29 de novembro de 2013
George Harrison 12 anos após a sua morte
Dia 29 de novembro de 2001. Entro no carro, rumo ao trabalho. Na rádio, fico a saber pela abertura do noticiário que ficámos mais pobres. Entre um legado muito próprio deixado pelo músico, o filme documental de Martin Scorsese reaviva-nos a memória…
“Revolver” é o primeiro álbum de viragem na carreira dos Beatles, explicado pelo interesse de George pelo Oriente. O trabalho discográfico que se lhe segue, “Sargent Peppers”, apresenta um único tema de sua autoria, “Within you without you”, peça emblemática da corrente que inaugura. A principal temática das composições – amor e sociedade – corresponde à dos restantes compositores do grupo, fazendo a diferença pela preocupação evidenciada em se afastar de meras constatações, com a marca de uma visão do oriente que tenta ir além do ego, visível no lamento expresso em “I Me Mine”. A partir de 1970, com carreira independente, Harrison vê editado o trabalho “All things must pass”, cujas composições realçam a vontade pessoal e a liberdade individual, com destaque para o tema “Run of the mill”. Estereótipo, enquanto beatle, de se preocupar em excesso com questões financeiras surge, no entanto, a anedota contraditória, vinda dos tempos do “Cavern Club” de Liverpool: uma jovem fã deseja entrar, não tendo dinheiro. George passa discretamente, a um empregado, a quantia, dizendo-lhe “dá-lho, mas não lhe digas de onde veio”.
Como destaque, a organização do concerto para Bangladesh, que por cá passou em longa metragem. A origem da iniciativa deve-se a uma visita do seu velho amigo Ravi Shankar “my friend came to me with sadness in his eyes/said he wanted help before his country died.”. Para realizar o concerto, George consegue arrancar Eric Clapton e Bob Dylan ao parcial afastamento em que então se encontram. Pouco mais se ouve falar em George, até ao início de uma digressão norte americana, com Shankar e a sua orquestra de 18 músicos indianos, Billy Preston, Willie Weeks e Tom Scott (músico que acompanha Joni Mitchell nos seus concertos em LA). Os concertos norte americanos de George são então apresentados em 27 cidades lançando-o, de novo, para a ribalta.
I me mine
Bangla Desh Song
Imagens e informação: The fabulous story of John, Paul, George and Ringo, Octopus Ed. in association with Phoebus
28 de novembro de 2013
As Conservas Nero
Esta foi a bela prenda de Natal, que eu e o Miguel Gil recebemos das Conservas Nero. Obrigada Zé, só gostava de saber onde se venderão em Lisboa pois é uma linda e adequada prenda de Natal. Comprar em português a portugueses que vendem produtos portugueses.Obrigada pelo teu trabalho de recuperação de uma das mais tradicionais industrias portuguesas.
27 de novembro de 2013
Sobre Minas, filhos, estradas e memórias
Aconteceu em 2007.
Eu reli agora.
Depois de ler, achei que cabia publicar aqui e dividir com vocês.
Uma amiga jornalista, de Montes Claros, Valéria Esteves, me escreveu dizendo que Patão Guedes está doente, enfrenta uma metástase e voltou para o hospital. Conheço de perto a luta contra o câncer. E sei o quanto é preciso ter forças para enfrentá-lo. Isso tudo me fez lembrar vivamente, dele, de Montes Claros, de Paulinho Ribeiro - sobrinho de Darcy Ribeiro - e do patriarca da família Guedes, o maestro Godofredo, a quem só conheço no imaginário e na voz do filho mais famoso, Beto Guedes. Escrevo para não esquecer. Escrevo porque enfrento a tristeza de um jeito melhor, preenchendo o vazio do papel.
Cantar
Godofredo Guedes
Se numa noite eu viesse ao clarão do luar
Cantando e aos compassos de uma canção
Te acordar
Talvez com saudade cantasses também
Relembrando aventuras passadas
Ou um passado feliz com alguém
Cantar quase sempre nos faz recordar
Sem querer
Um beijo, um sorriso, ou uma outra ventura qualquer
Cantando aos acordes do meu violão
É que mando depressa ir-se embora saudade que mora no meu coração
Numa das minhas idas a MOC (assim os nativos chamam carinhosamente a cidade de Montes Claros, no extremo Norte de Minas Gerais) , Paulinho Ribeiro me chamou pra ir ao refúgio de Ucho Ribeiro, irmão dele. Chovia a cântaros. Paulinho é dado a isso. Inventar coisas. Quando a gente menos espera, ele inventa. E a invenção é tão instigante que é difícil resistir. Lá fomos nós. Chuva forte e fé na estrada.
No caminho, Paulinho me pergunta se conheço Diamantina. De passagem, respondo. Passei por lá no início da década de oitenta. Mas foi uma passagem curta, eu ia de volta pra casa, São Luis do Maranhão, depois de passar dez anos fora. Então tu não conheces é nada, diz Paulinho. E toca pra Diamantina.
Acende um palheiro que viagem assim não se faz sem fumaça. Passa boi, passa boiada, passa morro, passa estrada e toca conversa besta, conversa de menino, de gente livre de preconceito, de gente doida pela vida.
