30 de março de 2014

O eléctrico 28

Suba a bordo do 28 e faça uma viagem inesquecível.

Lisbon, city of the seven hills from José Costa Barbosa on Vimeo.

As criadas de servir




27 de março de 2014

Mais Benoliel




26 de março de 2014

Na idade da inocência

 
 

Aqui, aos cinco anos, muito distante da fama que a iria tocar e da vida atribulada que a aguardava. Quem será esta menina?

"Lisboa que amanhece"

 
 
Uma manhã de sol é sempre um convite a percorrer os caminhos de sempre, a lembrar momentos em que o percurso se cumpriu em companhia de pensamentos ou em amena conversa de amigos. A memória parece intacta, embora não se duvide, por momentos, das partidas do tempo que corre, implacável.




Aqui, ficava uma loja de produtos de cortiça, mais à frente, o estabelecimento com os ricos tapetes da Pérsia, perto do miradouro, um restaurante especial, onde paravam jornalistas e gastrónomos e o preço das refeições convidava à familiaridade dos rostos habituais.



Hoje os espaços são diversos, mas permanecem, sem saudosismo, as sensações. É a cidade que nos acolhe e  continua – apesar de tudo – a encantar.


23 de março de 2014

Memórias


Lisboa

Que estranho encantamento me provocas
Meus dias de menino
Minhas lembranças remotas
de uma ilha de pedra. Cantaria. São Luis.


Ladeiras, bondes, colinas e mar.
Tudo ali me representa.
Tudo ali me contém a alma.
Teus livros, tuas luzes...


Que estranhos dias enfrentas
que me fazem arder o coração?

Lisboa…
Na calmaria, tudo é passageiro.
Fica combinado, Pessoa:
Até a dor...
Até a dor!


para: T, Miguel Gil, teresa, José Quintela Soares, Carlos, Maggie e ABS. Pela nossa amizade. 

22 de março de 2014

Lisboa




17 de março de 2014

Um abraço a Milão


Por vezes são as cidades que nos escolhem e não o contrário, o que sucede quando são situações a conduzir a destinos. Uma nova visita a Milão, não a cidade italiana de maior fluxo turístico, mas aquela onde se é conduzida por circunstâncias. A primeira surpresa prende-se com o número escasso de transeuntes, mesmo os que aparentam trabalhar nas imediações. O ponto mais movimentado é o que ladeia a  catedral gótica, com turistas japoneses e grupos de estudantes em visita escolar. O alojamento é uma surpresa, um prédio antigo de condomínio, com o interior totalmente remodelado, em decoração minimalista . Os gestores são um jovem casal que, na primeira manhã, fazem questão em saudar com simpatia à porta do edifício e referir as qualidades do treinador Mourinho. A rua é sossegada e, ficando distante do ruído da cidade , situa-se perto de uma diversidade de transportes públicos. A noite traz a surpresa de uma iluminação – já o havia esquecido – obscurecida. Num restaurante , a empregada fala-me em Português. É de S. Paulo e vive em Milão há oito anos “os italianos têm muito ‘estresse’, sinto saudade do meu país”. Reparo que fala num italiano perfeito, sem sotaque, o que é fácil para os falantes de línguas românicas, pois todos os filmes continuam a ser dobrados e os italianos falam muito e depressa... Nos subúrbios próximos da universidade , os transportes são escassos, interrogo-me como farão os estudantes estrangeiros a frequentar o estabelecimento. Existe um elétrico a conduzir ao centro, após uma viagem de três quartos de hora. Tento comprar o bilhete no veículo, o que não é permitido. Uma simpática italiana diz num encolher de ombros “isto é Itália!” e indica-me uma tabacaria onde se pode adquirir , a preço módico, um título de transporte válido por 24 h, também permitido no metro e no autocarro. No transporte cheio, observo os passageiros de semblante pesado. Uma jovem senhora, a falar ao telemóvel, informa que dentro de hora e meia deverá chegar a casa . Vejo , na montra das imobiliárias, os preços de aluguer e entendo que só os muito desafogados poderão viver na cidade.





No sábado, uma ida ao Lago de Como, comboio apanhado na estação de Cadorna, a dez minutos de distância do alojamento. A viagem demora uma hora e, da janela, avistam-se extensos campos de cultivo, alternando com subúrbios menos cuidados. Vale a pena chegar ao lago e avistar, ao longe, as montanhas ainda cobertas de neve.




Na manhã que antecede o regresso a casa, uma caminhada pelo Parque Sempione . Já se sente a chegada da primavera, a beleza das árvores em flor , as tartarugas amontoam-se nos lagos e um parque de diversões agride os ouvidos com a música estridente que se vai diluindo, com a chegada de um saxofonista, concentrado na melodia apelativa com que brinda os domingueiros. A cidade não aparenta acolher muitos imigrantes precários, a não ser os que  tentam, com insistência, vender uma rosa a quem passa.

