30 de dezembro de 2018

2019

Um Ano Novo com muita alegria, saúde e felicidade.
Um grande abraço a todos.
Capa da Revista ABC, 1927

27 de novembro de 2018

Que modernos, estes antigos...



Este anuário editado em 1948, pretendia mostrar o mundo intelectual português. Por curiosidade veja-se o registo de Aquilino Ribeiro. 
Anuário Artístico e Literário de Portugal, 1948, Edição da Agência UPI.

16 de novembro de 2018

Enfim

O

Outro dia mirei estas caixas e ofereceram-mas. Hoje a folhear uma revista encontro “enfim” o anúncio. Tudo se completa. Bastam dois saltos para dar a volta ao mundo. A revista e do fim dos anos 30 do século passado.

13 de novembro de 2018

Estrada Viva

Jaguatirica morta na BR 262
Forto Edemir Rodrigues - CG News
Corria o ano de 1996. Século passado, portanto. A ACT Comunicação - uma aventura comunicativa/empresarial que eu e a jornalista Ecilda Stefanello fizemos existir por doze anos e meio - era a matriz dos nossos sonhos, das nossas ousadias. E vivia nos fazendo percorrer caminhos inéditos. Num desses encontros que a vida nos presenteia, cruzamos com o biólogo Wagner Fischer. Ele buscava alguém que encarasse o desafio de transformar em documentário a pesquisa que ele fazia, quase que como um cavaleiro solitário.

Ecilda Stefanello e Maranhão Viegas
Priscas Eras (1999 - na Lujje Filmes)
Wagner registrava o número de acidentes e de mortes por atropelamento de animais na estrada mais famosa do MS, a BR 262, que corta o pantanal sul-matogrossense, entre Campo Grande e Corumbá. Nós da ACT éramos loucos o suficiente para nos jogar de cabeça em projetos provocantes como aquele. O dinheiro, como sempre, era curto. O desafio, imenso. As dificuldades, maiores ainda. 

Wagner Fischer
A ideia evoluiu. De tanta insistência. No início de 1999 caímos na estrada para começar a fazer os registros. Em agosto daquele ano o documentário estava pronto. 

O assunto era angustiante. Nós precisamos encontrar um jeito de mostrar aquela tragédia, sem causar repulsa em quem assistisse. Mas, também, sem deixar de emocionar. Pela dramaticidade das imagens. No final, os quase nove minutos do documentário, creio, cumpriram a sua missão. 

O filme ganhou dois prêmios do 1º Festival de Vídeos do Mato Grosso do Sul (Melhor Documentário e Melhor Roteiro). E ajudou a traduzir de forma mais clara a grande batalha que o Wagner travava para reduzir o impacto de uma estrada asfaltada no coração do Pantanal.


Hoje cedo, recebi uma mensagem do Wagner Fischer, me enviando o link de uma reportagem publicada, ontem, pelo NY Times sobre o assunto. (Clic no link para ler a reportagem completa).


A reportagem foi motivada pelo documentário original e pela pesquisa, que o Wagner segue tocando. O problema - que registramos lá atrás e que comoveu tanta gente naquela época - segue cada dia mais grave. Não foi o suficiente para que as autoridades ambientais tomassem alguma providência efetiva para reduzi-lo. 

Isaac de Oliveira
O documentário que fizemos no Século passado está mais atual do que nunca. A logomarca do projeto e do documentário foi feita pelo artista plástico e grande amigo, Isaac de Oliveira. A jornalista Waléria Leite é quem apresenta. As imagens, de Jair de Almeida. A edição é de Antônio Paes. O vídeografismo, de Cido Fernandes. E a produtora foi a Lujje Filmes.

Waléria Leite e a Logomarca Estrada Viva
Um orgulho saber que aquela semente deu frutos. Uma tristeza ver que nada do que dissemos e mostramos à época serviu para evitar que o problema avançasse. Uma responsabilidade: seguir lutando.



29 de outubro de 2018

Manual de sobrevivência


Há anos, carrego comigo um disco do Egberto Gismonti. Desde quando eu não fazia a menor ideia  da profundidade da música dele. Pra ser sincero, a primeira música de Egberto que me fisgou a audição foi "Palhaço".

Ainda me lembro da emoção que senti à medida que a música invadia meus ouvidos. Parecia que que um bando de crianças iria saltar da vitrola, seguido por palhaços, leões, bailarinas, mágicos e trapezistas. Um circo inteiro brotando do vinil enquanto a agulha cingia o acetato.