Essas coisas de ir pra não sei onde sempre me dão um frio na barriga. Mas eu topo por que minha vida é um pouco assim. Lembro que era um sábado e a idéia era passar em Diamantina, rever alguns lugares, experimentar uma cachaça e seguir para a fazenda de Ucho.
Paulinho falava maravilhas do lugar. Um chalé na beira de um rio. Cercado de verde por todos os lados. A Água lambendo a varanda. Uma quietude de fazer gastura. Paz em estado puro.
Quando chegamos em Diamantina a chuva tinha se transformado em uma garoa insistente. É impossível andar por ali e não lembrar de São Luis. Ruas estreitas, pedra de cantaria, calçadas de um passante só. Sobrados e azulejos com a cara de Portugal. Paramos em um boteco pra comer algo. Meu telefone toca. Era Mara. Conversa com teu filho. Ele não para de chorar, me disse ela. Gelei.
Gabriel é um menino lindo. E visceralmente apaixonado pelo Grêmio Footebol Portoalegrense, por influência da mãe. Naquele dia, o Grêmio fazia um jogo definitivo, histórico. Ou ganhava e voltava para a primeira divisão do Campeonato Brasileiro ou amargava mais um ano na Segunda Divisão. O jogo era no Estádio dos Aflitos em Recife. Faltavam onze minutos pra terminar. A pressão era total.
Um estádio inteiro contra o Grêmio. O Náutico já havia perdido um pênalti. O juiz acabara de marcar outro. O Gabriel se desesperou e começou a chorar. Os jogadores do Grêmio foram pra cima do juiz e ele, além de marcar o pênalti, expulsou quatro jogadores do Grêmio. Gabriel se desesperou ainda mais.
Quando ele chegou ao telefone só dizia: Pai, o juiz é ladrão, é ladrão, é ladrão. Meu coração ficou mais aliviado, a tragédia poderia ter sido maior. Passei a falar com calma de pai que precisa acalmar filho. Calma, filho. A vida é assim mesmo. Nem sempre o time da gente ganha, mesmo jogando melhor, blá, blá, blá...
No que estou conversando com ele, vejo uma televisão ligada mostrando aquele jogo. Eu, em Diamantina, Minas Gerais. Gabriel e Mara, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. E o jogo acontecendo em Recife, Pernambuco. O juiz manda cobrar o pênalti. O Gabriel chora. Eu rezo por ele. E por mim. Pra que eu consiga atravessar bem com meu filho a primeira grande frustração da vida dele, a primeira e mais dolorida dor.
O jogador do Náutico corre pra bola. Um silêncio sepulcral ao telefone. Só ouço os soluços de Gabriel. O chute. A bola. O goleiro defende. Uma explosão de vozes. Nessa altura do campeonato, todo o bar onde eu estava prestava atenção em mim e na minha tentativa de acalmar meu filho. Já havia até torcida pelo Grêmio.
Nem deu tempo de comemorar. O goleiro do Grêmio jogou a bola pro Anderson, um pretinho abusado, de trancinhas rastafari no cabelo que ocupava a camisa nove, de centro-avante. Anderson correu, passou por um, passou por dois e foi derrubado. Gabriel xingava o juiz. O Grêmio não perdeu tempo, Patrício cobrou a falta.
Os jogadores do Náutico ainda não entendiam o que tinha acontecido, como tinham perdido aquela oportunidade de marcar o gol. Anderson corre pela linha de fundo e recebe a bola. A defesa desarmada. Passa por um, deixa outro no chão. Diante do goleiro tem calma suficiente para escolher o canto. Chuta. Um chute definitivo, certeiro, gol do grêmio. Meu coração quase salta pela boca. Só de ouvir a alegria do meu filho.
O bar em Diamantina, em festa. E o locutor gritava: Incrível, inacreditável, o grêmio faz um milagre no estádio e vence a Batalha dos Aflitos. O grêmio foi campeão. E Gabriel foi pra rua, com Mara, por a emoção pra fora. Agradeci a Deus pelo milagre de estar ali, de estar por perto, mesmo à distância. Por estar com ele.
Paulinho dividiu tudo comigo. Repartimos uma cerveja e algumas lágrimas de alegria pela vitória de Gabriel, pela chuva, por Diamantina, pela viagem, pela companhia e seguimos para a fazenda de Ucho.
Já era noite quando entramos em uma estrada de barro. Temi diante da possibilidade de ficarmos atolados. Mas o meu temor era besteira diante da vontade do Paulinho de vencer a estrada. Ele dirigia como quem conhecesse aquele caminho desde pequeno. A estrada, o barro, o medo, a noite, tudo ia passando na mesma velocidade. Chegamos com chuva forte na casa do Ucho.
Tudo ali, do jeito que Paulinho havia descrito. Mas havia mais. Havia umas três ou quatro pessoas fazendo comida, bebendo vinho, cantando. Entre eles, um camarada muito magro, de oclinhos redondo, à beira de um teclado, pra quem fui apresentado: Patão, irmão do Beto. Não demorou muito, estávamos cantando as canções de Godofredo Guedes, de Beto Guedes, de Lô Borges e Bituca (que é como a turma chama Milton Nascimento na intimidade) , um clube da esquina improvisado, feito ali, na beira do rio, abafando o barulho da chuva.
