O meu 25 de Abril é feito de pedaços de recordações. Afinal, eu tinha apenas cinco anitos (quase seis).
Uma parte do meu 25 de Abril são os rostos e as vozes dos militares portugueses em África, através da televisão, desejando Feliz Natal e Próspero Ano Novo (achava muita piada à palavra próspero, apesar de não fazer a mais pequena ideia do que ela queria dizer) aos familiares em Portugal.
Outra parte é preenchida com as lágrimas de alegria da minha tia Alice quando recebeu nos seus braços o meu primo Manel quando este regressou para ficar. Mas nesta parte cabem também os meus primos Hélder (pertenceu aos comandos e viu morrer ao seu lado inúmeros colegas de armas) e António que por lá andaram e sobreviveram.
Noutro canto do meu 25 de Abril há também espaço para os ombros do meu pai que me carregaram para que eu pudesse ver melhor a alegria das pessoas que enchiam o Largo de Carmo com montes de cravos e gritos de ordem. Não sei em que dia foi mas sei que foi por causa do 25 de Abril. Só muitos anos depois liguei o que tinha na memória ao espaço físico do Largo do Carmo quando por lá passei já com 17 ou 18 anos.
Logo pegadinho a este pedaço de recordação está outra em que, vindos do Cadaval, fos obrigados a parar o Fiat 850 às portas de Torres Vedras por um grupo de soldados barbudos que prontamente revistaram o carrinho de ponta a ponta perante os nossos olhares assustados (meu e dos meus dois irmãos).
Há ainda a parte do meu 25 de Abril em que sempre que caminhava por cima de cascalho cantarolava "Grândola Vila Morena, terra da fraternidade…" (sendo que "fraternidade" era outra palavra cujo significado não entendia)…
O meu 25 de Abril é a soma de todas estas partes que vou compondo com documentários televisivos, com leituras de livros, etc…
Viva o 25 de Abril! Mas viva o 25 de Abril que viveu no pensamento de todos aqueles que o arquitectaram!
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