A paixão foi imediata. Tanto que o primeiro filme que dirigi na minha vida, durante os tempos da UNISINOS, em São Leopoldo, ainda em Super 8, chamava-se "Qualquer coisa a ver com o Paraíso". O nome fazia uma referência à música de outros dos meus ídolos musicais, Milton Nascimento e Flávio Venturini.

O filme foi rodado entre a meia-noite e as seis da manhã, na madrugada de um domingo pra segunda, na Voluntários da Pátria, coração de Porto Alegre. Era um libelo à liberdade. Uma fantasia estudantil. E a trilha sonora era a música do Egberto Gismonti. Espero um dia poder recuperar uma cópia desse filme nos arquivos do Curso de Comunicação da universidade.

A partir de então, tudo o que encontrei do Egberto, e que meu curto dinheiro permitiu comprar, comprei. Entre os discos que compõem a herança musical da minha vida há um chamado "Música de Sobrevivência". Justamente o que está tocando, neste exato momento, em minha vitrola.
Não é à toa. Aliás, nada em minha vida é à toa.
Hoje, a música de sobrevivência de Egberto Gismonti, que eu carreguei uma vida toda sem saber porquê, adquiriu sentido.



Alterando, com a licença poética que me é permitida, a frase que se escreveu um dia na bandeira de Minas Gerais, "Liberdade, ainda que à tardinha!". Música de Sobrevivência. Música para sobreviver. Palhaço.




28 de outubro de 2018

I

Imite as grandes estrelas! Em todos os actos da sua vida use o telefone.Revista Cinéfilo 1937

8 de outubro de 2018

A utopia me move



Corro com o sol a pino.
Porque esse dia foi de amargar.

Sigo correndo, 
não me esperem parado.
Muito menos, calado.

A poesia será, 
enquanto eu existir,
a minha melhor arma.

A utopia me move.

6 de outubro de 2018

Tempos de glória, tempos de fome

Cena do filme "A idade do Fogo". 
A história sempre se moveu em torno de uma mesa – ou de algo que remetesse a ela. Desde que o primeiro humanoide sentiu fome. Desde sempre, pois. Em Brasília, não é diferente. À mesa, rica ou pobre, alimentam-se os visionários, os abastados, os poetas, os desvalidos.

Há pouco, abri o écran, na volta do almoço. Plaft! Surge na tela a notícia. “Justiça determina o despejo imediato do Piantella.” O Piantella foi, durante um bom tempo, o restaurante que matava a fome e dava status aos poderosos do Planalto Central. Foi como um dardo na minha memória gustativa. Não que eu o frequentasse ou que ele fizesse parte dos meus hábitos. Não. Aliás, estive lá umas poucas vezes, na modesta condição de convidado. 

Mas a notícia doeu na minha memória. Guardadas as proporções, foi como se soubesse do despejo da Pastelaria Viçosa, da Rodoviária do Plano. Ou, um pouco mais intelectual, se aproximou à dor que senti quando o Mercado Municipal (sim, Brasília teve um Mercado Municipal) foi fechado. Neste caso, por conta da morte do seu criador, Jorjão. 

Priscas eras: Ulysses rodeado de políticos de diferentes naipes, à mesma mesa.
Matando a fome no Piantella e deixando o ódio de lado. 
Sinal dos tempos. No Piantella as oposições sentavam-se à mesa e decidiam muitas das questões capitais da Capital do Brasil. Ulysses sorveu alguns bons goles de poire, sua aguardente preferida, extraída da pêra. Eram tempos outros. Temperados com uma política mais delicada do que a que se pratica hoje. Menos embrutecida, menos à flor da pele. Menos odiosa.

a aguardente de pêra.
Sinal dos tempos. O despejo do Piantella acontece justo nesses dias sombrios, véspera de eleição. Uma eleição em que nos servem um cardápio vencido, comida podre, indigesta. Um soco no estômago do qual, qualquer que seja o resultado, iremos à lona. E a história segue sendo resolvida em torno de uma mesa. 

PS:. Algumas informações importantes para tornar o texto mais compreensível aos leitores da Pátria avó. 

