Hoje a minha cidade faz 450 anos. Visto assim, em números desse tamanho, parece grandes coisas, mas São Paulo começou a crescer, a virar megalópole, de uns 150 anos para cá. Por 300 foi vilarejo de três ruas, agraciado mais tarde com uma faculdade de Direito que era, à época, mais uma dessas despirocadas dos governantes.
Foram os imigrantes que levantaram isto aqui. Italianos em sua maioria, mas também muitos japoneses, uns tantos ingleses e alemães, e, claro, portugueses em grande número. Vinham todos para a lavoura, porque ninguém achava certo pagar salários aos escravos recém-libertos, mas não ficavam; em pouco tempo vinham todos à cidade. Povoaram-na, espicharam-na, fizeram fábricas e avenidas. Submergiram a oligarquia de fazendeiros que aqui sempre mandou.
Os Tosetto vieram para cá de vez em 1900, quando meu avô, carpinteiro de boa qualidade, deixou Serra Azul. Havia mais italianos aqui do que em Buenos Aires, concentrados principalmente no Brás, no Bixiga e na Barra Funda (há um livro delicioso do Alcântara Machado com esse nome, Brás, Bixiga e Barra Funda). Os Tosetto ficaram no Brás, e ainda lá estão, na pessoa do meu intrépido irmão. Família de seis irmãos, todos gente de meter a mão à massa e não se preocupar demais com filosofices. Brutos como eles só. Enfim.
Hoje haverá festas mil, bancadas pela prefeita Martaxa com o nosso suado dinheirinho. E tome Caetano Veloso cantando "Sampa", Rita Lee fazendo gracinhas, Fafá de Belém emprestando os peitos à Orquestra, jogo de futebol gratuito, bolo de 500 metros, foguetório, fonte iluminada no Ibirapuera, obelisco faxinado.
Eu, o que queria, era só um bocadinho de silêncio. Impossível conseguir.
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