3 de maio de 2004

Abaixo de Braga

Não gosto nada de quando as pessoas me dizem que no Porto é que é. Que lá é que se tratam bem as pessoas, que lá é que se sabe receber, que as pessoas são mais afáveis, que lá é que as pessoas são verdadeiras e coisas que tais. Dizem-me isto frequentemente, depois de saberem que sou natural do Porto (acho que um pouco por simpatia e um pouco por romantismo, não diria condescendência, pelo “antigamente” que existe no imaginário comum). Aconteceu, ainda não há um mês, no cabeleireiro e dei por mim numa espécie de fúria, a dizer que as pessoas são todas iguais, que isto da idealização dos Portuenses era uma treta, que lá há pessoas boas e más como em todo o lado. Que se trocássemos Porto e Lisboa, daqui a 200 anos estaríamos como estamos agora. Gosto de pensar que é assim, embora não me pareça nada verosímil. Digo isto porque há realmente padrões de comportamento regionalizados. (Isto tudo veio-me à tola porque a madrastinha sugeriu que déssemos azo à nossa Nortendade. No caso, mandar abaixo de Braga quem nos acusasse de lamexisse.) De qualquer forma no outro dia descobri que 80% dos moradores de Alfama, um dos mais típicos bairros de Lisboa, é proveniente do Alentejo. E gostei.

Acontece que ultimamente tenho-me dado conta de uma diferença Norte/Sul a que me custo habituar. Aqui, em Lisboa e arredores, raramente vejo olhares lascivos e nunca ouço piropos. Já nem falo do palavrão, esses uso da mesma forma, mesmo que me olhem de uma forma suspeita (e olham). Em todo o caso, serviria este post para incentivar à ordinarice do olhar que é uma coisa bonita e que faz falta, porque às vezes uma pessoa sai de casa sem olhar o espelho e precisa de gente que a oriente. Vá malta, vamos parar de olhar para o chão, bora lá ter olhares mais corajosos e assim a modos que libidinosos. Prontz. Era isto.

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