De manhã, quando acordei, pude ver melhor a casa de Ucho. Vi que Jacy, mãe deles, já havia passado por aquele lugar e tinha deixado marcas nas paredes. Uma imagem de Santo Antônio, frases de Manoel de Barros escritas entre as janelas. Uma composição perfeita.
Agora, quando Valéria me fala da volta de Patão ao hospital, é impossível não pensar nele e naquele dia. Na viagem de volta da casa de Ucho, em que ficamos juntos e dividimos lembranças dos tempos de rua, ele em MOC e eu em São Luis. Sei que vencer o câncer não é pra qualquer um. É pra poucos e pra especiais.
Enquanto escrevo, duas músicas me ocupam a memória. A que Beto fez para o filho dele, que tem o mesmo nome do meu, Gabriel. E a que está transcrita lá em cima, de Godofredo Guedes, "Cantar". Vale pra lembrar o Patão. Vale pra espantar a saudade. Vale pra celebrar a vida.
P.S. - Publiquei este texto em maio de 2010 no meu blog. Pouco tempo depois, Patão se foi.
Eu reli agora.
Depois de ler, achei que cabia publicar aqui e dividir com vocês.
"Patão" Guedes |
Cantar
Godofredo Guedes
Godofredo Guedes |
Se numa noite eu viesse ao clarão do luar
Cantando e aos compassos de uma canção
Te acordar
Talvez com saudade cantasses também
Relembrando aventuras passadas
Ou um passado feliz com alguém
Cantar quase sempre nos faz recordar
Sem querer
Um beijo, um sorriso, ou uma outra ventura qualquer
Cantando aos acordes do meu violão
É que mando depressa ir-se embora saudade que mora no meu coração
Eu e Paulo Ribeiro, no caminho das Geraes. |
Numa das minhas idas a MOC (assim os nativos chamam carinhosamente a cidade de Montes Claros, no extremo Norte de Minas Gerais) , Paulinho Ribeiro me chamou pra ir ao refúgio de Ucho Ribeiro, irmão dele. Chovia a cântaros. Paulinho é dado a isso. Inventar coisas. Quando a gente menos espera, ele inventa. E a invenção é tão instigante que é difícil resistir. Lá fomos nós. Chuva forte e fé na estrada.
No caminho, Paulinho me pergunta se conheço Diamantina. De passagem, respondo. Passei por lá no início da década de oitenta. Mas foi uma passagem curta, eu ia de volta pra casa, São Luis do Maranhão, depois de passar dez anos fora. Então tu não conheces é nada, diz Paulinho. E toca pra Diamantina.
Acende um palheiro que viagem assim não se faz sem fumaça. Passa boi, passa boiada, passa morro, passa estrada e toca conversa besta, conversa de menino, de gente livre de preconceito, de gente doida pela vida.
Essas coisas de ir pra não sei onde sempre me dão um frio na barriga. Mas eu topo por que minha vida é um pouco assim. Lembro que era um sábado e a idéia era passar em Diamantina, rever alguns lugares, experimentar uma cachaça e seguir para a fazenda de Ucho.
Paulinho falava maravilhas do lugar. Um chalé na beira de um rio. Cercado de verde por todos os lados. A Água lambendo a varanda. Uma quietude de fazer gastura. Paz em estado puro.
Diamantina - MG |
Quando chegamos em Diamantina a chuva tinha se transformado em uma garoa insistente. É impossível andar por ali e não lembrar de São Luis. Ruas estreitas, pedra de cantaria, calçadas de um passante só. Sobrados e azulejos com a cara de Portugal. Paramos em um boteco pra comer algo. Meu telefone toca. Era Mara. Conversa com teu filho. Ele não para de chorar, me disse ela. Gelei.
Gabriel Viegas |
Gabriel é um menino lindo. E visceralmente apaixonado pelo Grêmio Footebol Portoalegrense, por influência da mãe. Naquele dia, o Grêmio fazia um jogo definitivo, histórico. Ou ganhava e voltava para a primeira divisão do Campeonato Brasileiro ou amargava mais um ano na Segunda Divisão. O jogo era no Estádio dos Aflitos em Recife. Faltavam onze minutos pra terminar. A pressão era total.
O Grêmio, imortal |
Um estádio inteiro contra o Grêmio. O Náutico já havia perdido um pênalti. O juiz acabara de marcar outro. O Gabriel se desesperou e começou a chorar. Os jogadores do Grêmio foram pra cima do juiz e ele, além de marcar o pênalti, expulsou quatro jogadores do Grêmio. Gabriel se desesperou ainda mais.
Quando ele chegou ao telefone só dizia: Pai, o juiz é ladrão, é ladrão, é ladrão. Meu coração ficou mais aliviado, a tragédia poderia ter sido maior. Passei a falar com calma de pai que precisa acalmar filho. Calma, filho. A vida é assim mesmo. Nem sempre o time da gente ganha, mesmo jogando melhor, blá, blá, blá...
