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Foto: Patrícia Leite |
A semana que parece um século chegou à sexta-feira, aqui no Brasil.
Hoje, pela primeira vez em sete dias, vesti luvas e máscara e saí de casa para abastecer a dispensa e comprar remédios.
Quando essa história começou, sete dias atrás, eu e Pat, minha companheira de vida, fizemos um estoque compatível com o tamanho do meu apartamento. Sete dias de alimento e tranqüilidade. Saio, portanto, por absoluta necessidade.
Lá fora, encontro um país mudado. A revelia de quem queira pensar o contrário. Não, o que estamos vivendo não é uma coisinha pequena. Não é passageiro. Vai impor que se repense esse jeito veloz de desejar as coisas, de querer sempre mais.
Quem poderia imaginar que, um mês atrás, entrar em um supermercado ou uma farmácia usando luvas e máscara não fosse despertar estranheza? Ainda mais, neste país tropical - até aqui - abençoado por Deus? Mais do que isso: Quem imaginaria encontrar outras pessoas fazendo o mesmo e também achar absolutamente normal?
Há uma disciplina tácita que nos mantém, a maioria dos brasileiros conscientes, a uma distância protocolar e segura de dois metros, uns dos outros. Na fila do pão, à espera do atendimento no açougue, na fila do caixa, em qualquer lugar.
Ainda não há desespero em busca de produtos. Mas as máscaras já não são mais encontradas em farmácias. Nunca foram muitas. Agora, são raridade. Antes da necessidade de usá-las no dia-a-dia, nunca me passou pela cabeça comprar máscaras hospitalares. Álcool também é produto mais difícil de encontrar. No mercado em que fui, não havia papel toalha. Sabe-se lá, por quê?
O que se sabe é que todos estão mais atentos à higienização. O que é um bom sinal quando se luta contra um inimigo invisível, como esse tal coronavírus. Na porta da padaria, um funcionário segura um aspersor com álcool, à disposição de todos que queiram higienizar as mãos, ao chegar ou ao sair do estabelecimento.
No mercado de verduras e legumes, todos os caixas estão protegidos por uma lâmina de material acrílico, de tal forma que o ar que respiramos não seja trocado entre nós (clientes e funcionários).
Mas há uma mudança que é impossível não sentir: tudo está mais caro. Seja pela escassez dos produtos, seja pelo desabastecimento, pela dificuldade de produção... ou, mesmo, pelo oportunismo de alguns. A vida está mais cara em tempos de corona.
Volto pra casa com menos dinheiro, mas abastecido. Antes de entrar no apartamento, sigo os conselhos que médicos e especialistas sugerem: retiro os chinelos e as luvas. Estas, vão direto para o lixo. Os chinelos, para o banheiro onde serão lavados. A roupa segue para a lavagem também. Por fim, um banho se encarrega de me deixar limpo, livre de qualquer vestígio de impureza externa e pronto para seguir a rotina de casa em maior segurança.
É difícil conter a intranquilidade nos olhos, toda vez que eles param na TV, ou no computador. O medo está entre nós. E vem em ondas com as notícias. O desafio é separar o que é falso e o que é verdade. São os novos tempos.
Quase no meio da tarde, recebo uma mensagem da minha professora Elvira Lobato. A mestra que me batizou de Maranhão Viegas, desde o primeiro dia de faculdade, na UNISINOS. Já lá se vão 38 anos. Nunca nos perdemos de vista e é sempre um prazer receber um sinal enviado por ela.
Hoje, despretensiosamente, me mandou um conjunto de imagens que mostrava monumentos públicos, de várias partes do mundo, protegidos com máscaras nos rostos. Como se fossem, eles mesmos, possíveis vítimas desse novo tempo. Refletiam uma inteligente forma de alertar: o mundo está sob ataque. E o uso correto de uma máscara pode salvar muitas vidas.
Pronto. Estava ali a inspiração que eu precisava para oferecer ao Repórter Brasil, telejornal da TV Brasil, do qual estou Editor-chefe, uma
crônica de sexta. Ela nasceu. E está logo aí embaixo. Assim, encerro a primeira semana de isolamento. Vida que segue.