O Piantella foi um restaurante que marcou época em Brasília. Nos intervalos das sessões no Congresso Nacional, durante muitos anos, entre as décadas de 80 e 90, era lá que alguns dos principais políticos brasileiros matavam a fome. E aproveitavam estes momentos para resolver questões que nem sempre conseguiam resolver no plenário. Ulysses Guimarães, o "Senhor Constituinte", sobre quem já falei aqui neste espaço, era assíduo frequentador. Tinha mesa cativa. 

A atual crise brasileira alcança  a todos (exceto, os muito ricos - estes nunca são alcançados por nada). E ver fechar locais de grande significância no cotidiano da cidade tem sido algo comum. 

Por fim, a eleição presidencial brasileira será definida em dois turnos. O primeiro deles acontece no próximo domingo. Dois candidatos lideram a corrida eleitoral. Um deles foi escolhido pelo ex-presidente Lula, que está preso, acusado de corrupção. O outro, um ex-capitão do exército, machista, preconceituoso, que sofreu um atentado a faca em Uberlândia, MG e faz campanha pela internet para evitar os embates reais. O vice dele, um general da reserva, já disse que, se for preciso, fará uma nova constituição sem a participação do Congresso e do povo. Só com "notáveis". O capitão lidera as intenções de voto. Cumulus Nimbus se formam no horizonte da primavera brasileira. O Brasil está dividido pelo ódio. O verão se faz cada dia mais distante.  

7 de setembro de 2018

Um conto

"A estranha ressonância do nome de alma" de Maria Judite Carvalho
Revista Eva, 1965

5 de setembro de 2018

José Cardoso Pires

"Andar fardado de escritor é tão ridículo como andar fardado de beatnik"
José Cardoso Pires em 1964
Revista Eva.

31 de agosto de 2018

Ao Ar Livre

"Que quere jogar?"
Jogos ao Ar Livre
Almanaque Lello 1929

"Uma alegria com razões tem o limite das razões"

"Uma alegria com razões tem o limite das razões"
Virgílio Ferreira, na revista EVA de 1960 | "Qual foi o presente de Natal que mais desejou na infância? "

25 de agosto de 2018

No rastro da poesia, no Caminho de Cora





Sabe menino novo? Que fica olhando pro relógio na noite de natal? Que vai e volta da porta do quintal, e olha pra cima pra ver se o dia acabou? Se o céu já está estrelado? Assim. Bem assim estou hoje. É dia de "Caminhos da Reportagem" na TV Brasil. E é a estreia de "No rastro da Poesia. No Caminho de Cora."

Tô que não me contenho.
Dá meia-noite e não dá 21:45.

Agora, nesse exato momento, me vem à memória o dia em que li pela primeira vez sobre o Caminho de Cora. Foi no final de março, início de abril deste ano. Naquela hora, me subiu um calor pelo corpo. Pensei comigo: E se eu criasse coragem para fazer a reportagem sobre esse caminho? Me enchi de força e fui. Atravessei a redação, bati na porta da chefe e pedi preferência. Se um dia decidirem fazer um “Caminhos da Reportagem” sobre o Caminho de Cora, eu sou candidato a fazer.

Dois meses depois fui chamado pra uma reunião e a notícia veio de supetão: Você vai fazer o Caminho de Cora. Mas tem que ser no começo de junho, antes das suas férias. Ai, foi quando deu aquele frio na barriga. Sabe como? Aquele frio que encolhe o estômago da gente. Que faz parecer o chão faltar. Ok. Eu desejei. Ele veio. Agora... é fazer.

A literatura de Cora passou a frequentar minhas noites. O caminho de Cora, os meus dias. Assisti gravações antigas em que Cora fala da vida dela. Vi documentários novos, contando sua história sob o prisma da emoção de quem não ficou parada, nem respeitou os limites impostos pelo tempo. Uma caminhante. Uma peregrina. Uma aventureira incansável.

Aumentei o ritmo das minhas corridas para aguentar o tranco do caminho. Comprei botas especiais para suportar a caminhada. Tá certo, eu só percorreria alguns trechos dos 300 quilômetros do caminho. Não haveria tempo de fazê-lo todo, nos cinco dias destinados à produção do material. Mas eu sabia que caminharia muito.

De carro, fizemos cinco vezes a medida do percurso. 1.500 quilômetros no total. Subimos morro, enfrentamos estradas de terra, mato, pó e sol a pino. E descobrimos vida interiorana e poesia, muita poesia, espalhada pelo caminho. Não só as poesias de Cora (cuidadosamente postas em lugares estratégicos), que renovam a energia dos caminhantes cada vez que o cansaço se manifesta.

