1 de outubro de 2005

D'aquém-mar

Eu sou de idas e vindas, mas tem um porquê: é que esse mar é muito grande. Imaginem o que é vir aqui, voltar pro Brasil, depois vir aqui de novo, depois voltar... haja natação. E a gente perde-se no mar: de uma vez que vinha eu nadando a Portugal, confundi-me com as estrelas e fui parar na África. Gentilmente me apontaram o norte e disseram: "é para lá". Ufa. (Mas a propósito me informaram coisas sobre a Casa dos Estudantes do Império, sobre o Pepetela e o Agostinho Neto, me ensinaram umas tantas palavras de kimbundo - a minha favorita é xinjanguila.)

Onde eu estava? Sim, no meio do mar. Retiveram-me no Brasil muitas coisas, na verdade. Antero de Quental e Eça de Queirós foram duas delas: tive que fazer uma monografia sobre Eça, e logo do livro mais difícil, A ilustre Casa de Ramires; e tive que ler muito Antero, o que é, admitam, muito difícil, ainda mais para um ateu, como eu. Reteve-me outra monografia, esta sobre a revista Orfeu, que me divertiu bem mais: Almada Negreiros é, como dizemos lá, do balacobaco.

E reteve-me ainda a constatação de que o Lula é ladrão. De que o Zé Dirceu é ladrão. De que o PT, no cimo, é todo feito de ladrões. Ladrões trotskistas, parece, que falam em "a nossa moral e a deles". A deles é a minha e a do resto do povo, bem se entende. Uma confusão dos diabos, e vejam que surgiu um deputado, Roberto Jefferson (o descendente pobre, feio e corrompido do Thomas), que começou a cantar músicas italianas enquanto, com seu ar de cardeal quinhentista, fazia denúncias, denúncias, denúncias. Fiquei paralisado.

E paralisado ia ficando quando ouvi o apito da Teresa. "Vem já aqui, Orlando!" Suspirei, atirei-me ao mar e, muito nado depois, cheguei.

Olá a todos.

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