22 de novembro de 2008
O NOVO-RIQUISMO NO NEGÓCIO DAS LIVRARIAS
A “Byblos”, a maior livraria do país, um espaço de 3.500 metros quadrados, tecnologias avançadíssimas, fechou as suas portas. Fazia no próximo dia 19 de Dezembro um ano que as abrira.
O fecho de uma livraria é sempre um acontecimento triste, tão triste como não haver Natal. Contudo o fechar de portas da “Byblos” sempre foi, desde o princípio, um cenário previsível. Classificado como um “projecto que raia a ficção cientifica”, no então dizer dos seus responsáveis, acabou por sucumbir encharcado numa megalomania saloia, de quem pensa que vender livros, é como vender carros Ferrari ou coisa assim parecida
Um país iletrado, um povo que prefere ver televisão a ler livros, poderia, alguma vez, suportar um projecto como a “Byblos”?
Obviamente que não e não é necessário possuir um qualquer mestrado de gestão para se chegar a uma conclusão destas. Foram investidos quatro milhões de euros e agora o seu proprietário diz: “um sonho que se tornou um pesadelo”
Mas que se poderia esperar de gente que foi sistematicamente adiando a abertura da livraria, até que fosse encontrado um buraco na agenda da então Ministra da Cultura?
Quando a pompa e a circunstância são colocadas à frente do respeito a ter pelos leitores e futuros clientes, estamos perante gente que desconhece por completo o mercado, que estavam a prometer coisas que sabiam que não iam cumprir. Ora, para isso já nos basta os governantes que vamos tendo.
Não estivessem em causa os postos de trabalho de algumas dezenas de pessoas, as dívidas a diversos fornecedores, onde se contam os editores, e neste número estão pequeníssimas editoras que podem ter em risco a sua sobrevivência, poderíamos dizer: “que se danem o dinheiro é deles!"... Mas não! A realidade, mostra que, uma vez mais, são sempre os mesmos a pagar a factura.
São assim os gestores e empresários portugueses, ligeiros no dizer que a não produtividade, o descalabro dos negócios, é, única e exclusivamente culpa dos trabalhadores, nunca deles!...
Esta gente devia ser toda presa!
Num cenário completamente diferente, Jorge Silva Melo, numa antiga crónica que titulou “Já Fechou a Livraria”, contava que uma pequena livraria abrira em Campo de Ourique, “livraria pequena, não especializada. Livraria de bairro como eu queria que as houvesse em todos”, mas que não chegou a estar aberta um ano. E interrogava-se “Por que não fui lá procurar e encomendar os contos de Edith Wharton que acabei por comprar na FNAC. Por que não fui interlocutor solidário daquela senhora que efectivamente ousou e foi vencida? Por que hei-de perdoar-me a mim? Não foi isso mesmo que eu disse àquela pequena livraria? Que não a queria? Que não me servia para nada? Que lhe prefiro a Internet e as fnacs?”
E a crónica terminava:
“Se a pequena livraria fechou, fui também eu que a fechei”.
Quando leu a crónica, lembrou-se de uma frase de Orson Welles em que ele dizia que neste tempo demoníaco das grandes superfícies, ainda havemos um dia de ter saudades do merceeiro da nossa rua. Lembrou-se também de um filme de Nora Ephron, com a Meg Ryan e o Tom Hanks, “You Got a Mail”, em que uma pequena livraria, com diversas iniciativas, onde havia competência e amor pelos livros, foi devorada por uma grande superfície, construída ao lado, também com uma livraria, mas onde a frieza, a ignorância e a incompetência faziam regra.
Por ele prefere o comércio de aproximação, o chamado comércio tradicional, comércio de bairro.O resto... são byblos!
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
5 comentários:
É pena. Comprei lá muitos livros. Um problema era o chegar lá. A solução era estacionar o carro no Centro Amoreiras. Logo ali a concorrência reduzia o número de clientes.
Bom projecto mas falta de visão para satisfazer o nosso consumismo e preguiça.
Comprei livros suficientes para já ser conhecido por alguns funcionários.
Lembrava-me a velha Livraria Barata, quando era muito pequenina e nos anos 70 e início dos anos 80, tinha quase sempre aquele livro que não se encontrava em lado nenhum.
O facto de defendermos o comércio de rua e as pequenas livrarias não significa o não se receber com apreensão este encerramento. Mesmo podendo apreender de modo mais ou menos perceptível os interesses megalómanos de quem "dá um passo maior do que a perna" ao enveredar por um projecto como este agora gorado, tudo o que se afigura com medidas em prol da leitura e do conhecimento deveria ter direito a longevidade.
(e a título pessoal, atendendo a necessidades de leitura era o local mais apetrechado, nada se lhe aproximava)
é com grande surpresa, apesar de tudo, que recebo esta noticia. nunca pensei que uma livraria com esse... "tamanho" e com tanta publicidade nao sobrevivesse um ano... nunca la entrei mas penso que não terei perdido nada de especial, pelo que ouvi não havia nada que não se encontrasse noutros lugares. percebi sobretudo uma desilusão nas pessoas por pensarem que seria uma coisa diferente, não sei se isso tera contribuido para afasta-las...
... mas lembro-me muito bem desse texto do jorge silva melo e penso muitas vezes nele quando entro em lojas de rua ;)
Eu por acaso pensei que iria fechar. Outro dia passei lá, vinda da Fnac e fiquei siderada com o vazio e silêncio.
Gostei muito do post, mas apesar de tudo, e quer se trate de uma grande ou de uma pequena livraria é uma pena.
Enviar um comentário