2 de fevereiro de 2010
O "JUVENIL" DO "DIÁRIO DE LISBOA"
Recorda-se de Augusto Abelaira, em 1968, dizer que o “Juvenil” era uma escola de leitores. Não de escritores.”
Por Outubro do passado ano trouxe aqui um velho anúncio do “Fósforo Ferrero”.
O pretexto mais não era que recordar o “Juvenil do “Diário de Lisboa” e o seu mentor e coordenador – Mário Castrim.
O Carlos recordou, então, que o “Juvenil” tinha sido imprescindível na sua formação, no seu gosto pelas leituras e terminava: “o “Juvenil” merecia uma tese de doutoramento…”
Outros comentários vieram vincar essa ideia, e César Ramos chegou a escrever que uma tese dessas “prestigiaria muito quem lhe dedicasse atenção”.
Mais tarde Alice Vieira, também ela coordenadora do suplemento, haveria de nos informar que já existia uma tese sobre o “Juvenil”:
“Chama-se “Suplemento Juvenil do Diário de Lisboa-Lugar de Ensaio para uma Nova Poesia Portuguesa”. É de Maria José Oliveira, actualmente jornalista do “Público”.
Desconhecia a existência da tese. Perguntou por aí, mas não encontrou respostas. Restou-lhe ir à fonte.
Maria José Oliveira, num golpe de asa, facultou-lhe uma cópia dactilografada da sua monografia sobre o “Juvenil”, feita em final de curso no ano de 1988.
Para a sua elaboração Maria José Oliveira contou com a prestimosa colaboração de Mário Castrim e Alice Vieira, Manuel Dias, coordenador do “DN Jovem”, bem como de antigos colaboradores do “Juvenil”:
“O que aqui se propõe é uma “leitura” – assumidamente subjectiva – da produção poética publicada no suplemento “Juvenil” do Diário de Lisboa. Entre 1967 e 1970, tendo por cenário a situação política e social do momento (inevitável ponto sincrónico entre a temática poética e a cronologia designada), valorizando o contributo deste suplemento para a história da imprensa periódica portuguesa.”
Maria José Oliveira reconhece algumas imperfeições, fruto de inexperiência, condições de investigação, outras circunstâncias, mas conta voltar ao tema, aprofundar o trabalho iniciado.
Estamos perante um primeiro passo – e sabe-se como são difíceis todos os começos… - na abordagem de algo que marcou, pelas mais diversas maneiras, toda uma geração, “essa corrida contra a ordem do silêncio”, para citar Hélia Correia.
Lamentar que num país, onde o analfabetismo não se encontra apenas nos que não sabem ler nem escrever, onde se publica tanto lixo, livros que de certeza ninguém leu, jamais lerá, trabalhos como este não encontrem quem os publique.
Mas Maria José Oliveira vai voltar a abordar a temática “Juvenil”.
Que se cumpra,então, o serviço público que será a sua publicação.
O Mário Castrim considerou o “Juvenil” como “a mais completa e duradoura experiência da sua vida” e foi mais longe: “talvez a minha única obra.” Sempre entendeu que estava ali mais para aprender do que para ensinar e, enquanto ia dizendo que o futuro é a adolescência do tempo, conseguiu desencadear toda uma energia que, sabemos hoje, produziu efeitos.
Aquela geração, e não só, merece que a publicação desse trabalho aconteça. Uma geração que no “Juvenil” ganhou amor à poesia, ao conto, à reportagem, à fotografia, ao desenho e, acima de tudo, aprendeu a pensar, ao mesmo tempo que sentiu que o “Juvenil” era um tiro contra o silêncio, contra a ordem imposta de desprezar e ignorar os jovens.
Quando disseram ao Mário Castrim que Marcelo Caetano considerava o “Juvenil” como uma fábrica de castrinzinhos, não foi de modas e ripostou, como tão bem o sabia fazer: “antes castrinzinhos que castradozinhos.”
Obviamente, a fábrica veio a fechar.
Mas o trabalho já estava feito. Outros que o continuassem.
O “República Juvenil” acabou, naturalmente, com o 25 de Abril, mas depois surgiu o “DN Jovem”, coordenado por Mário Dias, que, burocrática e estupidamente foi mandado para a “Internet”, quando esta ainda dava os seus primeiros passos. Os critérios editoriais, ou lá o que seja, do jornalismo português desencadeiam disparates destes: grosseiros, deploráveis.
Ele disse grosseiros e deploráveis? Queria dizer: criminosos!
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2 comentários:
apenas uma rectificação caríssimo gin,
o dias do dn chama-se manuel.
e é um amigo do peito....:)
bem vindo este texto sobre o juvenil, que também me ensinou a ler,,,
Pois é, Carlos, pois é...
No texto começa por aparecer como Manuel Dias, coordenador do "DN Jovem" no fim, bom no fim, não sabe por que artes, aparece como Mário Dias...
O Mário Dias é um velho amigo, locutor e realizador da TSF, "disc-jokey" do "Jamaica", das andanças na Associação José Afonso, também das "Cantigas de Maio".
Que (des)ligação há em tudo isto?
Se ele soubesse!...
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