Comprimentamo-nos de aperto de mão. Entra no gabinete e senta-se. Dou uma volta rápida à ficha. 17 anos. Mãe do João. Olho melhor. O João nasceu em 2002. Olho de novo para ela. Foi mãe aos 15. Bom aspecto, tranquilo. Vem porque está insatisfeita com a pílula e quer mudar. Faço perguntas. Não tem neste momento vida sexual activa – o pai do filho já não está por perto e não há ninguém em vista. Vive em casa da mãe. Trabalha para si e para o filho. Pergunto porque quer mudar de pílula. Para acertar o período que com esta não vem certo. Volto a perguntar sobre namorados. Reforça que não e vê-se que é verdade. Pergunto sobre o trabalho. Vai bem. Dá para viver. Estudou? 11º ano. Porque não acabar o 12º e fazer mais qualquer coisa? Os olhos animam-se. Sim, claro, estou a pensar nisso já para o ano. Explico o mecanismo da nova pílula. Segue a explicação com atenção. Quando lhe entrego o boletim que lhe dá acesso à pílula gratuita algo se lhe desanuvia no rosto. Explico mais alguns pormenores com cuidado na linguagem para que nada escape. O ar sério faz que, a certa altura, me escape tiveste de crescer muito depressa nestes dois anos, não foi? Muito raramente uso o “tu” nestas circunstâncias mas, neste momento, sinto que está certo. Olha-me com um olhar de mil anos: Muito. Em voz baixa, quase sussurrada.
Dentro de dois meses vamos rever a situação.
Música:
The Plan
Low – the curtain hits the cast
Vernon Yard Recordings, 1996
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