O beijo do fim da guerra

O beijo - Auguste Rodin
Um calor estranho invadia o ar naquele dia. Um lusco fusco no céu. Olho para os lados e enxergo a angústia de uma guerra infinda traduzida no olhar das pessoas. Penso comigo: Guerras não nos deixam em paz. Embarco no metrô, de volta pra casa depois de uma jornada de trabalho. Entre aqui e lá há um longo caminho.

Poucos sorrisos nos rostos. Pouca bagagem nas costas. Um fiozinho de dor apertando o peito. Um pouco de nada pra contar. Apenas uma espera. Marinheiro, espero não ter que embarcar. Meu mar é outro. Minha rota não inclui batalhas sangrentas, nem bombas, nem inimigos.

No fundo, no fundo, não vejo sentido algum na guerra. Sou da paz. Não declarei guerra a ninguém, declaro o amor sempre que posso. Não quero balas. Quero beijos. Um mar de bocas estalando soa bem melhor que o ra-tá-tá-tá das metralhadoras.

Pela janela enxergo um filme rápido passando. Roupa, remédio, cigarro, modelos, a confiança vestida de propaganda disfarça o medo que nos assalta. O trem acelera. Próxima parada: Times Square. Olho o relógio e decido descer. Não ligo para o tempo perdido. Acho a hora certa de parar. Sigo por necessidade. Sigo porque é preciso. A precisão incerta do que não sei o que vai ser amanhã.

A porta do vagão se abre ao fim do sinal sonoro. Hesito um instante. Vejo o lá fora como um imenso desconhecido.  Dou o primeiro passo. O segundo. Me misturo à multidão que sobe as escadas do metrô. Algo me faz seguir. Algo me empurra como se a coincidência do acaso fosse também um sinal dos deuses.

Ganho o nível da rua e um raio de sol me atinge o rosto. O azul e branco da minha farda fica mais azul e branco. De repente, alguém grita: "A guerra acabou, a guerra acabou!" O coração acelera na mesma proporção dos meus passos. Começo a correr de alegria. De alegria a vida se enche, as pessoas estampam no rosto fartas doses de lágrimas e sorrisos.

Incontido, corro. Em direção a tudo e a nada. A perspectiva do fim e a certeza do recomeço. De repente ela surge, toda de branco, abre os braços e vem em minha direção. Um anjo branco da paz me pedindo um abraço. A estranha mais íntima da minha vida. Faço mais do que seus olhos pedem. Tomo-a em meus braços. Esqueço o mundo à minha volta e dou-lhe um beijo. O mais vivo, e longo, e suave, e generoso. Um beijo.

Como quem vence uma guerra. Como quem renasce para a vida. Um beijo eterno. Para que o mundo não tenha dúvidas. Guerra, não. Eu quero paz!

O beijo do fim da guerra - Alfred Eisenstaedt
Ficção de Maranhão Viegas para a história real de Glenn Edward McDuffie e Edith Shain, que tiveram um beijo imortalizado pela lente do fotógrafo da Revista Life, Alfred Eisenstaedt, no dia 14 de agosto de 1945, na saída do metrô, em Time SquireNova York. Os dois não se conheciam. Glenn tinha 18 anos à época do beijo. Ele morreu na semana passada, aos 86 anos. Seu beijo é uma das imagens mais marcantes do Século XX. 

13 de março de 2014

Os vendedores de bebidas por Benoliel

Memórias da cidade | ‪#‎Lisboa‬ vista por ‪#‎JoshuaBenoliel‬
Os vendedores de bebidas
Em Julho e Agosto de 1908 a nossa cidade registou uma forte onda de calor. "35 graus à sombra" é o título da reportagem que abrange esta fotografia, publicada na ‪#‎IlustraçãoPortugueza‬. Os quiosques e vendedores de rua de bebidas viram acrescidas as vendas de cerveja, limonada e capilé,com que os lisboetas setentavam refrescar.
Adivinham onde se situava este pitoresco quiosque?
Para conhecer melhor o acervo fotográfico de Joshua Benoliel:http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/default.asp?s=12079
Referência da fotografia: PT/AMLSB/JBN/001076
Referência da reportagem:http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/IlustracaoPort/1908/N129/N129_item1/P21.html

