14 de agosto de 2009
O anis escarchado
A grande diferença entre o pastis marselhês e o anis português, à parte o paladar, a textura, a cor, o preço e a qualidade, é o raminho de anis dentro do português.
Infelizmente, é raro ver-se a mocidade deste país entrar num bar e pedir «um anis escarchado, se faz favor». A quantidade de licores e outras destilações nacionais é tão grande quanto a imaginação dos cidadãos é pequena. «Escarchado» quer dizer «crespo, áspero», dizendo-se do anis obtido pela infusão em aguardente, dentro de uma garrafa, de um ramo aromático de anis sobre o qual vem cristalizar-se o açúcar (a «escarcha»), em virtude de um excesso de adoçamento (dixit Artur Bívar no seu magnífico Dicionário Geral e Analógico da Língua Portuguesa).
O creme de anis da firma Henriques & Henriques (lema: «Bem Servir») é um dos mais apreciados – sobretudo (imagina-se) nos círculos tauromáquicos tradicionais, que vêem no rótulo uma garantia da pureza ideológica do produto. O toureiro português que enfrenta o touro segura a capa de modo simultaneamente curioso e destemido, enquanto o animal avança, seguro de que não o espera qualquer traiçoeira espada assassina.
Cada garrafa tem um litro e custa aproximadamente 287$50.
Miguel Esteves Cardoso, A Causa das Coisas
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3 comentários:
Associo esta bebida ás barraquinhas de tiros das feiras.
Quando a garrafa de aniz acabava, enchia-se com aguqrdente de bagaço. Ficava uma bebida nem agreste, nem doce. O avô andava sempre a olhar o fim da garrafa. Achava o aniz muito enjoativo mas com bagaço marchava bem. O bagaço vendia-se a granel na Cova Funda da rua. Já não está lá e o bagaço é. hoje em dia, vendido apenas engarrafado, caro e de má qualidade...
Lembro-me desse 'truque' do bagaço, o meu pai também o utilizava e o anis é verdadeiramente enjoativo, ao contrário de outras bebidas com o mesmo sabor, mas quase sem açúcar.
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