
Vejo ópera desde a adolescência e acostumei-me a ir avaliando a qualidade das produções a que assisto. Pinamonti foi uma janela aberta, que nos pôs a ver e a fazer do melhor que se faz em qualquer parte do mundo. Não é este o espaço para enumerar o que foi feito – outros o fizeram já de modo competente e claro. Limito-me a recordar momentos que não esquecerei. Dos mais recentes, um Werther (Massenet) extraordinário que me fez comprar outro bilhete para a matiné de domingo após ver essa produção numa quinta feira; jóias como uma Ariadne auf Naxos (Richard Strauss), ou uma Charodeika (Tchaikovsky) menos representadas; um Orfeu e Eurídice (Gluck) em primorosa versão de concerto; voos arrojados na música contemporânea como o incrível Neither (Morton Feldman) ou, ainda este ano, um Wozzeck (Alban Berg) superior no CCB. Isto, claro, sem falar dessa revolução que nasceu o ano passado e se está a desenvolver com a força de um ciclone – a Tetralogia do Anel de Wagner, encenada por Graham Vick, que tornou o TNSC numa referência mundial, e à qual mesmo críticos mais exigentes reconhecem mérito apesar dos riscos e pontos fracos. Na próxima quarta feira estreia Motezuma, de Vivaldi. É “apenas” a estreia moderna de uma peça perdida até há pouco tempo. Estreia mundial. De um dos maiores compositores da história. Cá.
Paolo Pinamonti, obrigado. Volte sempre. Enquanto existir um melómano em Portugal este país será também seu.