São 21 horas do dia 24 de Dezembro de 2004. Hoje as portas das celas estão abertas até mais tarde, o jantar é quente e os guardas estão mais simpáticos. É a única altura do ano em que têm consciência de que estão tão presos como nós. A família vem amanhã visitar-me e trará mais meias e camisolas. A minha mãe dirá pela enésima vez: "deste cabo da tua vida". Eu finjo contentamento por os ver e tento esquecer-me dos dias de natal em que não prestavam qualquer atenção aos meus desejos, aos meus pedidos de ajuda, aos meus gritos de revolta.
Foi preciso cometer um crime para ter natal. De facto o verdadeiro espírito de natal é este. Só o merece quem é digno de pena e para ser digno de pena é preciso estar doente, pobre ou privado da liberdade.
Afinal, só se comemora o nascimento do "artista" porque supostamente morreu pendurado num sítio qualquer.
A seita religiosa criada a partir destes supostos factos, fez o resto.
Queria ver se me mantinham aqui mais uns tempos para continuar a ter natal.
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