António Guterres explicou-se finalmente por se ter demitido de Primeiro-Ministro. A razão apontada foi que já não tinha condições para implementar o seu projecto para Portugal uma vez que as eleições autárquicas tinham sido altamente desfavoráveis para o seu partido.
Esta desculpa esfarrapada é absolutamente inaceitável. Guterres diz que teria dificuldade em fazer passar as propostas de lei do seu governo na Assembleia da República. Mas em Portugal quem vota as propostas de lei são os deputados e não os autarcas!!! As eleições autárquicas não lhe vieram tirar os 115 paus mandados (deputados) que dispunha no parlamento de 230 lugares!!! Além disso, a legislatura já ia a meio (e já era a segunda legislatura em que estava no poder!) pelo que já deveria estar na fase de finalizar o "projecto" e não de iniciá-lo. A sua saída representava pois, se por acaso considerar-mos que o PS tinha à altura algum projecto em curso..., o abortar de qualquer projecto.
Guterres queixou-se ainda de ser criticado quando, para passar os Orçamentos Gerais do Estado, comprava o deputado eleito na circunscrição de Ponte de Lima. Então Guterres comprava o deputado sem a menor vergonha na franja, com toda a lisura, recalcitrantemente e com a complacência do presidente da república (socialista) e ainda vem agora queixar-se de que o criticavam???
Vejamos bem as coisas: Guterres tinha 50% do parlamento em seu poder, com presidente da Assembleia da República socialista, tinha um presidente da república socialista, tinha grande parte das autarquias, tinha um deputado comprado, tinha um comissário europeu socialista e tinha um partido social-democrata que não falava noutra coisa senão em estabilidade - e só porque o seu partido perde as autárquicas acha que o seu governo já não tem condições para governar??? Como diz o outro, se a moda pega, é ver candidatos a primeiro-ministro dizer que só governam se tiverem maioria absoluta e presidente do seu partido e autarquias do seu partido e comissário europeu do seu partido e todas as empresas públicas controladas por gente do partido e todos os altos funcionários públicos do seu partido e, já agora, as chefias militares e os mais altos tribunais controlados por gente do seu partido!
Será que Guterres não percebe que está assim a assumir uma inconcebível incapacidade de gestão política democrática? Ou seja, está a admitir que não foi capaz de governar só porque um dos níveis de poder em Portugal não estava sob o seu domínio mas sob um maior domínio de outro partido. Recordemos ainda que o poder local é autónomo face ao Governo, o que torna aquela atitude ainda mais inaceitável. E queria ele e o PS a regionalização!!! Ele, que não podia governar só porque o nível inferior de poder administrativo não era controlado por si, era porém defensor da criação de mais um nível de poder!!! Absurdo!!!
Será que Guterres não percebe que isto é a confissão da mentalidade podre de jobs for the boys (para governar é necessário primeiro banir de todos os cargos públicos aqueles que sejam de outro partido)?
Falta ainda recordar que outros em Portugal e no mundo governaram e governam sem que o poder local seja predominantemente do seu partido. Lembremos Cavaco Silva ou a situação actual na França. E também falta recordar que assim como, ao contrário de todas as previsões, a segunda vitória eleitoral de Guterres foi fortíssima (da primeira para a segunda legislatura aumentou o número de deputados enquanto que o PSD perdia 5, CINCO!), também as eleições autárquicas não foram tão acentuadas contra o PS como Guterres e os jornais afirmaram.
Guterres diz que não queria o poder pelas mordomias e os Mercedes pretos. Sabemos que não. Guterres queria (E QUER!) o poder por causa de si (ele) mesmo. Guterres nunca esteve voltado para o país nem nunca teve projecto. Guterres esteve sempre voltado para si mesmo, para as sondagens. Para ele, os projectos faziam-se a posteriori, depois das sondagens. E uma vez implementada uma política, era capaz de voltar atrás só por causa de uma minoria resistente e barulhenta. Guterres não teve e não tem ideal nem projecto nem competência e o seu único objectivo, que não são os Mercedes, é o de sentir o gozo de ter poder, de ter gente que controla e, sobretudo, de ter muitos portugueses a dizer bem de si. Guterres é o incompetente narcisista, é aquele de quem se gosta só porque tem boa imagem e aparenta ser incapaz de fazer mal a alguém. Além disso, é impossível sentir ódio a quem nunca revela ou defende nada de forma firme. As suas posições políticas, se tinha coragem de as revelar (raramente), eram sempre moderadas ou ditas em voz baixa.
A razão para se ter demitido foi esta: dar tempo suficiente para os portugueses se esquecerem dele e da sua política (ou da falta dela) para quando chegarem as eleições presidenciais ele possa de franja no ar candidatar-se.
Já houve quem dissesse que se Santana for presidente esse alguém quererá ser espanhol. Eu digo que se Guterres for presidente eu nem espanhol quero ser porque é muito perto. Quero ser de um país longe, daqueles países em que quem é mau político não volta a ganhar nem tem o despudor de voltar a candidatar-se.
Sem comentários:
Enviar um comentário