No que estou conversando com ele, vejo uma televisão ligada mostrando aquele jogo. Eu, em Diamantina, Minas Gerais. Gabriel e Mara, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. E o jogo acontecendo em Recife, Pernambuco. O juiz manda cobrar o pênalti. O Gabriel chora. Eu rezo por ele. E por mim. Pra que eu consiga atravessar bem com meu filho a primeira grande frustração da vida dele, a primeira e mais dolorida dor.
O jogador do Náutico corre pra bola. Um silêncio sepulcral ao telefone. Só ouço os soluços de Gabriel. O chute. A bola. O goleiro defende. Uma explosão de vozes. Nessa altura do campeonato, todo o bar onde eu estava prestava atenção em mim e na minha tentativa de acalmar meu filho. Já havia até torcida pelo Grêmio.
Nem deu tempo de comemorar. O goleiro do Grêmio jogou a bola pro Anderson, um pretinho abusado, de trancinhas rastafari no cabelo que ocupava a camisa nove, de centro-avante. Anderson correu, passou por um, passou por dois e foi derrubado. Gabriel xingava o juiz. O Grêmio não perdeu tempo, Patrício cobrou a falta.
Os jogadores do Náutico ainda não entendiam o que tinha acontecido, como tinham perdido aquela oportunidade de marcar o gol. Anderson corre pela linha de fundo e recebe a bola. A defesa desarmada. Passa por um, deixa outro no chão. Diante do goleiro tem calma suficiente para escolher o canto. Chuta. Um chute definitivo, certeiro, gol do grêmio. Meu coração quase salta pela boca. Só de ouvir a alegria do meu filho.
Paulinho dividiu tudo comigo. Repartimos uma cerveja e algumas lágrimas de alegria pela vitória de Gabriel, pela chuva, por Diamantina, pela viagem, pela companhia e seguimos para a fazenda de Ucho.
Já era noite quando entramos em uma estrada de barro. Temi diante da possibilidade de ficarmos atolados. Mas o meu temor era besteira diante da vontade do Paulinho de vencer a estrada. Ele dirigia como quem conhecesse aquele caminho desde pequeno. A estrada, o barro, o medo, a noite, tudo ia passando na mesma velocidade. Chegamos com chuva forte na casa do Ucho.
A varanda da casa de Ucho |
Tudo ali, do jeito que Paulinho havia descrito. Mas havia mais. Havia umas três ou quatro pessoas fazendo comida, bebendo vinho, cantando. Entre eles, um camarada muito magro, de oclinhos redondo, à beira de um teclado, pra quem fui apresentado: Patão, irmão do Beto. Não demorou muito, estávamos cantando as canções de Godofredo Guedes, de Beto Guedes, de Lô Borges e Bituca (que é como a turma chama Milton Nascimento na intimidade) , um clube da esquina improvisado, feito ali, na beira do rio, abafando o barulho da chuva.
De manhã, quando acordei, pude ver melhor a casa de Ucho. Vi que Jacy, mãe deles, já havia passado por aquele lugar e tinha deixado marcas nas paredes. Uma imagem de Santo Antônio, frases de Manoel de Barros escritas entre as janelas. Uma composição perfeita.
Santo Antônio de Jacy |
Manoel de Barros no alto da janela |
Agora, quando Valéria me fala da volta de Patão ao hospital, é impossível não pensar nele e naquele dia. Na viagem de volta da casa de Ucho, em que ficamos juntos e dividimos lembranças dos tempos de rua, ele em MOC e eu em São Luis. Sei que vencer o câncer não é pra qualquer um. É pra poucos e pra especiais.
Enquanto escrevo, duas músicas me ocupam a memória. A que Beto fez para o filho dele, que tem o mesmo nome do meu, Gabriel. E a que está transcrita lá em cima, de Godofredo Guedes, "Cantar". Vale pra lembrar o Patão. Vale pra espantar a saudade. Vale pra celebrar a vida.
P.S. - Publiquei este texto em maio de 2010 no meu blog. Pouco tempo depois, Patão se foi.
o ministério público contra o pequeno roubo
o ministério público pediu pena suspensa para os arguidos no caso dos submarinos e sublinhou que os arguidos portugueses deste processo devem ter uma pena mais branda por terem sido pressionados a prometer falsas contrapartidas.
o ministério público da madeira pediu a absolvição dos acusados num processo sobre crimes de fraude, fraude qualificada, fraude contra a segurança social e branqueamento de capitais que envolvia a criação duma off-shore para evitar pagamentos devidos de impostos..
agora o ministério público pede a condenação de um adolescente por umas pizzas no valor de 31 euros..
acho bem que sirva de exemplo para os que querem roubar:
se é para burlar, que sejam milhões.
se forem dezenas, vão condenados
a pequena economia (do roubo) não ajuda ao crescimento nem à exportação (de capitais) nem ao desenvolvimento (dos criminosos).
26 de novembro de 2013
Dias de chuva
Chove em Brasília como Deus gosta.
Chove mais. Chove muito. A ponto de fazer sapo desconhecer rã.
