albertina dias voltou a trabalhar no desporto.
albertina dias nasceu e cresceu no bairro de miragaia, no porto.
como a esmagadora maioria das crianças daquele bairo, tem a escolaridade mínima e uma enorme força de vontade.
tal como a sua colega e amiga rosa mota, aprendeu a correr pela marginal do rio.
de miragaia até à foz. e de volta até à ribeira.
em 1993 foi campeã do mundo de corta mato. em 94, 95 e 96 foi simultaneamente campeã da europa de corta mato e de estrada. para além de muito outros títulos e participações olímpicas.
albertina matos foi treinada em grande parte da sua carreira por bernardino pereira, com quem viria a casar e de quem teve um filho.
bernardino pereira morreu.
albertina perdeu o marido, o pai da sua filha de 6 anos, o seu treinador.
em simultâneo com o aproximar do final da sua carreira como atleta de alta competição.
sem treinador. sem clube. desempregada.
albertina dirigiu-se ao centro de emprego do porto na esperança de encontrar trabalho compatível com a sua experiência de vida.
foi sempre preterida por candidatos que tinham qualificações académicas.
não é suposto alguém com a 4ª classe ensinar crianças.
diz-se.
foi vendendo bens para viver.
até que já quase nada restava.
não existia lugar para uma pessoa que foi durante vários anos a melhor atleta mundial de crosse servir de exemplo e de modelo.
este mês, guilherme aguiar, sabendo da história, convidou albertina para fazer um trabalho piloto com as crianças de gaia no centro do pedroso.
finalmente alguém percebeu que estas pessoas são uteis.
finalmente alguém compreendeu que estas pessoas, mesmo que fosse só pelo exemplo, podem ser modelos para as crianças.
finalmente alguém parece ter cérebro e usá-lo.
haja esperança.
não está tudo perdido.
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