5 de agosto de 2009

AINDA HÁ ESTRELAS NO CÉU

Image and video hosting by TinyPic

Quando Marilyn Monroe morreu, tinha ele 17 anos.
Súbita e violentamente leu a notícia na 1ª página de “O Século”, numa esplanada de praia na Trafaria. Tinha do cinema a ideia daquela feira de luzes e espantos, captada na plateia de pau do “Cine-Oriente”. Os filmes eram com e não de, e Marilyn, doce Marilyn, outras mais, constituíam as paixões platónicas, os anos da inocência, o bater mais apressado do coração. "Quero permanecer apenas na fantasia do homem comum.” Só muitos anos depois iria apreciar os dotes de artista daquela loira burra, como então muitos lhe chamavam.
O cinema é um mundo enorme de gente, um todo em que não se consegue saber onde está a ponta do novelo. Mas que seria o cinema sem Marilyn Monroe?
Foi em 5 de Agosto de 1962, “uma noite ao deitar-se quando se sentiu sozinha
ou suspeitou que tinha errado a vida”, para citar o belíssimo poema de Ruy Belo sobre a morte de Marilyn, um telefone que tocou em busca de ajuda, que alguém ouviu, sabia quem era, mas não quis atender.
Meses antes cantara para John Kennedy “Happy Birthday Mr. President”. Nem precisa de olhar a fotografia para reconstituir a performance daquela noite, a apresentação feita por Peter Lawford, depois o sussurro mais sensual de que há memória num “happy birthday”, aquela silhueta na noite, aquele vestido cingido ao corpo, que em Outubro de 1999, foi vendido por 1,26 milhões de dólares num leilão da “Christie’s”. Provavelmente terá sido aí que se começou a desenhar, “o suicídio organizado” de Marilyn Monroe e que culminaria na descoberta do seu corpo deitado na cama, a mão a apertar o auscultador do telefone, a tal chamada que alguém não quis atender.
“Sou a mulher mais bonita do mundo mas não tenho ninguém com quem sair este fim-de-semana”, confidenciou a alguém
Dez anos de carreira, doze filmes, todos eles memoráveis, inesquecíveis. Fica por saber, não fora a morte brutal, até onde teria chegado Marilyn.
Billy Wilder, esse cínico genial e maravilhoso realizador, disse que “Deus deu-lhe tudo” e que Marilyn “poderia fazer o que quisesse em cinema.”
Vinicius de Morais que ela “foi um dos seres mais lindos que já nasceram” e se há quem disso possa falar, Vinicius estava completamente à vontade.
Irving Berlin confessou um dia que Marilyn Monroe foi a melhor intérprete das canções que compôs.
O actor Robert Mitchum comentou: “Ela assemelha-se a uma criança perdida”, uma doce criança perdida, uma fragilidade intensa e genuína.
“A criança feita mulher, abandonada nas linhas paralelas da passagem de nível sem guarda (as duas linhas de todas as mais paralelas e as mais negras), sem que o medo a deixasse fugir e sem nós conseguirmos gritar-lhe (como nos pesadelos) que se afastasse. Todo o tempo dela foi tempo da morte a vir”, como escreveu João Bénard da Costa nos 40 anos da morte de Marilyn.

“A minha cabeça vai estoirar.
Os comprimidos não fazem efeito.
Já não sei o texto. A tristeza afoga-me.
Não há ninguém com quem se possa falar.
Daqui a pouco tenho de sorrir.
Sorrir é uma das coisas que faço bem.
Consigo até sorrir com os olhos.
Poucas pessoas conseguem sorrir assim”

Marilyn Monroe morreu há 47 anos.
Suicídio? Assassínio?
Sabe-se apenas que a sua morte é “uma história mal contada”, tal como leu numa crónica do Eduardo Guerra Carneiro – “Ainda há estrelas no céu”.

1 comentário:

Gin-tonic disse...

A fotografia de Marilyn Monroe que ilustra o texto, é da autoria de
Elliot Erwitt