Termina hoje o contrato de Paolo Pinamonti, director do Teatro Nacional de S. Carlos (TNSC) desde 2001. Não sou um especialista, mas foi claro que o TNSC deu um salto qualitativo monumental nestes anos. Pinamonti sai sob uma chuva de aplausos, após uma série de episódios que levam a uma demissão miserável perpetrada por um amanuense que não deixará rasto. Pinamonti anuiu, mesmo assim, a continuar ligado ao TNSC até ao final da temporada, de modo a que a transição de direcção do teatro aconteça sem estragos de maior.
Vejo ópera desde a adolescência e acostumei-me a ir avaliando a qualidade das produções a que assisto. Pinamonti foi uma janela aberta, que nos pôs a ver e a fazer do melhor que se faz em qualquer parte do mundo. Não é este o espaço para enumerar o que foi feito – outros o fizeram já de modo competente e claro. Limito-me a recordar momentos que não esquecerei. Dos mais recentes, um Werther (Massenet) extraordinário que me fez comprar outro bilhete para a matiné de domingo após ver essa produção numa quinta feira; jóias como uma Ariadne auf Naxos (Richard Strauss), ou uma Charodeika (Tchaikovsky) menos representadas; um Orfeu e Eurídice (Gluck) em primorosa versão de concerto; voos arrojados na música contemporânea como o incrível Neither (Morton Feldman) ou, ainda este ano, um Wozzeck (Alban Berg) superior no CCB. Isto, claro, sem falar dessa revolução que nasceu o ano passado e se está a desenvolver com a força de um ciclone – a Tetralogia do Anel de Wagner, encenada por Graham Vick, que tornou o TNSC numa referência mundial, e à qual mesmo críticos mais exigentes reconhecem mérito apesar dos riscos e pontos fracos. Na próxima quarta feira estreia Motezuma, de Vivaldi. É “apenas” a estreia moderna de uma peça perdida até há pouco tempo. Estreia mundial. De um dos maiores compositores da história. Cá.Em Lisboa. Não é em Londres, Nova Iorque, Berlim ou Viena. É aqui.
Paolo Pinamonti, obrigado. Volte sempre. Enquanto existir um melómano em Portugal este país será também seu.
Vejo ópera desde a adolescência e acostumei-me a ir avaliando a qualidade das produções a que assisto. Pinamonti foi uma janela aberta, que nos pôs a ver e a fazer do melhor que se faz em qualquer parte do mundo. Não é este o espaço para enumerar o que foi feito – outros o fizeram já de modo competente e claro. Limito-me a recordar momentos que não esquecerei. Dos mais recentes, um Werther (Massenet) extraordinário que me fez comprar outro bilhete para a matiné de domingo após ver essa produção numa quinta feira; jóias como uma Ariadne auf Naxos (Richard Strauss), ou uma Charodeika (Tchaikovsky) menos representadas; um Orfeu e Eurídice (Gluck) em primorosa versão de concerto; voos arrojados na música contemporânea como o incrível Neither (Morton Feldman) ou, ainda este ano, um Wozzeck (Alban Berg) superior no CCB. Isto, claro, sem falar dessa revolução que nasceu o ano passado e se está a desenvolver com a força de um ciclone – a Tetralogia do Anel de Wagner, encenada por Graham Vick, que tornou o TNSC numa referência mundial, e à qual mesmo críticos mais exigentes reconhecem mérito apesar dos riscos e pontos fracos. Na próxima quarta feira estreia Motezuma, de Vivaldi. É “apenas” a estreia moderna de uma peça perdida até há pouco tempo. Estreia mundial. De um dos maiores compositores da história. Cá.
Paolo Pinamonti, obrigado. Volte sempre. Enquanto existir um melómano em Portugal este país será também seu.
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