Na falta de inspiração buscamos nas palavras dos outros o sentido dos nossos pensamentos.
"O suicídio é apenas a confissão de que a existência 'não vale a pena'. Viver, naturalmente, nunca é fácil. Continuamos a fazer os gestos que a existência ordena, por muitas razões, a primeira das quais é o hábito. Morrer voluntariamente implica reconhecermos, mesmo instintivamente, o carácter irrisório desse hábito, a ausência de qualquer razão profunda de viver, o carácter insensato dessa agitação quotidiana e a inutilidade do sofrimento....Esse divórcio entre o homem e a sua vida, entre o actor eo seu cenário, é que é verdadeiramente o sentimento do absurdo. Como todos os homens sãos já pensaram no seu próprio suicídio, pode reconhecer-se, sem mais explicações, que há um elo directo entre tal sentimento e a aspiração ao nada.O assunto deste ensaio é precisamente essa relação entre o absurdo e o suicídio, a medida exacta em que o suicídio é uma solução para o absurdo. Pode admitir-se como princípio que para um homem que não faz batota, o que ele considera verdade deve regular a sua acção. A crença no absurdo da existência deve pois ordenar a sua conduta. É uma curiosidade legítima perguntarmos a nós próprios, claramente e sem falso patético, se uma conclusão desta ordem exige que se abandone, o mais depressa possível, uma condição incompreensível. Falo aqui, bem entendido, dos homens dispostos a porem-se de acordo consigo próprios."
in O mito de Sísifo, Albert Camus, Edição Livros do Brasil, tradução de Urbano Tavares Rodrigues
Tenham um bom fim-de-semana
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