A demagogia é não fazer o menor esforço para compreender a realidade, enquanto que se diz mal dos políticos e bem do povo. O povo e os políticos não são de raças diferentes e o povo também vota, por exemplo, no Hitler. O povo também faz e defende o que está mal e é injusto desde que lhe convenha. Cada sector do povo defende o seu interesse para mal da justiça e quase todos os sectores do povo têm interesses injustos. O resultado é este equilíbrio em que eu não critico os outros para que eles não me critiquem a mim e nada se muda. Fica tudo na mesma (péssimo) e então dizemos que a culpa é dos políticos quando os políticos limitam-se, de facto, a fazer exactamente o que o povo quer: não mudar rigorosamente nada de nada e fazer política em função de sondagens. Políticos e povo são exactamente o mesmo. Alguma coisa mudará para melhor quando as pessoas votarem e ou exigirem não em função dos seus interesses mas em função do que é justo, quando as pessoas forem capazes de defender ideias contra os seus interesses mas em favor da justiça.
Em democracia, lutar não é fazer greves e manifestações e cortes de estrada e abaixo-assinados e andar à tareia com a polícia. Quem luta dessa forma não consegue nada e é muito bem feito que não consiga nada. Lutar é o estudante pobre estudar a sério sem ter como desculpa para as más notas o facto de ser pobre; é o trabalhador trabalhar mesmo e ter talento e coragem para se tornar pequeno empresário ou ter talento e esforço para estudar à noite e aumentar as possibilidades de ser promovido merecidamente ou mudar merecidamente para um emprego melhor; lutar é o pequeno empresário que tem sucesso com um restaurante decidir abrir outro restaurante em vez de comprar um mercedes para o filho; é o filho do grande empresário estudar para multiplicar a riqueza do pai em vez de se limitar a viver às custas dela.
As excepções que talvez tenham direito a ir para a rua manifestarem-se não contra os políticos mas contra o resto do povo, a quase totalidade do povo são: as mulheres de 60 anos que lavam o chão nas escolas públicas mas que não são funcionárias públicas e que portanto não vão ter reforma de 100% nem têm acesso à ADSE nem se podem reformar por motivo de saúde apesar de terem todos os motivos de saúde para se reformarem; os doentes graves que nem recebem dinheiro para serem tratados em hospitais privados nem recebem um tratamento atempado e de qualidade nos hospitais públicos; os deficientes físicos e mentais e as suas famílias, tanto as pobres como as ricas.
Querem colectivismo, comunismo, planificação e dirigismo? Querem menos privatizações, mais empresas públicas, RTPs, RDPs e CGDs? Querem mais funcionários públicos e com mais privilégios ainda? A porta da Coreia do Norte está aberta! Vão para lá e divirtam-se e queixem-se que foi uma pena que Portugal não se tenha transformado na Coreia do Norte no pós 25 de Abril! Queixem-se deste capitalismo odioso que força as pessoas a trabalhar e os empresários a competir e que não tem meias medidas para aqueles que não se esforçam não sendo funcionários públicos e que nos torna tão diferentes desses países maravilhosos que são a Coreia do Norte e Cuba e já agora a magnífica Albânia!
19 de janeiro de 2005
Demagogia e Luta
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