1 de abril de 2004

AVC

O Dia foi ontem, 31 de Março de 2004. Comemoração estranha, ou talvez não. Efectivamente morre muita gente de acidente cerebral vascular. Tanta, que é provável que algumas certidões de óbito sejam de AVC porque, na dúvida, é uma boa hipótese do que provavelmente aconteceu.

Todos temos de morrer. Pior, todos vamos morrer um dia; uma boa fatia de nós todos (sim, isto inclui-o/a a si, caro/a leitor/a, ainda que não lhe apeteça pensar no assunto) irá ter um AVC antes de morrer. Poderá morrer logo, mas é mais provável que se ande a arrastar uns tempos, literalmente. A arrastar uma perna (se a conseguir mexer) um braço ou mão (se conseguir pegar em alguma coisa) ou a voz (se conseguir falar). Um doente meu, homem lúcido e diferenciado, recuperou fisicamente muito bem. Comunicar com ele, contudo, é uma aventura – troca as palavras de forma completamente ilógica. Leia-se o De Profundis, Valsa Lenta de José Cardoso Pires e percebe-se o que é o inferno.

Para nos safarmos disto? Provavelmente não temos hipótese, pelo menos nestas gerações, de resolver o problema de vez. Até lá, e para não infernizar a vida às pessoas com medidas de impacto violento na qualidade de vida mas de efeito duvidoso na diminuição dos problemas de saúde, apenas duas palavras: tabaco e hipertensão.

Da segunda, direi apenas que o seu controle e tratamento são relativamente fáceis, pelo que é uma questão de falta de informação (uh?), desinteresse (só acontece aos outros) ou desleixo (quero que se lixe). Ou seja, hoje só não controla a hipertensão quem não quer (raramente quem não pode), o que é pena.

Do tabaco, e não querendo discutir os traficantes da Tabaqueira, Philip Morris e seus associados, direi que se trata do maior atentado à saúde pública mundial alguma vez infligido por humanos contra humanos. Direi que a toxicodependência que dá pelo nome de tabagismo é muito difícil de controlar. Direi que tudo o que puder ser feito para convencer as pessoas a deixar de fumar vale a pena. Direi que não advogo métodos coercivos, moralistas, cruzadistas ou qualquer outro método atentatório da liberdade do meu próximo para acabar com o tabaco, mas gostava de ver os governos alocarem um décimo do que é gasto em publicidade ao tabaco em campanhas educativas nas escolas. Para ver se os nossos filhos ficam um pouco menos estropiados por canalizações entupidas, fora os outros problemas cujo dia não se comemorou ontem.

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