12 de março de 2014

o genio de robert johnson




robert johnson viveu apenas 27 anos.
a sua carreira musical durou 2 anos e existem apenas gravações de 29 músicas suas.
poucos (ou provavelmente nenhum) músicos conseguiram deixar uma marca tão forte em tantos outros musicos e influenciar tantas gerações.
ainda hoje, passados quase 80 anos da sua morte, a revista rolling stone o considera o 5º melhor guitarrsta de sempre, mesmo tocando em violas que hoje nem a uma criança se daria para partir em 3 dias...
o mito rural de ter feito um pacto com o diabo para ser tão bom músico, ou o mito urbano de tocar de costas para o público para não saberem os acordes que inventou, apenas ajudam à festa do génio.
com mitos ou sem mitos, o génio de robert johnson irá perdurar e o nosso prazer em o re-ouvir, também


robert johnson, love in vain

8 de março de 2014

Joshua Benoliel e José Rodrigues Migueís




6 de março de 2014

O nu e o lago

Kazuo Okubo
Kazuo Okubo guarda por traz das lentes a paciência e a disciplina orientais aprendidas com o pai dele. Volta e meia nos cruzamos e nos reconhecemos. Eu, almoçando no Dom Francisco. Ele, ocupando o estúdio que, não por acaso, fica à beira do Lago Paranoá, em Brasília.

Do pai, herdou o ofício e o amor pela imagem. Faz a sua própria história de fotógrafo com apuro e sensibilidade, num trabalho que muitas vezes beira a arte pura. Foi assim agora, quando se juntou com um grupo que se auto-denomina "Guardiões do Lago".


Foi deles a ideia de fazer um ensaio fotográfico usando o nu dos corpos para chamar a atenção e evitar a violação do Lago Paranoá. O lago é o coração úmido de Brasília. É fruto de um sonho, é o artificial mais natural que conheço. É o que permite a Brasília orgulhar-se da condição de ter uma das maiores frotas náuticas do país. E é o que nos faz, brasilienses, natos ou adotados, desfrutar de um mar ilusório e real, a milhas e milhas de distância do litoral.




A ideia não é original (muitos já usaram corpos nus por outras causas), mas tornou-se pelas lentes de Kazuo e pelo equilíbrio obtido entre corpos e água. Claro, também pela beleza física dos voluntários que toparam expor a intimidade por uma causa tão nobre quanto a preservação do lago. O resultado deu fruto a um calendário de imagens perfeitas e harmoniosas. Corpos nus na água serena. A fragilidade e a exuberância eternizados pelos olhos agudos de Kazuo.

As fotos dizem muito. Mas o making off produzido pela Lojinha de Filmes e pela Omni Vídeos fala por si só. Delicie-se.




4 de março de 2014

O imbondeiro


Viajar através de fotografias é também viajar no tempo. Uma passagem por África, os inúmeros alunos, os passeios com as turmas pelo parque, em frente à escola, a terra vermelha, uma manada de elefantes que, de súbito, decide atravessar-se no asfalto, palavras incompreensíveis em línguas locais (como ensinar em Português?). Canções, jogos de ritmo, palmas a marcar cadências, muitos risos. Lembranças de uma cidade perdida, junto ao mar. A acentuar a distância, o isolamento, voos domésticos cancelados, dias a fio. Permanece na lembrança a árvore, testemunha silenciosa, quase perene.

3 de março de 2014

Alain o poeta da luz imperfeita

Alain Resnais
Naquele  tempo, havia um cinema que nos recebia sempre as dez da noite. Éramos todos iguais. Jovens, ávidos de vida, de emoções, de ídolos e de novas histórias. Nossa trilha sonora era comum e desigual. Era universal. Assim como os sonhos e as palavras. O cinema era nosso território de amores e revoluções. 

Nas noites de sexta à noite, nos juntávamos numa plateia de cinéfilos enebriados com a projeção da luz em movimento na tela grande. Em nossa frente desfilavam vilões e mocinhos. Música e poesia. Dor, aventura e paixão. O cinema era a música do nosso baile juvenil.  Nos fazia rir e chorar com a mesma velocidade. E alimentava horas a fio de discussões que expunham a nossa alma e a nossa pouca vivência. 

Numa dessas noites, conheci Alain Resnais e seu "Hiroshima mon amour". Uma beleza doída, nuclear. Uma beleza trágica. Uma poesia pós-bomba atômica. Um soco poético no estômago.


Os corpos dos amantes sobrevivendo à dor. Os corpos cheios de dor nuclear, nem sempre sobrevivendo ao calor real. O plano sequência que nunca mais esqueci, me levou pelas ruas de uma cidade destruída,  me mostrou as vísceras de uma civilização que inaugurava o horror moderno. De tudo,  quem sobreviveu foi persistência de um contador de história, um inversor da realidade, um conversor de tempos. Resnais, o mago do abstrato real.

Depois, um pouco mais tarde, tive certeza de que estive diante de um gênio do cinema. Um poeta que escrevia no passado e no presente, pra confundir, mais do que para esclarecer. Pra fazer mágica, em resumo. Alain Resnais, aos 91 anos de idade e mais inventivo do que nunca, nos deixou este sábado.



Sua obra está além do seu tempo. Nem presente, nem futuro. Talvez, um pretérito imperfeito, como em "O ano passado em Marienbad".