O Gasel anda cheio de balanço. Haja quem funcione assim, que Lisboa acordou encharcada e murcha como um caixote de cartão debaixo de chuva. Às oito e meia o escriba compra o “Expresso” no seu quiosque habitual. O dono, homem tranquilo e de pouca fala, embrulhado no casaco, lá ia ensacando vinte e quatro quilos e meio de suplementos de tralha natalina. Os americanos chamam a essa tralha stuff. Soa ao que é realmente. “Natal é quando o marketing quiser”, lia-se ontem escarrapachado algures.
Por cima do palácio da Pena vogam nuvens pesadas, vindas do mar, preparando-se para demolhar as hortas do Oeste, de onde se presume venham as couves para o bacalhau. Ao computador, o escriba vai alinhando ideias de outros trabalhos entre mãos e organizando textos para outras publicações não bloguísticas. Pensa comentar dislates vários, como muito do que tem sido dito sobre urgências pediátricas, genéricos e afins, mas decide que não está com paciência para isso.
O Natal aproxima-se, agradável para alguns, fingido para muitos, deprimente para mais uns poucos. Há muita gripe, muitas artroses, muita tosse irritativa. Uma colega morreu ontem, subitamente, com pouco mais de cinquenta anos. Em Agosto outro tinha feito o mesmo. Este era um amigo que fará sempre falta.
E de repente não lhe apeteceu escrever mais. Há coisas que se sobrepoem a tudo e nos deixam mudos.
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