16 de novembro de 2004

Caminho e o sol brinca comigo e tece sombras no chão. Tento não as pisar. Prefiro caminhar a vir contigo, enclausurada no carro e sempre agarrada, para evitar as travagens bruscas que fazes. Não gosto quando metes o dedo no nariz prolongadamente e de forma metódica, em todos os sinais que paramos. E cansa-me o rádio sempre ligado numa chinfrineira agressiva.
Estou cansada de tudo, não só de ti. Hiberno e protejo-me do exterior.
Por isso, gosto de caminhar entre esta luz, que me aquece e me devolve a vida.
Parecerei nostálgica talvez, o meu olhar não é sorridente. Talvez apenas vazio, num esforço inútil , um vôo cego a nada, como escreveu R. Ferreira e cantou Fausto.
E, enquanto ando, penso na minha presença neste blog, algo como um exorcismo e uma libertação. Não é por vivermos numa casa cheia de gente, que vivemos mais ou menos sozinhas. A solidão sempre gostou de mim e enlaça-me sem eu saber. Aprendi a viver com ela, mas ninguém a vislumbra. Ou será, que ninguém me reconhece?
Esta sensação que vou ser lida, inquieta-me um pouco, mas por outro, tranquiliza-me.
A paz que traz o sol. Os benefícios da hibernação.
Ao menos aqui, fluo. Pelo menos aqui. Certamente, só aqui.

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