26 de dezembro de 2008
Memórias de África
Chegada ao aeroporto da grande cidade no início de 80. Calor, humidade e um aroma forte ainda hoje permanecem na memória. Lembrei a frase um dia ouvida: “todos os países têm um cheiro próprio”. Na bagagem livros, muitos livros (todos com o peso assinalado a lápis) - quem seguia na qualidade de cooperante podia dar-se a esses excessos.Após longa burocracia na alfândega, com direito a mirar e remirar o passaporte e a perguntas quanto ao que transportávamos, fizeram uma sinalefa indecifrável a giz nas malas enormes, dando-se por terminada a fiscalização. À saída do aeroporto, sentadas no chão, mulheres sem idade, amamentando filhos ou netos, vim a saber tratar-se de tradição local, dado ser-se mãe ainda na adolescência. As proles são numerosas, pois pensa-se que tendo muitos filhos não faltará quem preste cuidados na velhice.
Conduzidos a um moderno bloco de apartamentos onde alguns iriam ficar a aguardar viagem rumo a outras terras, reparei que o mesmo se situava no meio de um musseque - porcos e galinhas corriam em liberdade por entre charcos enlameados - era o tempo das primeiras chuvas tropicais.
Mobília moderna, escandinava, electrodomésticos por estrear. O interior era mais sofisticado do que na pequena casa de aldeia – curiosamente denominada vila - onde habitávamos, agora abandonada por não se justificar o pagamento de uma renda. No entanto, não corria uma gota de água nas torneiras e faltava o gás para se poder acender o fogão. Como seriam os dias seguintes?
Pela noite escura, ouvindo tiros, interrogava-me se esta nova aventura nos permitiria regressarmos daí a pouco mais de um ano sãos e salvos de regresso a Lisboa. Ouvindo agitado tiroteio na noite, poderíamos ser participantes de um filme de gangsters… por mais que se tentasse, imperava o receio de não revermos a terra-mãe. Interrogava-me ainda sobre os alunos que iria encontrar a muitos quilómetros dali, enquanto procurava alegrar-me tentando descobrir, na manhã seguinte, o alegre vermelho das acácias.
Desde o primeiro momento entendi que o céu de Portugal tinha um azul que o tornava único .
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