Um dia destes tinha mesmo de escrever um post sobre os clichés mais comuns. Ei-lo. Por exemplo, o cliché dos poemas à Pedro Abrunhosa: "o teu corpo despido na praia ao luar/levanto-te o véu/e deixas-me acariciar/o corpo de princesa que agora é meu," etc..
Outro cliché é o das pequenas estórias à Pedro Paixão e outros membros da mesma espécie: "vi-te nua na cama. Olhaste para mim como quem queria dizer não. Abriste as pernas lentamente. Mais tarde éramos os dois um só," etc., etc..
Outro top de vendas dos clichés é qualquer coisa como: "estou habituado a ser perfeito mas já não consigo. Tudo me enche de tédio e vou escrevendo estas linhas sem sentido nenhum só porque sou um chato e apetece-me dar prazer a quem ainda é mais chato do que eu," etc., etc., etc..
A moderna poesia tributária de Florbela Espanca entermeada com muito Fernando Pessoa (o ortónimo): tu és a minha paixão que me ilumina até me cegar/foste o eterno poema efémero no mar/serás o vazio que tudo enche na minha alma em flor," e por aí adiante...
Há também um género mais bucólico, tipo "se o Mia Couto escrevesse poesia e eu fosse o Mia Couto": eu olhei o passarinho/o passarinho olhou para mim/que bonita é a natureza" (este exemplo não é da minha autoria).
A figura de estilo mais comum é, obviamente, o paradoxo. O uso dos "tus" e dos "teus" confere o habitual pendor intimista tão apreciado na ultra moderna, ultra actual e muitíssimo pós-urbana literatura lírica cliché.
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