Num texto intitulado Poesia e Verso, inserido no raro livro De Poetas e de Poesia, Manuel Bandeira diz que não sabe definir a poesia. Elenca um bom número de definições, começando com a de Schiller ("Poesia é a força que atua de maneira divina e inapreendida, além e acima da consciência"), passando por Ruskin ("Poesia é a apresentação, em forma musical, à imaginação, de nobre fundamentos às nobres emoções"), e indo até o para ele recente Valéry ("Poesia é a tentativa de representar ou de restituir por meio da linguagem articulada aquelas coisas ou aquela coisa que os gestos, as lágrimas, as carícias, os beijos, os suspiros procuram obscuramente exprimir").
Pro Bandeira, todos estão certos, mas nenhum dá conta de abarcar a poesia no total. Ela é tudo isso, mas é muito mais do que isso. E ele não sabe dizer o que seja isso tudo, nem encontrou, no muito que leu, quem soubesse. Em todo caso, Manuel Bandeira não chegou a afirmar que "poesia é o que a gente acha que seja poesia"; era de um tempo e de uma formação em que dizer isso seria inconcebível. Hoje, claro, a história é outra.
Em todo caso, se hoje se comemora o Dia Mundial da Poesia... comemora-se uma coisa que não se sabe ao certo o que seja. Que não tem definição nem por quem a faz, de cuja utilidade freqüentemente se duvida (quando não se faz chacota), que quase não se lê e ainda menos se entende, e a respeito de cuja(s) forma(s) há discussões sangrentas ainda hoje.
Se Bandeira não sabia o que é poesia, vou saber eu? Vivo sem ela, mas prefiro não viver.
A vida é breve, a alma é vasta.
Sem comentários:
Enviar um comentário