11 de agosto de 2010

Onde vaz, Luiz?

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Quando se caminha em ar de passeio é-se despertado por detalhes. O snack bar fotografado inclui-se no conjunto de pormenores imperceptíveis, à espera de férias para se tornarem notados. Sendo a escriba do tempo em que se estudava Os Lusíadas a dividir orações (o que estragava todo o prazer do texto, não sendo certamente essa a finalidade de Camões ao ter escrito um dos mais belos poemas épicos de sempre), a descoberta do estabelecimento de restauração surgiu mais imprevisível do que fragmentos de Breton nos seus Manifestos
Caso não se tratasse de um espaço de comes e bebes relativamente recente, associá-lo-ia a um parágrafo criativo presente num teste de escola actualmente muito bem cotada e partilhado por quem leccionou em tempos de Estado Novo... Escreveu assim o inventivo estudante na sequência de uma frase a comentar sobre os desaires vividos pelo nosso príncipe dos poetas:
«Camões teve uma vida difícil, mas foi um herói. Tendo naufragado no mar da China vindo de Macau, nadou durante muito tempo com o manuscrito de Os Lusíadas na mão, para o salvar. Como nadava com a cara de lado e um olho sempre mergulhado na água salgada, a vista inflamou e foi esta a causa de cegueira parcial do poeta».
Respeitando a escolha do nome que cada um faz para os seus estabelecimentos, embora nos primórdios do Renascimento em Portugal não existisse a fast food, não se pode deixar de associar o lugar a lembranças como esta.

Título do post inspirado na criativa peça de Jaime Gralheiro, tornada espectáculo de qualidade pelo Teatro Experimental de Cascais (Teatro do Picadeiro), corria o ano da graça de 1981.

9 comentários:

Miguel Gil disse...

Gostei deste reparo:
Os Lusíadas a dividir orações (o que estragava todo o prazer do texto, não sendo certamente essa a finalidade de Camões ao ter escrito um dos mais belos poemas épicos de sempre).
Por curiosidade tive um Professor de português,Reis Brasil, que adormecia nas aulas por sistema, que considerava "Os Lusíadas" um poema lírico, dedicado à amada, a nação de Portuguesa. Tese que defendeu em alguns textos de 1970 e qualquer coisa. Análise, pelo menos, contra sistema, curiosa e plausível, penso eu.

teresa disse...

... assim subitamente, a análise desse professor afigura-se plausível, sobretudo se tivermos em conta algum do conteúdo da obra tanto tempo censurado (se bem que para além do lírico, arrisco referir que o épico tem 'mais força').

Há alguns anos tive a responsabilidade do jornal escolar e um aluno brilhante (acredito que hoje um excelente profissional) redigiu um texto para a publicação 'caseira', no qual previa o nosso (professores da sua turma) futuro. No meu caso, escrevia ele «a professora vai dedicar boa parte da sua vida à seguinte investigação 'Camões terá escrito Os Lusíadas com esferográfica ou caneta de tinta permanente?'». Sendo contra a censura, aconselhei-o a não publicar, pois nem todos os crescidos apreciam alguns reparos e receei poderem parecer ofensivos para alguns, instaurando-se um certo ambiente menos respirável, sobretudo para o jovem (já que os adultos se sabem defender). Estou certa de que o D. (hoje já adulto) se lembra daquilo que, durante dois anos lectivos, ficou limitado a uma 'private joke':)

Cheguei a divulgar por aqui um dos textos oferecidos antes de mudar 'para a escola dos mais crescidos':

http://diasquevoam.blogspot.com/2008/12/o-rio.html

Luísa disse...

Mas por que raio OS Lusíadas são usados para dividir orações??? O estúpido do meu professor de português de 10.º ano adorava não trabalhar. Enquanto não se "chateava" com a turma contava piadas, as minhas colegas iam lá para a frente fazer exposições interessantérrimas sobre "a anedota que eu aprendi ontem". Depois de se aborrecer com a boca de algum aluno (quase sempre eura eu) mandava-nos dividir orações. Foi o meu estudo d'Os LUsíadas no secundário. O resultado: fiquei sem perceber as orações (pois copiava tudo de alguém) e fiquei a odiar o Camões. Graças aos professores certos na Faculdade de letras, consegui aprender a dividir e a perceber as orações como manda a Lei da Mira Mateus et alli e consegui deixar de odiar O poeta (mas não o adoro!)
E o seu aluno colocou uma questão pertinente. Agora estou interessada, se bem que acredito que tenha sido com tinta permante, talvez uma Parker. :D

Quanto ao cantinho que nos apresenta aqui: adorei as cores. :D
E pergunto-me se os Kebabs serão mesmo bons. é que não é qualquer um que os sabe fazer....

T disse...

Eu vi esta peça. Lembro-mi só de que gostei e mais nada. Até me lembro do bilhete. De resto adoro esses camõezinhos de louça:)

teresa disse...

A Mira Mateus foi minha professora, Luísa:) Gostei dela, não sendo eu uma pessoa muito afeiçoada às 'linguísticas' (mais às 'literaturas'), com excepção para a História da Língua, isso sim, mas porque gosto de História...

Pensava que só uma geração mais antiga que a da Luísa tivesse sido castigada com essa coisa das orações... afinal a 'tortura' prolongou-se no tempo. Só gostei de Camões (até hoje) quando, no primeiro ano de ensino, me tranquei vários dias no quarto a estudar a fundo a epopeia... só aí se deu o tal 'clic' e a descoberta de um escritor fantástico!

Não provei os kebabs (nem qualquer outra das iguarias anunciadas), mas ouvi uma crítica favorável à shoarma :D

teresa disse...

E há muitos mais na loja, T, só fotografei um detalhe. Encontram-se espalhados por todo o lado.

Lembro-me de detalhes da peça, até porque a vi em 'encore', a figura do Fernão Mendes Pinto foi a eleita (os Jesuítas eram muito mal tratados, isto porque - não me canso de afirmar - a realidade não é a 'preto e branco) .

Luísa disse...

Eu tive o prazer de assistir a uma palestra com a professora Mira Mateus. E fiquei admirada com o humor dela. A piada que eu e uma colega fizemos foi: como é que uma mulher que organizou o "tijolo" (a Gramática ganhou o nome por causa do tamanho e da cor!!) consegue ser tão bem humorada?!?! Também fiquei com a impressão que gostaria muito mais de língua e que teria demorado menso tempo a "atingir" certas coisas se tivesse tido aulas com ela.
Eu também jogo no clube da Teresa: literatura e história da língua. Só que apanhei reestruturações dos cursos (ainda antes das de Bolonha) e a cadeira passou a ser semestral. No meu ano eramos (em teoria) 169 pessoas no anfiteatro I a assitir às aulas do professor Ivo Castro. Mas isso fez com que se perdesse muuuuuuuita coisa. Como é que um ano passa a encolher-se num semestre?!?!

teresa disse...

Um ano não se pode mesmo encolher num semestre, Luísa, nem que se faça o pino...

Gostei da professora Mira Mateus como pessoa, simpática e justa, mas não apreciei a matéria, para ser franca, apesar de a reconhecer como sumidade... e há tempos vi-a numa sala de teatro, tendo ficado surpreendida, parece que o tempo não passou por ela.

Miguel Gil disse...

Teresa, obrigado pela sugestão. Fui ver. O texto é uma pequena maravilha. Além de arquitectar, o D. devia voltar a escrever.