A chuva tem o dom de deixar o dia mais complicado, o trânsito mais pesado, a atenção precisa ser redobrada nas ruas.
Em dias de chuva, você nunca sabe se há ou não um buraco por baixo da lâmina d’água que cobre o asfalto. Dirigir passa a ser uma surpresa. Às vezes, desagradável.
Mas os dia de chuva sugerem recolhimento da alma. Os vidros fechados e os pingos caindo lá fora tornam a solidão do carro um exercício de reflexão. Luzes e faróis fracionados pelo efeito da água. Formas alteradas da visão, tudo ganha outro sentido.
Aperto os botões eletrônicos no dial. O mundo digital facilitou a busca de sintonia. Não se ouvem mais os chiados produzidos pelo ponteiro correndo no visor do rádio. Troco a notícia pela música. Busco algo que tenha a ver com o momento e permito que o pensamento entre pela fresta úmida do dia cinza-chumbo.
Viver é uma necessidade. Como encarar a vida, um privilégio. Enquanto dirijo, reflito. Em meu imaginário, cruzo as ruas de sol por onde já andei. Aqui em Brasília, em São Luis, em Tóquio, no Quartier Latin ou em Lisboa. Troco a sintonia mental com a facilidade de um visor eletrônico do rádio.
Minha vida em uns poucos pingos d’água. A água lavando a alma.
Por vezes, Cris, a chuva faz das terças um rio de memória.
E o acaso pontua a realidade, impondo o contraste de um arco-íris ao sinal vermelho do trânsito, lembrando que a vida é real. Apesar da chuva.
Texto escrito originalmente para a coluna "Olhar Poético", que assino semanalmente, no Blog da Cris Guerra.
24 de novembro de 2013
22 de novembro de 2013
19 de novembro de 2013
mais um filho de quem o senhor sepp blatter gosta
o senhor sepp blatter tem uma carreira atascada de acusações de corrupção.
mas como se tem sabido rodear de amigos que gostam dos seus métodos, as coisas seguem alegres e saltitantes, como convém ao mundo da bola.
há uns tempos, para justificar a sua preferência por messi, disse que este era o filho que todas as mães (e os pais, imagino eu) gostavam de ter.
o mesmo se deve passar com o sobrinho a quem entregou o monopólio televisivo da fifa.
no qatar também deve ter uns filhos de quem gosta para lhes entregar a organização de um mundial que provavelmente será jogado de noite para evitar os mais de 40 graus de temperatura com uma humidade elevadíssima em estádios construídos por escravos.
agora, a propósito da canção oficial para o mundial no brasil, volta a escolher um filhos que todas as mães gostavam de ter. pela segunda vez o porto riquenho ricky martin vai cantar uma canção que ainda vai ser escolhida.
com o mundial a realizar-se num país onde podia escolher centenas de excelentes cantores, o senhor seep blatter escolhe um dos seus filhos, mais uma vez.
um dia o velho ditador vai cair..
mas há que ter paciência...
mas como se tem sabido rodear de amigos que gostam dos seus métodos, as coisas seguem alegres e saltitantes, como convém ao mundo da bola.
há uns tempos, para justificar a sua preferência por messi, disse que este era o filho que todas as mães (e os pais, imagino eu) gostavam de ter.
o mesmo se deve passar com o sobrinho a quem entregou o monopólio televisivo da fifa.
no qatar também deve ter uns filhos de quem gosta para lhes entregar a organização de um mundial que provavelmente será jogado de noite para evitar os mais de 40 graus de temperatura com uma humidade elevadíssima em estádios construídos por escravos.
agora, a propósito da canção oficial para o mundial no brasil, volta a escolher um filhos que todas as mães gostavam de ter. pela segunda vez o porto riquenho ricky martin vai cantar uma canção que ainda vai ser escolhida.
com o mundial a realizar-se num país onde podia escolher centenas de excelentes cantores, o senhor seep blatter escolhe um dos seus filhos, mais uma vez.
um dia o velho ditador vai cair..
mas há que ter paciência...
e de repente o mundo parece que ganhou um sorriso
poucas notícias parecem despertar tanto contentamento como a do regresso anunciado pelos monty phyton.
uma simples e curta notícia, confirmada pelos próprios, fez voltar a acreditar que o mundo tem salvação.
é estranho como um grupo de humoristas iconoclastas se transformou passados 40 anos do seu apogeu criativo e inovador numa espécie de unanimidade mundial e merecedores de candidatura a prémio nobel da paz, tal a pacificação de opiniões que provocam.
parece que é um espectáculo, uma coisa curta, mas que importa?
pode temer-se que não estejam à altura das expectativas e que deveriam ter mantido a coisa onde estava para continuarem com a aura de de intocáveis.
pode dizer-se, como estupidamente se costuma dizer, que nao devem voltar ao lugar onde foram felizes..
não há coisa mais estulta que essa de não voltar onde fomos felizes !!!
é aí que devemos voltar vezes sem conta !!
é ao génio criativo dos monty phyton que devemos voltar, mesmo que já não sejam génios e apenas um grupo de velhos e pacholas amigos.
uma simples e curta notícia, confirmada pelos próprios, fez voltar a acreditar que o mundo tem salvação.
