A ópera. Combinação de música, teatro, literatura, pintura, escultura, cenografia, poesia... tudo. Provavelmente o espectáculo mais complexo que é possível criar, e o mais belo.
A terminar esta semana, a última récita do Werther, de Massenet, no S. Carlos. Ópera grande do romantismo, construída a partir de texto de Goethe com duzentos e trinta e tal anos. Do ponto de vista do argumento, algo linear: A que ama B, que está prometida e casa com C. Os avanços de A são rejeitados e A mata-se, para desgosto de B que, no fundo, ama A. Dito assim é uma desgraça. Escrito por Goethe é uma obra maior da literatura. Musicado por Massenet deu uma ópera notável. Em Lisboa assiste-se agora a uma das mais espantosas encenações operáticas que vi na minha vida, e já tenho trinta e tal anos disto no papo. Cantores muitíssimo bons e absolutamente credíveis (na Turandot apresentada em Janeiro a protagonista, supostamente uma princesa chinesa grácil e delicada, tinha o arcaboiço de um petroleiro encalhado). Orquestra do S. Carlos com um som magnífico, denso, dramático, sem dúvidas graças ao maestro mas também a muito trabalho de sapa nos últimos anos. O golpe de génio desta ópera, contudo, foi a cenografia de Graham Vick. O tipo é mesmo um génio. Atirou com a história para o início da década de 50 e a cena final, em que Werther se suicida e morre nos braços da sua Charlotte, é convertido num delírio demencial desta, cinquenta anos mais tarde (isto é, nos nossos dias) revivendo a cena da morte que viveu cinquenta anos antes. Alguns infelizes saíram do S. Carlos a resmungar contra o absurdo da transposição. A maioria saiu delirante do Teatro. Alguns, como eu, viram a ópera na semana passada e ontem foram para a bilheteira para a ver outra vez na matiné. E conseguimos.
Quarta feira 10, às 20:00, é a última récita. Todos os meios, mesmo os ilícitos, são válidos para arranjar um bilhete ou conseguir uma entrada. Foram avisados.
Sem comentários:
Enviar um comentário