No caminho de Cora, a vida é um pouco poesia. Basta permitir o olhar. Basta querer enxergar. Basta não ter pressa e ter calma.

Hoje, minha ansiedade é outra. Daqui a algumas horas vai ao ar, em rede nacional, pela TV Brasil, o resultado do trabalho de uma equipe briosa, - "chiquitita, pero cumplidora" como se costuma dizer nos pampas - que forma o Núcleo de Programas Especiais. Onde são pensados, planejados, gestados e paridos alguns dos melhores produtos desta TV, entre os quais a série "Caminhos da Reportagem".

Quase não acredito na distância do tempo, entre aquela primeira leitura despretensiosa, que me informava sobre a existência do Caminho de Cora Coralina, e o quase agora da exibição do programa. Eu o vi na ilha. E me emocionei muito.

Espero que a minha emoção se traduza, também, aos olhos de quem o veja na TV. E que a emoção se espalhe numa medida boa. Na dose certa de poesia que salva o dia. Como a simplicidade do "seo" Quinzinho. Como a singeleza da TiaTó. Como a firmeza dos peregrinos Mário e Marina. Como a coragem das “Mulheres Coralinas”, da Ebe.

Enfim, o menino que me habita corre feliz em direção ao seu "presente", que chega já. No rastro da poesia. No Caminho de Cora Coralina.

Meus agradecimentos à equipe que não mediu esforços para colocar esse projeto de pé: Mariana Fabre, Sigmar Gonçalves, Hugo Madureira, Isaias Cipriano, André Pacheco, Rogério Verçoza, Dailton Matos, Edivan Viana, Suzana Guimarães, Julia Costa e Henrique Correa. E, por uma questão de justiça, agradeço também a todos os que, em alguma medida, contribuíram com a feitura deste sonho real. 

Mariana Fabre e Sigmar Gonçalves, os pulmões do Caminho de Cora. 

Henrique Correa, Cintia Vargas e Suzana Guimarães.
O coração do Caminho de Cora.  

Um agradecimento especial a Cintia Vargas, Ana Passos, Patrícia Paiva e Adriana Motta, que enfrentam os leões desse nosso tempo agudo e dão o norte da nossa jornada diária. E o meu sincero reconhecimento à TV Brasil, que me deu a oportunidade impar de juntar poesia e jornalismo - uma fórmula que não me sai da cabeça. Nunca.

Serviço:
"Caminhos da Reportagem"
No rastro da poesia. No Caminho de Cora
Quinta-feira - 23.08.2018 - 21h45
Reapresentação: Domingo 26.08.2018 - 20h00 
TV Brasil 






O vídeo completo está ai embaixo. Desfrute!!

21 de agosto de 2018

14 de agosto de 2018

26 de janeiro de 2018

O lixo imaginário e o amor real

Deoclides e Valdineide - luxo real sobre o lixo do mundo.
Foto: arquivo pessoal facebook
A grande notícia era o fechamento do maior depósito de lixo a céu aberto da America Latina, que fica em Brasília, há pouco mais de dezoito quilômetros da  Praça dos Três Poderes. Mas uma história de amor roubou a cena. Pelo ineditismo. Pelo vigor. Pela capacidade do ser humano de transformar o lixo do mundo em luxo pessoal.

Valdineide, catadora de lixo reciclável que, há vinte anos, tira do "Lixão da Estrutural" o sustento da vida, conheceu e apaixonou-se por Deoclides, outro catador que também encontrou ali uma forma de levar a vida com dignidade. Vinte e quatro anos de idade distanciam o nascimento dela para o dele. Mas isso não se traduz em obstáculo para o amor.

Ela não teve dúvida quando o viu. Queria namorar com ele. Tomou a iniciativa, que foi bem aceita. O amor se consolidou em um ano. E às vésperas do fechamento definitivo do lixão, ela decidiu que queria casar bem ali.


O resto da história a vida se encarregará de contar. Mas o início de tudo está bem ai, no pouco que a crônica de sexta, feita para o Repórter DF, da TV Brasil, consegue retratar. Que a coragem e a alegria de viver acompanhem estes dois. Eles já deram mostra do que são capazes.