é estranho como um grupo de humoristas iconoclastas se transformou passados 40 anos do seu apogeu criativo e inovador numa espécie de unanimidade mundial e merecedores de candidatura a prémio nobel da paz, tal a pacificação de opiniões que provocam.
parece que é um espectáculo, uma coisa curta, mas que importa?
pode temer-se que não estejam à altura das expectativas e que deveriam ter mantido a coisa onde estava para continuarem com a aura de de intocáveis.
pode dizer-se, como estupidamente se costuma dizer, que nao devem voltar ao lugar onde foram felizes..
não há coisa mais estulta que essa de não voltar onde fomos felizes !!!
é aí que devemos voltar vezes sem conta !!
é ao génio criativo dos monty phyton que devemos voltar, mesmo que já não sejam génios e apenas um grupo de velhos e pacholas amigos.
18 de novembro de 2013
Doris Lessing em cinco romances
(foto: Kieran Doherty/Reuters - 2007, à porta da sua residência em Londres, a falar com os jornalistas, após ter sido galardoada com o Nobel)
Após a morte da escritora Doris Lessing ontem ocorrida, o periódico The Guardian apresenta uma lista dos que classifica como os cinco melhores títulos* da romancista britânica, sendo a seguinte a seriação proposta:
1 – The grass is singing (1950)
Lessing chega a Londres na primavera de 1940 com 20 libras no bolso e o manuscrito deste romance, construído a partir da sua vivência no continente africano. O enredo oscila em torno do medo e do poder associados ao colonialismo. A protagonista, Mary Turner, vivendo na Rodésia, numa quinta em decadência financeira, passa a gerir a propriedade por doença do marido. Dá então início a um relacionamento com um dos criados negros, situação conducente a um desfecho trágico.
2 – The golden notebook (1962)
Obra-prima do feminismo, o romance retrata a vida atribulada das mulheres no pós-guerra.
3 – Shikasta (1979)
Estreando-se com este título na ficção científica, trata-se de uma narrativa sobre um paraíso em declínio, planeta à deriva por influência de uma civilização avançada onde haviam sido instauradas paz, prosperidade e desenvolvimento acelerado. À época, a crítica comentou a mudança súbita de temática, o que então levou a escritora a afirmar: “a ficção científica é a melhor ficção social da nossa época.”
4 –The good terrorist (1985)
A narrativa é protagonizada por Alice, revolucionária de boas intenções, a viver no norte de Londres. Inserida num grupo heterogéneo de militantes, esta mulher é gradualmente conduzida à violência, culminando em assassinato as suas fantasias revolucionárias de burguesa.
5 – Alfred and Emily (2008)
Combinação de ficção e não-ficção, o romance baseia-se na biografia dos pais da escritora. Na obra divaga-se sobre o que teria sucedido, caso os pais de Lessing nunca tivessem casado e quais os reflexos de tal decisão na carreira de escrita desta Nobel da Literatura.
* Por opção , os títulos são mantidos na língua original.
17 de novembro de 2013
O bairro Almirante Reis em 1949
"Realmente, tem muita cor local, as valetas semeadas de folhas de lombarda e grelos de couve sugerem-nos nomes de terras típicas como Teguecigalpa, San Ramon del Equador, San Paco de Guayaquil, etc. Das oito da 'manhã até à uma da tarde as ruas pertencem aos vendedores e às trapeiras, uns gritando, apregoando e vociferando e as outras esgravatando nas imundices, espalhando-as pelos passeios e pela calçada.
Quando trapeiras e vendedores ambulantes desaparecem (por volta da uma hora) todas as ruas do Bairro dos Actores ficam um caos. Mesmo que tenha passado o camião do lixo.
Uma das coisas mais características deste bairro é a quantidade de peixarias existentes. São muitas. Quase tantas como pastelarias. O turista que se aventure em certas ruas, aspira o ar carregado de cheiro a peixe, perguntando a si mesmo se o bairro dos actores não será antes um bairro piscatório, um porto de mar desconhecido. Uma vez desaparecida a legião das trapeiras aparece a legião dos «rapazes furiosos da bola», que se entretêm a dar pontapés numa bola de trapos (a maior parte das vezes feita com uma meia sub-traída à mãe ou às manas, e recheada com lenços ou pano do pó e da cozinha...) enquanto não se dedicam às lides mais sérias do autêntico futebol.
Porque o Almirante Reis tem também os seus clubes desportivos e recreativos, assim como tem as suas igrejas católicas, um templo metodista, uma cozinha económica e uma quantidade invulgar de fotógrafos, dos chamados «de arte».
Quando os «rapazes furiosos da bola» desaparecem, dá-se a invasão das «espadas». É é cada uma! São carros das marcas mais conhecidas e até de marcas desconhecidas. Automóveis fantásticos, fantasticamente luxuosos, cobertos de cromados, de para-choques, faróis, farolins, antenas de rádio, mas-cotes, espelhos, manettes, puxadores, com mais rodas, mais pneus de sobresselente, mais lugares, mais porta-bagagens que em parte nenhuma do mundo.
