Dias de roupa a secar, por são bento.
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20 de maio de 2017
13 de maio de 2017
Mar de saudade, barco imaginário
Um barco imaginário, a Baía de São Marcos, memórias do Bela Rosa e de meu avô, Opílio. |
Acordei pensando em meu avô, Opílio.
Desde antes, venho pensando nele. Há dias.Sei, não faz muito sentido. É véspera do dia das mães, não dos avôs.
Mas, que importa? O pensamento é livre. Penso nele e pronto.
Meu avô era dono de barco. Um barco que só imaginei, a partir do que me contaram. Não tive idade pra ver o mar da baía de São Marcos bater provocante em seu casco. Nem pra sentir o vento de proa soprar no rosto dos barqueiros que se metem a enfrentar o mar aberto. Cantiga de marinheiro, poema de maresia.
Mas as histórias dele, o Bela Rosa, as poucas que ouvi, me são suficientes para fazê-lo um barco encantado. Foi por um tempo desejo, diversão e ganha-pão do "seu" Opílio. Um barco de aventuras comerciais. Meu avô tinha um pequeno grupo de marinheiros comandado pelo irmão dele, Gregório Viegas.
A cada travessia trazia coisas do interior. Do continente para a ilha de São Luis.
Vinha de Alcântara, onde meu avô nasceu e se criou. Horas depois de vencer o banzeiro, aportava na Praia Grande ou no I'Bacanga. Portos de desembarque, cheiro de peixe, de frutas, de comida da terra. Gritaria colorida, fuzarca de gente simples, idas e vindas constantes que faziam as segundas parecerem domingos de festa.
Vinha de Alcântara, onde meu avô nasceu e se criou. Horas depois de vencer o banzeiro, aportava na Praia Grande ou no I'Bacanga. Portos de desembarque, cheiro de peixe, de frutas, de comida da terra. Gritaria colorida, fuzarca de gente simples, idas e vindas constantes que faziam as segundas parecerem domingos de festa.
Até um dia em que a notícia chegou primeiro que a carga, primeiro que o barco: Uma rajada de vento quebrara o mastro, deixando a nau à deriva, em alto mar.
Opílio sempre foi um homem prático. Se o mar quer levá-lo, é porque não é mais meu. Mas o convenceram a resgatar. Corda, reboque da marinha, lá se foram mar à dentro, sob o olhar atento de Gregório, o capitão.
Opílio sempre foi um homem prático. Se o mar quer levá-lo, é porque não é mais meu. Mas o convenceram a resgatar. Corda, reboque da marinha, lá se foram mar à dentro, sob o olhar atento de Gregório, o capitão.
Meu pai é quem me conta. Avistaram o barco depois de horas de navegação. Mas o reboque não tinha como chegar tão perto. Gregório amarrou uma corda na cintura e pulou no mar. Nadou contra a corrente até alcançar o Bela Rosa.
Rebocado, mastro quebrado, parado na Praia Grande sob o olhar de meu avô e seus marinheiros. Foi como uma despedida. Meu avô vendeu o que restou do Bela Rosa ao primeiro que lhe fez uma oferta.
Imagino meu avô caminhando de volta para a Madre Deus. Alpercatas de couro, calça de linho branco, camisa aberta à altura do peito, cabelo cuidadosamente alinhado, o galego aventureiro ganha a rua de São Pantaleão, entra na Rui Barbosa pensando na próxima investida. Antes de chegar em casa, passa na banca de "seu" Sanclaire. Aposta uns trocados no Galo. E espera pacientemente o fim do dia, quando viria buscar o produto de sua "fé".
Meu avô nunca perdeu uma aposta.
O "velho Lobo do Mar", Opílio Viegas, comigo.
Priscas eras. Saudade.
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