Gostava que esse dia não chegasse. Talvez valesse a pena que o Apocalipse acontecesse por estes dias, antes. Agora que penso nisso, os que cá estiverem vivos no dia do Apocalipse serão uns autênticos privilegiados: vão poder ser julgados no Tribunal do Eterno em estado de... vivos.
Aquela ideia de chegar às portas do Céu, ou ao pbx de S. Pedro, ou ao cais das barcas, já morto, e só aí negociar ou regatear uma vagazinha no Céu nunca me pareceu nada bem. É que, suponho, uma boa porção da minha eloquência, do meu poder de argumentação, da minha capacidade persuasiva se perderá pelo facto de estar em estado de não-estar vivo. E o descolar da alma em relação ao corpo e a viagem pelos vórtices não físicos do mundo espiritual também deteriorarão significativamente as nossas capacidades intelectuais, já para não falar no penteado. Registar na agenda: apanhar uma high de LSD como preparação para a “grande viagem espiritual” (mas onde é que se compra LSD? -> ver no Google, não, ver antes no pingodoce.pt, pode ser que ma tragam a casa).
Mas as minhas grandes expectativas recaem mesmo é no frente-a-frente com... Deus. Olhar aqueles olhões, aquela barba comprida de quem tem a mania que é dono do mundo, as mãozinhas rugosas de quem trabalhou sete dias e passou o resto do tempo, que vendo bem não foi nenhuma eternidade, da Criação ao Apocalipse também não foi assim tanto tempo, e passou o resto do tempo a contemplar cá para baixo – e depois de observá-lo assim olhos-nos-olhos, tu cá tu lá, tête-a-tête, dizer-lhe tudo o que penso e ter a hipótese de convencê-lo de algumas coisas importantes e finalmente propor-lhe sociedade: isso tudo é que vai ser um grande regozijo!
Mas isso é quando acontecer. Por enquanto vou limitar-me a esperar que aconteça: o Apocalipsezinho para antes daquela data.
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