5 de fevereiro de 2004

Sem.

Disse-te ontem à noite. Vou morrer de manhãzinha. Criticaste o uso do "inha" e achaste que era cretinice da minha parte.
Mas estou cansada de ouvir os pássaros a bater cá dentro. As asas não páram.
E de repente os tiquetaques dos relógios todos da casa, aqueles que teimas em coleccionar, começaram a ser insuportáveis.
Ouco-os e apetece-me atirá-los pela janela.
Esborracho o nariz no vidro gelado e vejo a rua. Ainda gosto de luzes e cores. Mas tudo parece pardacento e baço.
Sinto-me presa e não gosto. As palavras aborrecem-me. Cada vez menos fluem.
Talvez as almas precisem de apanhar ar. As fugas ainda são possiveis.
Não me apetece voltar para a cama. Estão lá sombras.
E não, não estou deprimida. Já to disse.
Há dias em que ser nós próprios nos oprime.
Sonha-se outra forma de estar.
E o não estar parece apetecivel.
Dialécticas de merda, dizes tu e tens razão.
A diferença é que tu e eu somos um só. No caso, uma.
Só por precaução, fechei os relógios todos num armário.
Nunca se sabe o que pode acontecer, quando acordar às 5 da manhã, como de costume.





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