8 de novembro de 2003

Meus Caros, afinal há gente civilizada!

Hoje, pelas 13:00 horas, recebi um telefonema do meu-mais-novo dizendo: "- Papá, quando voltei para junto do carro, que deixei bem estacionado, dei conta que mo tinham amachucado, na traseira do lado do condutor... e, ainda, que o carro que está parado à minha esquerda apresenta sinais de ter sido o causador da amolgadela, dos riscos e da falta de tinta do nosso! Que é que eu faço?". Disse-lhe que aguardasse (podia deslocar-me ao local, com brevidade...) e que logo se veria. Assim fiz, 15 minutos passados lá estava eu numa de perito a avaliar prejuízos e a reconstituir "mentalmente" o acidente. O que, diga-se, nem foi difícil, porque de facto o carro estacionado do lado esquerdo estava bem "assinalado", ao longo das duas portas do lado oposto ao condutor, à altura das lesões traumáticas apresentadas pelo meu. Apercebi-me que "a coisa" não seria de monta, mas decidi - numa de socialmente correcto - deixar uma mensagem no pára-brisas do "arguido", chamando-lhe civilizadamente a atenção para o sucedido, nomeadamente para os prejuízos do meu veículo, que esperava, dizia-lhe eu, ver reparados "por sua conta". Acrescentei à missiva dois dos meus números de telemóvel, cumprimentos, ao dispor... e passe bem. Seriam, por essa altura, umas 14:00 horas. Depois, Pai e Filho abraçaram-se, deixaram o local do infausto acontecimento, e foi cada um à sua vida. O Pai ganhar o sustento do(s) Filho(s), o Filho-benjamim sustentar-se, que está a crescer. Encontro foi ele que, com peritagem, carta no pára-brisas, abraço e beijo finais, "voaram" 40 euros do meu bolso em direcção ao da "criança". Espero que seja já a contar com o "fim de semana"?!...

~~~~ Interlúdio ~~~~

Estava eu no gabinete, +/- às 15:00 horas, quando dois dos telemóveis deram início a uma desgarrada, que durou, durou, durou... Melhor, que eu deixei durar porque não costumo atender chamadas anónimas. Mas tão insistente se tornou a sanfona, que - em boa hora - abri uma excepção. Qual foi a minha surpresa, quando do outro lado do fio, esperem, os telemóveis não tem fio..., do outro lado, pronto, sei lá?! oiço uma voz, que se identificou como o "senhor do acidente", e me diz o que passo a citar: Que nem tinha dado por isso, que a avenida tinha muito trânsito, que tinha entrado no lugar à pressa, que trabalhava numa firma de automóveis, que aquele era o carro da casa, que já tinha dado conhecimento ao Chefe e, finalmente, que o Chefe tinha dito que eu passasse por lá quando me desse jeito, que "eles" me arranjariam a viatura, e que me pedia desculpa pelo incómodo. Ai, Mãezinha! Como dizia Fernando Pessa: "- E esta, hein?". Senti-me tão reconciliado com a Vida, até com a espécie humana, que quase chorei enquanto lhe ía dizendo que aquilo não tinha importância nenhuma, que era pouca coisa, quase nada, que o carro já nem era novo, mais risco, menos amolgadela era igual ao litro e que até nem queria estar eu a incomodá-lo, menos ainda ao Chefe... Que não senhor, insistia a voz, para eu aparecer e a coisa resolver-se-ía. Nessa altura, já eu, amargurado pelo meu próprio atrevimento, me dispunha a mandar arranjar o carro dele, a alugar-lhe um veículo de substituição, pagar-lhe um fim de semana no Palace Hotel do Bussaco (para duas pessoas, alojamento e meia pensão), fora o pagamento, por fora, do que ele (quiçá, também o Chefe?) entendesse ser justo, por danos morais e outros que tais. E, de brinde, tudo com um sorriso nos lábios! Entretanto, eu mais que muito satisfeito pelo meu menino ser 100% alheio ao acontecimento. Não que tivesse duvidado, claro, de tal forma a coisa era evidente! Mas, porém, todavia, contudo... A verdade, é que só a muito custo, mesmo com alguma relutância e a voz (a minha) embargada pela emoção, acabei por concordar com uma passagem pela oficina para ver o meu calhambeque voltar a apresentar-se pintado e passadinho a ferro. Agora a sério, o sujeito foi impecável e honesto, e atempadamente o demonstrou, o que eu desejo desde já sublinhar e agradecer-lhe. Porém, como ele não vai ler este BLOG, fá-lo-ei pessoalmente e com gosto, na primeira oportunidade. Ainda há gente de Qualidade. Ainda bem que isto aconteceu, porque eu andava desconfiado, melhor, convencido do contrário. Desta vez a culpa não morreu solteira. Aleluia!
Escrevo-o por ser verdade e para que conste.
Deste que se assina

Mim


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