dizia o g no poste de baixo, que nesta rádio passam umas músicas estranhas.
é possível.
talvez algumas dessas músicas estranhas venham a ser tão clássicas no futuro como o tio bach (que já foi moderno) o é hoje.
para mim (e para efeitos práticos) a música divide-se em duas àreas distintas:
1. a que canto
2. a que oiço
a que canto é fundamentalmente a que vai da medieval até aos finais do barroco (por uma questão de preferência pessoal), com incursões esporádicas pelos clássicos, românticos e contemporâneos.
neste momento o que ando a cantar é um magnificat do filho do bach (o carlos filipe), um motete do dito (o joão sebastião), um te deum do delalande, e um laudatório a uma coroação, do haendel.
igualmente canto música tradicional. porque sim. porque gosto.
muito
o que oiço é muito diferente.
é fundamentalmente o que me leem escrever aqui,
o gozo que me dá 'fazer' música é diferente do gozo que me dá ouvi-la.
dá-me imenso gozo cantar música gregoriana.... mas ouvi-la, a maior parte das vezes é uma seca.
aquele prazer imenso de estar a cantar uma coisa em que parece que estamos sempre no fio na navalha, no limite do abismo... que temos que andar 5cm acima do nível do chão.. sem nunca descer um milímetro.
esquecer os ritmos e os compassos e cantar a frase melódica por inteiro... levá-la até ao fim. mesmo.
sem ceder
cantar o sentido e não o ritmo escrito.
esse prazer não há em ouvir tom waits, ou mariannes, ou doors, ou seja lá quem for...
mas ouvir outrem a cantar isso tambémnão me dá esse gozo.
aliás dá-me muito pouco.
pegar, por exemplo, no te duem do delalande, e odiar as dificuldades, chamar nomes ao senhor que coloca as notas ao nível do alpinismo.
em que cantar aquilo, para além de exigir a amputação dos dois testículos ainda obriga a um alfinete espetado para lá chegar acima, mas sentir o prazer de 'ver' aquilo a contruir-se...
não hà nicks cave que dê, não há bruce que nos valha.
como na música tradicional....
cantar as 'alvissaras' e ter na memória o local e as pessoas que nos ensinaram aquilo.
os quilómetros que andámos a pé para chegar a souto da casa para ouvir e gravar aquelas senhoras.
ou as solas gastas até moimenta da raia, tuizelo, lavacolhos, pinhel, alter do chão e tantos outros caminhos andados para aprender umas canções que nos ensinam e ser melhores e mais completos.
porque não são apenas as canções: são as pessoas, os locais, a história. sou eu também.
o rock e a pop mais ou menos alternativas dão outros prazeres e puxam outras memórias.
mas definitivamente outras.
menos completas.
mas também são aquelas sobre as quais me habituei a escrever.
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