São os carros dos «nouveaux seigneurs», os homens que construíram a «Lisboa do Futuro», a cidade do Almirante Reis, os construtores civis. Estacionam entretanto, não nas ruas principais, mas nos sítios onde ainda há prédios no estilo «gaioleiros» e carvoarias no estilo «Bairro Alto».
Nada tem que ver com a esplendorosa perspectiva da Alameda Afonso Henriques, onde Almirante Reis principia a sua apoteose. Ninguém pode deixar de admirar o desenho sóbrio daquela linda praça enquadrada por soberbas ,construções e rematada pela fonte luminosa e pelo I. S. T. e os seus extensos e frescos relvados, ladea-dos dum empedrado ,em xadrez. Na relva brincam e retouçam os cães, que não lêem as ordens da Câmara. No empedrado lateral brincam as crianças. E a que cair e se aleije, apanha ainda por cima! É aí, na Alameda, que Almirante Reis principia' a ter um ar irreal...."
Revista Eva de Natal, 1949, Desenho de Bernardo Marques, Texto de Maria Antónia
16 de novembro de 2013
Os três amigos
"Porque nos incomodas com a porcaria dos flashes?
Não vês que estamos com frio e já somos os três amigos?"
Não vês que estamos com frio e já somos os três amigos?"
Areeiro
Num belo artigo sobre a Almirante Reis, assim ilustrava Bernardo Marques o Areeiro, para a Eva de Natal de 1949.
15 de novembro de 2013
14 de novembro de 2013
Histórias da Madre D'eus II
O Boizinho, a cara da Madre D'eus. |
A festa era na casa de meu primo Jorge. A casa dele, aliás, era uma festa. No carnaval, Jorge organizava um bloco de rua. No São João, Jorge ajudava a organizar o “Boizinho Barrica”. No natal... ah, nem sei, mas Jorge organizava, sempre, algum tipo de festa, o ano inteiro.
Naquele ano eu reencontrara Jorge. Havia cinco anos, eu morava fora e São Luis era só uma lembrança. A Madre D’eus, uma dor no peito, um dia de chuva. E meus amigos de infância, uma saudade imensa. Jorge, entre eles.
Naquele ano, voltei para estudar e morar com meus tios. A casa deles era no Beco do Seminário, atrás da Igreja de Santo Antônio. Mas eu vivia na Madre D’eus. As distâncias daquela época não são como as distâncias de hoje. Tudo parecia mais perto. Caminhar era escorregar o tempo pelas calçadas, descansando os olhos nas portas e janelas entreabertas daquelas ruas coloniais.
Naquela festa, naquela noite, meu olhos foram dar em uma menina. E os dela em mim. Éramos duas crianças recém ingressadas na adolescência. Naquela noite, falamos pouco e passamos boa parte do tempo dançando.
Ao fim da festa, ela me acompanhou ladeira acima, em direção aonde um dia foi a minha casa, a casa onde eu sempre morei, desde que nasci. Ali, em frente ao número 93, da Rui Barbosa, no Largo da Madre D’eus, havia um banco no meio do canteiro. Foi onde sentamos. Havia uma lua imensa e quase ninguém na rua.
Flamboyant |
Naquele tempo não havia espaço para o medo. Não havia temores ou assombrações. Havia um certo silêncio quebrado apenas pelo barulho do vento nas folhas do Flaboyant. O mesmo em que eu subia quando era criança. O mesmo da porta de onde um dia foi a minha casa.
Ela segurou em minha mão. Nossos olhos brilharam um brilho intenso. E nos beijamos. Pouco ou nada foi dito. Mas ela compreendeu que aquela noite, aquele lugar, aquele encontro, enfim, nos tornavam especiais. Era a porta da casa onde um dia eu nasci.
A vida tratou de nos afastar. Seguimos, cada um por um lado do mundo. As ruas da Madre D’eus sobram em mim como Itabira sobrava em Drumond – (é só uma fotografia na parede, mas como dói). Mas aquela menina terá sido para sempre a primeira pessoa a segurar minha mão e me beijar ali, bem em frente à casa onde eu sempre morei.
A Ulmeiro, também conhecida como livraria do gato à porta
Um extraordinário espaço, com um acervo de milhares e milhares de livros, onde somos acolhidos como em casa fosse, pela Lúcia e pelo Zé. Num período complicado como este, cabe-nos ajudar a divulgar esta caverna de ali babá, criada em 1969 e que de nós depende para continuar aberta. Se a Ulmeiro é a livraria carismática de Benfica, que formou já gerações de pessoas que amam os livros e a leitura é um espaço de referência lisboeta que urge preservar. Assim como está, numa deliciosa desordem, envolvida pelo imenso calor humano e felino. Assim mesmo.
Um carro com vontade própria
A vida nas pequenas localidades também reserva surpresas - no caminho, um carro com personalidade própria . Antes do café que desperta para o dia, fica-se na dúvida se será miragem ou simplesmente uma viatura 'bucólica', a sentir o apelo campestre.
