Imaginem o período após o Verão Quente de 75. 11 de Novembro de 1975, dia da Independência de Angola. No pátio do Liceu Nacional de D. Pedro V, às Laranjeiras, em Lisboa, um grupo de estudantes ligados ao PCP e a grupos de extrema-esquerda tenta içar a bandeira do MPLA, cantando a Internacional de punho erguido. Do outro lado, alunos conotados com o PPD e movimentos de direita fazem a saudação nazi, cantando o Hino Nacional. Ao fim de minutos de provocação mútua os dois grupos começam a arrancar o macadame do chão e a atirá-lo uns aos outros. Voam igualmente cadeiras das salas de aula. Mais tarde, o monte de cadeiras será fotografado pelo autor destas linhas, atrás de um pavilhão do Liceu. Uma pirâmide de ferros retorcidos que chega ao primeiro andar. Estudantes de um e outro grupo, durante anos, jogaram futebol e pingue-pongue uns com os outros e fizeram corridas de carrinhos em pistas desenhadas a giz. Neste momento são brandidos paus, pernas de cadeiras e cavalos-marinhos. A loucura toma conta do recreio frente às janelas do Conselho Directivo.
Três colegas introduzem-se no meio da refrega, tentando separar os dois grupos, conscientes da insanidade absoluta da violência que naquele momento ocorre. Para se protegerem das pedras e cadeiras abrem os chapéus de chuva – mais efeito psicológico que outra coisa, no caso de um projéctil voar certeiro – e empurram os beligerantes para áreas opostas.
A destruição deixa marcas. Na escola e nas pessoas. Muitas amizades terminam aqui, dando lugar a relações frias e distantes. No ano seguinte separar-se-ão, seguindo caminhos diferentes com a conclusão do Liceu, alguns, outros com outras turmas.
Os três inconscientes que se meteram no meio do barulho escapam milagrosamente incólumes. O nojo causado pela selvajaria testemunhada será marcante para os três nos anos futuros.
Não só, mas em boa parte por causa do dia 11 de Novembro de 1975, no Liceu D. Pedro V, em Lisboa, votei ontem, como sempre faço, no PS. Eu não esqueço.
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