a deslocação ao minho.

os gogol bordelo foram a desbunda total a merecer uma entrada a outras horas e foi seguramente o melhor concerto 'diurno' a que já assisti em paredes de coura.
quanto aos outros, nunca desapontam ninguém: rock puro e duro tocado com a sabedoria que muitos anos de palco lhes dão.
e uma particularidade: em todos estes concertos as bandas pareciam que não se queriam ir embora, tal a comunhão com público.
é muito raro assistir a uma tal comunhão de vontades de público e músicos, com ambos a saberem que estavam a agradar ao outro e a não quererem perder esse momento.
a quase hora extra dos sonic youth é disso um exemplo elucidativo.
e a célebre declaração de adolfo luxúria, acho que deve ser entendida no seu sentido metafórico (tal como a do milagre da lama transformada em pó levantado pela assistência em delírio):
o 'último concerto' dos mão morta é mais uma espécie de aviso ao estilo de: 'gozem este como se fosse o último !!!', porque o caso não era para menos.
o semblante sorridente de adolfo luxuria no final, estava longe de ser o que quem tinha dado o adeus fosse ao que fosse (nem mesmo o joelho esfolado no slide de palco transparecia no seu sorriso, que como sabem é comedido)

feitas as contas, um dos melhores 'paredes de coura' a juntar ao lote que, desde 2005, não tem parado de nos surpreender e a garantir este festival como o festival de referência em termos que qualidade musical.

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