12 de novembro de 2013
Uma palmeira e dois destinos
Dias atrás, estive bem perto de um senhorzinho, já beirando os 80, que é tão ou mais importante que o Buriti. Ozanan Coelho é o nome dele. Trata-se de um cearense de boa cepa, que veio aventurar-se em Brasília e terminou, apaixonado por ela, nunca mais saindo daqui.
Ozanan tem muitas virtudes. A mais especial delas está diretamente ligada à quantidade de árvores e jardins que a cidade ostenta. Ele é o responsável direto pelo plantio de 3,8 milhões de árvores em Brasília. O número não está errado, não. São 3,8 milhões de árvores plantadas, sim.
As super-quadras e suas árvores... |
... onde houver uma árvore, em Brasília... |
...tenha a certeza, Ozanan passou por ali. |
Claro que ele não fez isso tudo sozinho. Durante os últimos 40 anos Ozanan esteve no Departamento de Parques e Jardins da NOVACAP, 30 dos quais, como chefe do setor. Mas não é errado dizer que Ozanan é o melhor exemplo da natureza viva, em todo seu esplendor.
Pois bem, foi de viva voz que ouvi Ozanan contar a história de como salvou aquela palmeira de buriti. Dizia ele que, um belo dia, foi chamado às pressas para conter a ira de um maluco que, com um facão tentava derrubar o buritizeiro. Ozanan chegou a tempo de impedir, com a ajuda da polícia, uma catástrofe. Mas não impediu que a árvore fosse ferida, quase que mortalmente.
O buriti e o Palácio |
O homem preso e a árvore pendente, prestes a ir ao chão em definitivo. Ozanan chamou os seus. Segurou a árvore e passou a pensar na melhor forma de salvá-la. Ergueu uma cerca de varas, rente ao tronco machucado da árvore. Amarrou-as firmemente e torceu para que o tempo lhe permitisse a regeneração.
Até que, um dia, um senhor bem humilde apresentou-se e perguntou se podia ajudar. Ozanan quis saber quem era ele. Disse que era dono do circo que estava instalado ali perto. E que acompanhava com atenção, nos últimos dias, a batalha vã na tentativa de recuperar a árvore.
Ozanan prestou atenção em tudo o que ele falava e aprendeu que usando as mesmas as técnicas de erguer as lonas do circo era possível aumentar as chances de sobrevivência da árvore.
Dito e feito. As técnicas de amarras usadas no circo conseguiram o milagre de fixar a palmeira de buriti, mesmo em dias de vento mais forte.
Feliz por ter vencido a principal batalha, Ozanan lembrou do infeliz que fez aquilo e quis saber o que lhe passava pela cabeça. Resolveu visita-lo na prisão. Lá, frente a frente com o algoz da árvore, questionou: Por que tanta raiva com uma árvore? O camarada respondeu com olhar vidrado, típico de quem não tem a cabeça regida pelas leis deste mundo: Olhe, doutor, quantas vezes me soltarem, tantas eu vou voltar lá, até completar o serviço.
Ozanan escutou atento e tentava em vão fazê-lo desistir da ideia. Até que, lá pelas tantas, o serial killer de coqueiros sentenciou: Doutor, eu só não vou cortar aquela árvore o dia que for correto escrever “Congresso” com cê cedilhado.
Ozanan a me dedicar o seu livro. E eu, me pondo encantado, diante da natureza em forma de gente. |
Ozanan viu que o caso era perdido. E torceu para que a polícia não liberasse o sujeito tão cedo. Enquanto contava a história, acontecida nos idos dos anos 70, Ozanan sorria um sorriso de homenino. Desses, capazes de reunir inocência e maturidade no meio de um rosto marcado pela vida. E eu, ali, me pondo encantado, diante da natureza em forma de gente. Quem enxerga os seus olhos azuis não imagina a imensa floresta urbana que há por trás deles.
10 de novembro de 2013
Gatos
O tempo já faz apetecer a leitura e uma manta. Os gatos esses, enroscam-se e são fotografados pelo Miguel.
9 de novembro de 2013
7 de novembro de 2013
6 de novembro de 2013
O elevador do Lavra
Belíssimas edições, estas dos correios. Atraída por um título que acabo de percorrer, detenho-me na referência a um elevador que fez parte da minha juventude. Muito o utilizei, para aceder ao Campo dos Mártires da Pátria. Refiro-me ao elevador do Lavra, inaugurado no ano de 1884. Desconhecia a origem da toponímia. A mesma encontra explicação num carniceiro e marchante estabelecido no Campo Grande. O descendente desse comerciante, de seu nome Manuel Lopes do Lavra, tornou-se próspero cidadão, com queda para os números, tendo acabado como tesoureiro da rainha D. Francisca Isabel de Sabóia. O ascensor do Lavra foi o primeiro da cidade, desconhecendo-se o que terá conduzido a tal decisão — existiam zonas mais populosas e igualmente íngremes em Lisboa: Bairro Alto e Calçada da Glória, mais tarde contempladas com ascensores, o que tornou mais simples a vida dos lisboetas.
Fonte: Jaime Fragoso de Almeida, Elevadores, ascensores e funiculares de Portugal (adaptado)
Imagem: Luís Ferreira Alves, 'elevador do Lavra'
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