a propósito da bienal de artes de são paulo (que agora decorre) e lembrado pela arte lisboa que também está a acontecer por estes dias, veio-me à cabeça esta canção do zeca baleiro, a propósito da primeira, que um ano foi dedicada ao magno tema da 'desmaterialização da obra de arte no fim do milénio'
bienal
(zeca baleiro)
desmaterializando a obra de arte no fim do milênio
faço um quadro com moléculas de hidrogênio
fios de pentelho de um velho armênio
cuspe de mosca pão dormido asa de barata torta
meu conceito parece à primeira vista
um barrococó figurativo neo-expressionista
com pitadas de art-nouveau pós-surrealista
calcado na revalorização da natureza morta
minha mãe certa vez disse-me um dia
vendo minha obra exposta na galeria
meu filho isso é mais estranho que o cu da jia
e muito mais feio que um hipopótamo insone
pra entender um trabalho tão moderno
é preciso ler o segundo caderno
calcular o produto bruto interno
multiplicar pelo valor das contas de água luz e telefone
rodopiando na fúria do ciclone
reinvento o céu e o inferno
minha mãe não entendeu o subtexto
da arte desmaterializada no presente contexto
reciclando o lixo lá do cesto
chego a um resultado estético bacana
com graça de deus e basquiat
nova iorque me espere que eu vou já
picharei com dendê de vatapá
uma psicodélica baiana
misturarei anáguas de viúva
com tampinhas de pepsi e fanta uva
um penico com água da última chuva
ampolas de injeção de penicilina
desmaterializando a matéria
com a arte pulsando na artéria
boto fogo no gelo da sibéria
faço até cair neve em teresina
com o clarão do raio da silibrina
desintegro o poder da bactéria
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